quinta-feira, 21 de maio de 2009

QUEM É VOCÊ? 3 POSTURAS DIANTE DA VIDA


Existem pressupostos que compõem posturas diante da vida que são incompatíveis com o cristianismo.


Sendo assim, gostaria de fazer uma crítica das posturas conhecidas como otimismo e pessimismo, abordando a inadequação de seus pressupostos e sua total discrepância com a cosmovisão cristã - embora, para alguns, o otimismo e o pessimismo possuam compatibilidade com a fé cristã.


Encarar a vida a partir de uma perspectiva otimista significa sujeitá-la ao fatalismo do "tudo vai dar certo". Realmente, este tipo de leitura da realidade é "fatal" em sacrificar todo tipo de racionalidade: por não apontar os meios pelos quais se possa esperar que tudo dê certo, por não definir o conceito de certo e nem tampouco dizer para quem as coisas estarão certas!


O otimista deve possuir uma base que justifique sua crença infundada. Geralmente o nome que esta esperança recebe é "pensamento positivo", ou seja: considerar como real ou, pelo menos, inculcar a idéia de que se tornarão reais os conceitos de minha mente - não importa quão desvairados os descabidos possam ser!


Precisamente neste ponto reside o maior perigo do otimismo, pois comumente se confunde pensamento positivo com fé. A fé cristã não é fundamentada em pensamentos humanos (mesmo pensamentos “religiosos” humanos), mas confiança e esperança depositadas em Deus.


A postura de vida otimista não é uma alternativa viável para o cristão por ser mais uma forma de promover a idolatria do eu.

Já o pessimismo deve ser rejeitado por ser uma tentativa de enxergar a História como pronta e acabada. Tira de Deus a prerrogativa de conduzir o curso dos fatos, confiando em conclusões limitadas sobre a vida e sobre o tempo. A visão do pessimista rouba de Deus Sua soberania, vedando-Lhe o acesso à realidade, não admitindo a possibilidade do milagre e nem tampouco da ação responsável dos homens.

Formas "piedosas" de pessimismo são as manifestações radicais e letárgicas de ascetismo, que não consegue enxergar a possibilidade de promover o maior bem possível neste mundo durante o intervalo entre a Primeira e Segunda Vinda de Cristo como um dos elementos que confere urgência à missão cristã, desenvolvendo um cristianismo apático, insensível e isolado em si mesmo.

O otimismo é a alienação em torno do sim; o pessimismo faz o mesmo em torno do não.

A proposta da fé diferencia-se tanto do otimismo quanto do pessimismo por ter Deus como fundamento – em Seu caráter, em Sua veracidade, em Suas promessas. “O justo viverá pela fé” (Romanos 1.17; Hebreus 10.38) não é a descrição de um otimista, mas de alguém que caminha nesta vida confessando sua total dependência de Deus, produzindo em obediência para glória de Seu nome e repousando em Suas promessas, certo da santidade do caráter de quem tem crido (2 Timóteo 1.12), exposta de forma suprema na oferta de Jesus a favor de sua vida (Romanos 5.8; compare com Gálatas 2.20). A fé sabe esperar em Deus e reconhece que Ele trabalha (muitas vezes misteriosamente) a favor dos que nEle esperam (Isaías 64.4), sabendo enxergar além dos revezes imediatos da vida e olhar o futuro, sej qual for, com confiança.

A fé, por ter Deus como fundamento, sustenta o ser tanto diante do sim como do não.

E quanto à terceira postura? Bem, à luz da vida e dos fatos, diante da inadequação do otimismo e do pessimismo, só posso concluir concluir que a vida de fé é a única maneira de ter uma postura de vida adequada, ou seja, REALISTA.

domingo, 17 de maio de 2009

O MEDO COMO CAMINHO PARA O LADO SOMBRIO


Foi no episódio I em que Yoda, ao examinar o pequeno aspirante a jedi Anakin Skywalker, afirmou com seu palavreado característico:

Medo caminho é para o lado sombrio.
Medo leva à raiva; raiva leva ao ódio, e ódio leva ao sofrimento.
Sinto medo muito em você.

Quem assistiu os demais episódios da hexalogia Star Wars pôde acompanhar como o guerreiro jedi corrompeu-se, transformando-se no tirano e assassino Darth Vader.

Um conceito muito interessante que nos ajuda a lançar um novo olhar sobre a trágica história do personagem criado por George Lucas (trazendo também algumas lições para nossas vidas) é o conceito de desapego.

Nascido como escravo, desde cedo Anakin Skywalker conviveu com o sentimento de privação: a falta de liberdade na infância e a morte trágica da mãe o levaram a desenvolver um senso de justiça feroz, mesclado com o desejo de vingança.

Este histórico tornou intolerável ao jovem jedi a idéia de sofrer outras percas. Estes traumas, aliados à excessiva autoconfiança em seus dons o tornaram presa fácil à sedução do lado sombrio.

Os antigos filósofos estóicos entendiam que a imperturbabilidade é a virtude principal a ser buscada: o homem sábio, segundo eles, reconhece o elemento fatal de transitoriedade que compõe a vida e, através do desapego às coisas, consegue desenvolver uma atitude de serenidade capaz de manter íntegro o ser, mesmo diante de grandes revezes. O budismo também possui conceitos semelhantes.

O cristianismo apresenta este conceito de forma mais dinâmica: temos um Pai Celeste que reconhece nossas necessidades e Se agrada de supri-las (Mt 6.25-33). Somos exortados a alegrar-nos e desfrutarmos de nossas posses (dons, saúde, relacionamentos – Ec 2.24-25, 9.9-10), lembrando de incluir outros nesta alegria (Lc 14.12-14). A variante cristã do conceito de desapego é a hierarquização valorativa dos bens.

De acordo com o conceito cristão, o Sumo Bem (Deus) é essencial à realização do ser. Todos os demais elementos da vida têm seu valor e espaço determinados em relação ao Sumo Bem.

Sendo assim, é possível o desfrute dos bens desta vida sem afirmar que eles constituem nossa realização última. Somente Deus é capaz disto. Em decorrência deste fato é possível desenvolver uma atitude de desapego que não seja caracterizada nem pela morbidez e nem pela dependência. Como Paulo expressou, a privação dos bens desta vida não interferem no status de mais que vencedor daqueles que crêem em Cristo (Rm 8.35-39).

Com base nesta hierarquia de valores é possível não apenas suportar a perda (muitas vezes dolorosa!) de bens menores, mas até mesmo seu sacrifício em prol de um bem maior. Os mártires da Igreja dão testemunho disto, tal como Jim Elliot, morto em 1956 no campo missionário, que afirmou que "não é tolo quem abre mão daquilo que não pode reter para reter aquilo que não pode perder".

O medo faz parte de nossas defesas. Nos ajuda a sobreviver. Na proporção indevida, porém, o medo paralisa a vida. O desconhecido é um dos principais fatores que alimenta o medo. O futuro atemoriza precisamente por ser desconhecido, aberto à possibilidade de perdas e dores.

A confiança no Deus que é soberano sobre a História é única a alternativa para o medo que impele à paralisia diante do mistério do futuro, sempre um mistério, aberto à possibilidade de dores e percas.

Somente o conhecimento de que Deus cuida pessoalmente de cada detalhe da História (inclusive de nosso futuro particular) torna possível a libertação do medo, pois, seja o que vier, virá das mãos de Deus. Ele sabe o que faz. Foi o que Jó testificou (Jó 1.21, 2. 10)!

Somente a libertação do medo torna possível escapar à sedução do mal que nos convida a definir nossa história e as questões que a envolvem por nossa própria conta.

Pois foi precisamente tentando preservar seu futuro, movido pelo medo, que Anakin Skywalker o destruiu.

domingo, 10 de maio de 2009

DEU$ $EJA LOUVADO


Com o senso de descoberta próprio das crianças meu filho Rafael, de 5 anos, veio relatar-me que nas cédulas de real está escrita a frase "Deus seja louvado".


O evento deixou-me pensativo, por te me dado ensejo a algumas reflexões:

Em primeiro lugar, sobre o funcionamento das instituições neste país: definindo-se como laico, o Estado brasileiro afirma não ser de sua alçada versar sobre questões religiosas. Isto é afirmado constitucionalmente. Sendo assim, como é que o mesmo Estado laico utiliza papel-moeda capaz de ferir os princípios religiosos de grande parte de seus cidadãos? Budistas e ateus certamente sentem-se desconfortáveis com as cédulas que têm de utilizar obrigatoriamente, cuja inscrição é incompatível com suas crenças.

Além disso, a que deus esta frase está se referindo? O Deus da tradição judaica, judaico-cristã ou judaico-cristã-islâmica? Um deus afro?

Tupã?

Zeus?

O Estado brasileiro é incapaz de responder a esta pergunta enquanto estado laico – e, se a responder, deixará de ser um estado laico – definir Deus e incentivar seu louvor é característico do Estado teocrático, um papel que o Brasil não deseja assumir.

Este é mais um pequeno exemplo da inconsistência e incoerência de nossas instituições.

Em segundo lugar, questiono-me acerca do propósito de tal frase nas cédulas. Não sei a inscrição "Deus seja louvado" é imitação do In God We Trust dos americanos (nossa tendência de imitar e valorizar o produto estrangeiro?). Alguns acreditam que tanto as notas de dólar como as de Real, trazem inscrições religiosas de influência maçônica, cuja menção ao Deus bíblico é apenas aparente, sendo a referência, de fato, ao deus GADU dos maçons.

Não preocupo-me com esta última questão, porque ainda que seja verdadeira, não é este o significado que o povo atribui a estas notas quando estão em suas mãos e lê o que nelas está inscrito – o povo pensa no Deus bíblico (sendo assim, a "sabotagem" maçônica vai por água abaixo). A questão é: inscrevendo "Deus seja louvado" no papel-moeda, o Estado brasileiro demonstra parecer estar interessado em promover o louvor a Deus e uma vida de piedade entre seus cidadãos.

Sendo assim, para melhor alcançar este objetivo, por que ao invés de imprimir nas cédulas esta inscrição, o mesmo não é feito nas repartições públicas? Ao iniciarem-se as sessões do legislativo? Por que ela também não é timbrada nos papéis oficiais? Já pensou se, antes de assinar qualquer projeto de lei, contrato ou licitação, nossos parlamentares tivesse diante de si a expressão "Deus seja louvado"? Não seria isto um incentivo para a diminuição das maracutaias oficiais?

Deveríamos ver no Congresso uma perfeita expressão de devoção e temor a Deus, caso a intenção expressa no papel-moeda seja legítima. A obediência ao grande mandamento de amar a Deus, não teria como conseqüência o amor ao próximo (povo), que se veria menos lesado (ou pilhado?) tal como é hoje.

Como as coisas não são assim, parece-me mais um exemplo de leviandade religiosa o uso desta frase em nossas cédulas, sendo mais um exemplo típico de uma religiosidade inconseqüente e superficial, que usa em vão e supersticiosamente o nome do Senhor.

E, para finalizar, não poderia deixar de mencionar que o uso da frase "Deus seja louvado" em nossas cédulas acaba se tornando um irônico reflexo (ou expressão inconsciente? Freud explica!?) da "fé" (devidamente alimentada pelos conceitos da Teologia da Prosperidade), onde Deus é louvado (ou seja, existe a lembrança de louvá-Lo)... quando se tem dinheiro nas mãos!

Que diferença em relação à fé do profeta Habacuque (cap. 3.17-18):

Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no SENHOR, exultarei no Deus da minha salvação.

No livro do mesmo profeta é afirmado que esta fé, que mantém inabalável confiança no Deus redentor, reconhecendo-O como soberano na História, seja diante da bonança ou da catástrofe, torna um homem justo (cap.2.4).


Lamentavelmente, enquanto aquilo que nossa falamos, pensamos e escrevemos sobre Deus não for revisto e levado a sério, indo além da superficialidade, não temos condições de louvá-lO verdadeiramente. Deus não se satisfaz com uma religiosidade de chavões.


E nem com a falsa devoção que, usando seu nome, promove a adoração a Mamom.


domingo, 3 de maio de 2009

DEUS E ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY


Foi no encontro com a Raposa que o Pequeno Príncipe aprendeu o conceito do amor enquanto responsabilidade.


Como estava em uma viagem breve pela Terra, não quis atender o pedido de iniciar amizade feito pelo animal.


“Cativa-me”, respondeu a Raposa.


Travaram amizade, e no momento da despedida, aconteceu o que o Príncipe temia: a raposa sofria por sua partida.


Tudo parecia uma enorme perda de tempo!


“Eu lucro”, disse ela, “por causa da cor do trigo”, antes considerado inútil pela Raposa, mas que a partir de agora lhe traria a lembrança do amigo, da cor de seus cabelos.

Com esta experiência, ensinou ao menino que o amor (invisível aos olhos) traz significação às coisas.

É depois deste encontro e desta aprendizagem com a Raposa que o Príncipe decide voltar para casa, depois de haver deixado seu pequeno planeta em uma jornada de aprendizagem e também de solução interior para os problemas de relacionamento que tinha com sua amada Rosa.

Voltar para casa é sinônimo de voltar para a Rosa.

Nossa casa é o lugar onde estão quem cativamos.

Dizem que o escritor e aviador Antoine de Saint-Exupéry escreveu esta fábula para expressar suas perplexidades acerca da vida e dos relacionamentos.

O conceito que Deus tem do amor não é diferente do conceito de Saint-Exupéry.

Deus também se considera responsável por aqueles a quem cativa.

Sua Palavra traz as seguintes expressões acerca de Seu cuidado para com aqueles que possuem um relacionamento com Ele:

Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória. (Salmo 73.24)

Como em redor de Jerusalém estão os montes, assim o SENHOR, em derredor do seu povo, desde agora e para sempre. (Salmo 125.2)

Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti. (Isaías 49.15)

Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o
consentimento de vosso Pai. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da
cabeça estão contados. Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos
pardais. (Mateus 10.29-31)

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3.16)

Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. As minhas ovelhas
ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida
eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos. Meu
Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos
de meu Pai. (João 10.11, 27-29)

Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que
são chamados segundo o seu propósito. (Romanos 8.28)

...lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.
(1Pedro 5.7)

Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar
com exultação, imaculados diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador,
mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania,
antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém! (Judas 24-25)

Contudo, Deus e os personagens de Antoine de Saint-Exupéry diferem em muitos aspectos:

A raposa não via significado no trigo até ela ter conhecido o Príncipe. Para ela, os relacionamentos conferem significado às coisas. Todavia, Deus já enxergava significado em você mesmo sem que você não correspondesse ao Seu amor: Para Ele, Seu amor livre (graça) é a base na qual todos os relacionamentos se tornam possíveis – e mesmo não-correspondido, enviou Seu Filho Jesus Cristo para trazer a salvação.

E, enquanto o Pequeno Príncipe cruzou o universo na tentativa de fugir de quem cativara, Jesus Cristo também fez a mesma coisa, porém com o propósito inverso: cativar você.

O pedido de amizade da Raposa encontra seu paralelo bíblico com o convite do Príncipe da Paz em Apocalipse 3.20:

Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.

Não recuse o convite a estabelecer este relacionamento com Deus – e, assim, experimentar este amor e seus efeitos em sua vida.

Um amor sério, zeloso.

Responsável.

E, realmente, cativante.