terça-feira, 6 de julho de 2010

O EVANGELHO E O SONHO PEQUENO-BURGUÊS


Para compreendermos adequadamente o termo "burguês" é necessário investigarmos as raízes históricas do surgimento da burguesia, na transição da Idade Média para a Idade Moderna.

A economia medieval, baseada no feudalismo (onde as grandes extensões de terra, chamadas de feudos, estavam concentradas nas mãos de poucos proprietários pertencentes à nobreza -  os senhores feudais, sendo cultivadas por camponeses a seu serviço - os servos) gerou uma sociedade rigidamente estratificada, dividida em três classes: havia a nobreza, que detinha o poder político e econômico, o clero e os camponeses, a força de trabalho que sustentava o sistema. Tal segmentação social ainda era uma realidade no século XVIII, na França pré-revolução.

Naquele tempo, a Igreja cria que tal ordem social refletia a ordem celestial.

E o que acontecia com aqueles que não se enquadravam em uma três das categorias, não sendo nem donos de terras, trabalhadores da terra ou membros do clero?

Ficavam à margem da sociedade: era o caso dos artesãos, comerciantes e outros tipos de profissionais que não se enquadravam em uma sociedade rural. As pequenas cidades da época, local onde eles viviam, chamavam-se burgos.

As mudanças econômicas que urbanizaram a Europa, trazendo para o centro o comércio e a manufatura (futuramente, industrialização) de produtos como meio de produção de riqueza, criaram novas elites, possuidoras do know-how e dos meios de produção valorizados nos novos tempos. Os burgueses chegavam assim ao topo da pirâmide social.

Logo, devemos entender que o termo “burguesia” está relacionado aos processos históricos de luta por inclusão e ascensão social de pessoas marginalizadas pela sociedade.

Nem todos puderam constituir a elite burguesa, mas muitos desejavam, como os burgueses, obter para si a sua medida de sucesso econômico e social, distanciando-se da rígida imobilidade social da Idade Média: embora não tenham o capital dos burgueses, compartilham de seus ideais – são pequenos burgueses. Enquanto os burgueses constituíram a elite da nova sociedade, os pequenos burgueses formaram a classe média.

Muitos brasileiros sonham como os pequenos burgueses. Desejam ascender de sua situação de pobreza (muitas vezes, de miséria) e alcançara sua medida de bem-estar financeiro e social na vida: adquirir a casa própria, um emprego estável, constituir família, o carrinho para os passeios de fim-de-semana...

E muitos buscam em Deus esta vida melhor.

Muitos pastores há que, com medo dos malefícios causados pelos adeptos da Teologia da Prosperidade (que contribuiu para a formação de cristãos materialistas, com a mentalidade de consumidores, invertendo as prioridades espirituais que o Evangelho apresenta) fazem duras críticas àquilo que chamam de “mentalidade pequeno-burguesa” da cristandade brasileira, onde as grandes causas que a Bíblia apresenta são consideradas como secundárias diante do sucesso individual.

É nesse ponto que faço minha crítica:

Concordo que a Teologia da Prosperidade, em todos seus aspectos nocivos, deva ser combatida.

Também concordo em que é muito fácil que desviemos nosso foco de Deus para nós mesmos ou que invertamos Suas prioridades para nossas vidas.

Mas considero que seja anti-bíblico afirmar que uma pessoa não possa buscar a Deus suas bênção do Senhor para sua vida como um todo, em todas suas áreas.

Considero que seja anti-bíblico afirmar que Deus se importe apenas com os aspectos “espirituais” da existência humana, como se fosse possível dicotomizar de forma tão simplista a questão.

Considero que seja anti-bíblico afirmar que Deus não se importe o não se interesse pelas causas que seus fiéis lhe apresentem.

Devemos entender que o sonho pequeno-burguês de todo brasileiro, longe de ser apenas uma egoísta questão de melhoria individual de vida, é uma questão de justiça social!

Nesse sentido, o sonho pequeno-burguês cabe dentro do Evangelho, porque a manifestação final do Reino de Deus construirá uma sociedade sem exclusão, onde todos poderão ter sua justa medida de felicidade e usufruto de todas as boas coisas.

Então, sirva a Deus com alegria, ciente de que Ele se importa com você.

Não tenha medo de buscar Suas bênçãos com fé - fé que aceita o tempo e maneira de como Deus, em Sua sabedoria, disporá Suas bênçãos a você.

E, acima de tudo, sabendo que os sonhos de seu coração encontram sua expressão mais profunda no coração de Deus, e que Ele, ao manifestar Seu Reino, na etapa final da história humana, manifestará também Sua justiça.

E então os nossos sonhos e os sonhos de Deus serão cumpridos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário