segunda-feira, 19 de julho de 2010

DEUS NÃO É SEGURO

Boa parte das pessoas que se afastam do Evangelho apresentam algum tipo de decepção com Deus como motivo: desemprego, uma desilusão amorosa, problemas de saúde, a perda de um ente querido, tragédias na família. Não conseguem superar tais experiências porque crêem que, por serem pessoas de fé, não haveriam de passar por isso - e quando tal conceito não se sustenta, deixam o Evangelho.

Tais pessoas crêem que a fé significa imunidade diante da vida.

Creio que um dos motivos que explicam esta realidade foi a formação doutrinária dada a estas pessoas: ao tomarem contato com a fé cristã, foram apresentadas a uma visão triunfalista da vida cristã. Um Evangelho de bravatas.

Outra possível razão seria a idealização fantasiosa da vida cristã, exigindo de Deus promessas que Ele nunca fez.

Existe ainda uma outra contrapartida triste: há pessoas que crêem realmente que o Evangelho lhes garantia tal "imunidade", mas não a desfrutaram porque não possuíam fé suficiente. Consideram que elas, não o Evangelho, foi o problema - e, além de se afastarem do cristianismo, vivem imersas em culpa e remorso.

Posso ainda mencionar que muitas pessoas também não conseguem perceber a tensão que é apresentada pelo Evangelho quanto à experiência cristã: apesar de experimentar a salvação, o fiel a vivencia dentro da História, ou seja, a experiência individual de salvação ocorre dentro de um mundo ainda não-redimido: por isso sofremos. Somente a eternidade trará a consumação plena da salvação, tanto para o mundo quanto para o indivíduo.

A fé de tais pessoas pode reviver, através de aconselhamento e instrução bíblica acerca da natureza da vida cristã.

Mas creio que a questão é mais visceral:  todos temos a tendência de nos sentirmos traídos por Deus ao passar por momentos difíceis. Para nós, a perfeita expressão do amor de Deus é a de um grande Corretor de Seguros cósmico.

Porém, seguir a Cristo não é garantia de segurança. Aliás, o Evangelho é ESSENCIALMENTE perigoso, por ser um convite a deixarmos nossa zona de conforto de autonomia individual, permitindo que Deus remodele nossa vida. 
Isto é o que torna, o Evangelho, em essência, subversivo: a radicalidade existencial do ato de crer.

E o próprio ato de crer reorienta nossa percepção do sofrimento, pois a essência da fé é repousar a confiança sobre o ser de Deus e Seu caráter, de amor leal e constante.

E assim é possível entender que o amor de Deus para conosco não é expresso pelas circunstâncias que passamos, mas principalmente pela Sua presença conosco em meio a todos os momentos da vida - seja para melhor apreciarmos os bons momentos, seja para superarmos as adversidades.

Isto é simplesmente o teste que a História nos impõe à fé. 

Deus prometeu-nos um final feliz, mas não prometeu que eliminaria a jornada até o mesmo.

Foi a lição de fé que Jó nos deixou: fé é saber que Deus sempre é confiável.

Mesmo quando dói.

Mesmo quando é inexplicável.

Afinal, o ato de crer é alimentado pelo próprio Deus, através de Sua auto-revelação em Sua Palavra. O problema são nossos conceitos sobre Deus que, muitas vezes, são um verdadeiro impecilho à fé.

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