terça-feira, 21 de maio de 2013

NÃO GOSTO DE CARICATURAS (DO EVANGELHO)

Sou desenhista e gosto de caricaturas.


Admiro o traçado hábil e inteligente de um caricaturista.

Porém não gosto de caricaturas do Evangelho.

Não gosto de caricaturas do Evangelho porque caricaturas são, por natureza, divertidas, e não consigo achar a menor graça com o que estão fazendo com o Evangelho.

Não gosto de caricaturas do Evangelho porque há uma diferença entre caricatura (representação fantasiosa); e retrato (representação fiel). A Igreja é chamada para dar testemunho de Cristo, ou seja, representá-lo e apresentá-lo fielmente ao mundo. Um evangelho caricato dá testemunho da infidelidade da Igreja.

Não gosto de caricaturas do Evangelho porque uma caricatura não consegue dar a real ideia de como é alguém. Por isso muita gente que se diz avessa a Cristo não o é, de fato: nunca foram apresentadas a Ele - apenas à sua caricatura... e mal conseguem imaginar como Ele é de fato.

Não gosto de caricaturas do Evangelho porque o método para a produção de uma caricatura é a distorção e o exagero, mas o Evangelho possui equilíbrio e perfeição.

Não gosto de caricaturas do Evangelho porque um evangelho caricato é assunto sério que virou piada. É o desgraçamento da graça.

Enfim, não gosto de caricaturas do Evangelho principalmente por constatar que as caricaturas do Evangelho geram pessoas deformadas.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

A OBRA DE DEUS NÃO CUSTA A DIGNIDADE DO SERVO DE DEUS

Acredito que um dos grandes problemas dos ministros evangélicos contemporâneos está na maneira com que expressam seu afã de fazer grandes coisas para Deus.

É quase lugar-comum crer que a contrapartida de um grande ministério é a construção de uma grande estrutura ministerial.

E, por estrutura ministerial, entenda-se também estrutura midiática e política.

Todavia, não basta apenas construir uma grande estrutura ministerial. É necessário sustentá-la.

É como alimentar um monstro - pois para sustentar tal estrutura ministerial, o ministro se vê forçado a agir cada vez menos como ministro, a dedicar cada vez menos tempo de seu ministério em ministrar. É necessário captar recursos para sustentação da estrutura ministerial (editora, programa de rádio, TV, plataforma política). É necessário pedir, pedir, e pedir; fazer alianças e acordos; apadrinhar e ser apadrinhado; entrar no jogo do poder e do mercado.

E o ministro vira escravo de sua própria estrutura ministrerial.

E a própria estrutura ministerial corrompe o ministro. 

Ninguém precisa vender a alma ao Diabo para fazer a obra de Deus.

Se o preço de ter um programa de rádio ou TV é gastar a maior parte do tempo implorando por contribuições, a opção é simples: não tenha um programa de rádio e nem de TV. Não vale a pena. O preço cobrado é alto demais; sua dignidade enquanto ministro e enquanto pessoa.

Se o preço de aparecer na televisão é propagar uma teologia ruim, subserviente aos caprichos humanos, a opção é simples: não vá à televisão. Não vale a pena. O preço cobrado é alto demais; sua dignidade enquanto ministro e enquanto pessoa.

Se o preço de entrar na política é o de submeter-se alianças escusas, a opção é simples: não entre na política. Não vale a pena. O preço cobrado é alto demais; sua dignidade enquanto ministro e enquanto pessoa.

Se o preço de criar uma "empresa cristã" é o de jogar segundo as regras do mercado, e não segundo a ética e justiça do Evangelho, a opção é simples: não crie uma empresa cristã. Não vale a pena. O preço cobrado é alto demais; sua dignidade enquanto ministro e enquanto pessoa.

Se o preço de estar em evidência é o de alimentar o culto à sua personalidade e ao mesmo tempo despersonalizar-se, a opção é simples: prefira o anonimato. Não vale a pena. O preço cobrado é alto demais; sua dignidade enquanto ministro e enquanto pessoa.


Se o preço de criar uma grande estrutura ministerial é o de se tornar um caudilho, a opção é simples: não tenha uma grande estrutura ministerial. Não vale a pena. O preço cobrado é alto demais; sua dignidade enquanto ministro e enquanto pessoa.

Em suma, se o preço de "fazer coisas grandiosas para Deus" é sua dignidade, a opção é simples: não faça coisas grandiosas para Deus.

Apenas pregue o Evangelho. Com fidelidade.

O Evangelho ganha mais quando seus ministros não perdem sua dignidade.

E o Deus grandioso sabe apreciar a simplicidade. Principalmente  quando a vê cercada de dignidade.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

LENDO O SALMO 23... CONTRA SI MESMO!

Sugiro um exercício de leitura do tão conhecido e amado Salmo 23... para verificar se o estamos vivendo.

"O SENHOR é o meu pastor; 
Sendo assim, deixei de viver para mim mesmo, reconhecendo que Ele tem o senhorio sobre minha vida e o direito de me guiar para o cumprimento de Sua vontade.

nada me faltará.
Sendo assim, manterei a esperança em tempos de desesperança, sabendo que o Pastor sustenta a ovelha, suprindo suas necessidades, ainda que não necessariamente seus caprichos.

Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas.
Sendo assim, tenho olhos para ver os momentos felizes de minha vida e correspondo com gratidão ao cuidado de meu Pastor.

Refrigera a minha alma; 
Sendo assim, já aprendi a me alegrar no meu Pastor, e compreendo que só nEle é que poderei sustentar esta mesma alegria e força para viver - não nas circunstâncias ou na falibilidade humana.

guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Sendo assim, reconheço que o Pastor tem prioridades para minha vida (caminhos de justiça) e aceito Sua prerrogativa de guiar-me em direção ao cumprimento de Seus santos propósitos, pois é precisamente por ser o Bom Pastor que Ele assim age para comigo.

Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, 
Sendo assim, não nutro expectativas falsas e floreadas acerca do caminhar com o Pastor: Ele próprio caminhou no vale da sombra da morte - por mim, sem reclamar.

não temeria mal algum, porque tu estás comigo; 
Sendo assim, sei que, embira o vale seja assustador, lembro que o Pastor está comigo, e mantenho meus olhos no pastor, e não no vale.

a tua vara e o teu cajado me consolam.
Sendo assim, reconheço todas as expressões de Seu amor por mim, mesmo aquelas que, a princípio, me contrariam.

Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, 
Sendo assim, não preciso encher meu coração de ódio e rancor; o Pastor exercitará justiça.

unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Sendo assim, não preciso me entregar à autopiedade e autocomiseração, pois sei que, para Ele, sou especial e tenho valor.

Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR por longos dias".
Sendo assim, reconheço que todos e quaisquer planos que eu venha a traçar nesta vida deverão todos culminar em um objetivo supremo: continuar servido ao Pastor e caminhando com Ele. Sempre. 

O Pastor é bom. Nós é que precisamos ser melhores ovelhas.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

AMAR A DEUS, AMAR MÚSICA CLÁSSICA

Algumas distinções entre cultura erudita e cultura popular baseiam-se em critérios subjetivos e, por vezes, preconceituosos.

Porém, li há vários anos em um livro de Filosofia uma maneira de conceituar (e contrastar) a cultura popular e a cultura erudita que chamou muito minha atenção: segundo o autor, a cultura popular se caracteriza por apresentar pouca informação ao indivíduo em suas produções, ao passo que a cultura erudita apresenta grande quantidade informação ao indivíduo - daí o motivo pelo qual determinado bem cultural se tornar "popular" e outro não: a cultura popular, por apresentar menor quantidade de informação ao indivíduo, se torna mais fácil de ser apreciada/interpretada/consumida: em outras palavras, é mais palatável, porque exige menos do indivíduo.

Não posso deixar de pensar que isto é verdade, pelo menos no que diz respeito à música: um hit das paradas de sucesso é um perfeito exemplo das características da cultura popular de acordo com o autor, com seus versos repetidos de fácil memorização (a típica música "grudenta") .

O mesmo não ocorre com uma peça de música clássica - sua linguagem exige mais esforço interpretativo por parte do apreciador-intérprete: uma maior abertura emocional, maior uso da abstração.

Ou seja, uma música popular pode ser curtida de forma instantânea; a música clássica exige  envolvimento do indivíduo para que ela possa ser curtida de forma plena.

As pessoas geralmente afirmam não gostar de música clássica, mas na verdade elas não aprenderam a apreciá-la, ou seja, não aprenderam dar o suficiente de si para atender as exigências do gênero, a construir uma postura suficientemente positiva e favorável para apreciação, e por isso se fecham à música erudita. 

(Um fato estranho: muitas pessoas dizem que não gostam de música clássica e ao mesmo tempo não conhecem música clássica!!! Como é possível não gostar do que não se conhece?)

Ou seja, uma música popular pode ser curtida de forma instantânea; a música clássica exige um envolvimento do indivíduo para que ela possa ser curtida de forma plena.

Penso que às vezes o mesmo que acontece na esfera musical acontece em relação a Deus.

Um deus raso, palatável, que acrescenta pouco e exige pouco de quem se apresenta a ele facilmente se torna "pop". Palatável como o hit do momento e tão irrelevante quanto.

Temo que a superficialidade de alguns cristãos se deva à reinterpretação "pop" que fizeram de Deus, tornando-o em um deus que exige pouco porque acrescenta pouco à vida de alguém.

Já a apreciação de Deus, reconhecendo quem Ele é - ah, é muito diferente e exige um profundo envolvimento do indivíduo: Sua mensagem é rica em informação transformadora, que deve ser reconhecida em sua relevância, em expectação aprendente; Sua linguagem atinge integralmente o ser, racional, emotiva e volitivamente, tocando-o de maneira especial; Suas promessas superam os melhores sonhos da abstração humana; a adoração se torna a apreciação da beleza de Seu ser, da perfeição de Seu ser (caráter, atributos, obras e vontade).  

A apreciação de Deus exige abertura diante de Sua linguagem e mensagem. Abertura à profundidade, desejo de ir mais além. Exige uma postura positiva, ativa para a apreciação e apreensão da voz e do ser de Deus. Em caso contrário, a experiência do indivíduo poderá ser seriamente prejudicada, à semelhança daqueles que evitam a música clássica por terem se feito surdos à mesma.

É a própria profundidade de Deus que impede que ele seja concebido de forma "pop".

Por isso percebo que amar a Deus tem muita semelhança com aprender a amar música clássica - é o ato de aprender a deslumbrar-se, de forma constante.