segunda-feira, 9 de abril de 2012

MINHAS IMPRESSÕES SOBRE A REVISTA VEJA DA SEMANA PASSADA: A REPORTAGEM SOBRE O SANTO SUDÁRIO

Sempre considerei o Sudário de Turim como um assunto indiferente para a fé cristã.

Não que eu o considere, a priori, como uma adulteração (isto ainda é assunto aberto à discussão científica, como demonstra a reportagem, que interage com o livro “O Sinal”, recém-lançado no Brasil, do historiador de arte inglês Thomas de Wesselow, que investiga as controvérsias científicas em torno do Sudário), mas porque considero que a credibilidade do Evangelho não repousa sobre a autenticidade do mesmo.

Ou seja, caso o Sudário seja autêntico, seria apenas mais uma evidência da veracidade histórica do Cristianismo; caso seja uma fraude, a autenticidade histórica do Cristianismo não fica comprometida por causa disto.

Mas desejo fazer algumas considerações acerca de algumas declarações surgidas no decorrer da reportagem que, embora não tratem da questão do Sudário em si, indicam uma abordagem falha ao próprio cristianismo, tanto do ponto de vista metodológico quanto conceitual:

“O culto ao Santo Sudário ajudou o cristianismo a superar sua condição de seita minoritária confinada aos rincões do Império Romano para se transformar na maior religião do planeta” (pág. 127). O Novo Testamento desconhece tal “culto ao Santo Sudário” e não dá qualquer ênfase a relíquias.

“Diz Wesselow: ‘já para os apóstolos o sudário foi tomado como a prova da Ressurreição de Cristo, e disso deriva sua extraordinária força de convencimento” (pág. 127). Errado! A força de convencimento que foi capaz de levar um grupo de discípulos imaturos, desanimados e amedrontados a enfrentar, com o custo de suas próprias vidas, o imperialismo romano foi o túmulo vazio o e o encontro com o Cristo ressurreto. “Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive, embora alguns já tenham adormecido. Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos; depois destes apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo” (1 Coríntios 15:3-8).

“... afora os relatos de Flávio Josefo, historiador judeu do século I, ninguém dá notícia da existência do carpinteiro de Nazaré que morreu na cruz” (pág. 130). Novamente a resistência em considerar o Novo Testamento como um documento histórico, sendo que ele se constitui no documento mais bem preservado da Antiguidade, atestado por uma imensa quantidade de manuscritos (em quantidade maior que qualquer outro texto clássico) - uma grave falha do ponto de vista técnico e evidência de preconceito.

"O assombro com a visão do manto fora tamanho que o fato de o corpo de Jesus estar ou não no túmulo é um mero detalhe. O autor afirma ainda que foi o sudário, e não Jesus Cristo ressuscitado, que apareceu para seus seguidores nas passagens bíblicas da ressurreição. Uma das cenas mais famosas é o encontro entre Jesus e o apóstolo Tomé. (...) Tomé, segundo o historiador inglês, não esteve diante do corpo de Jesus ressurreto, como creem os cristãos, mas diante das manchas vermelhas estampadas no linho de Turim” (págs. 132-134). Embora, neste trecho VEJA tenha apenas apresentado a tese do autor de “O Sinal”, não deixa de ser lastimável a conclusão a que chega Thomas de Wesselow: podemos crer no Sudário, mas não podemos crer no 4.º Evangelho – ou seja, João era mentiroso, Cristo não estava presente e Tomé, além de incrédulo, era burro!

Pois é... a reportagem de Páscoa de VEJA se constitui em um belo "ovo de Páscoa"... recheado de ceticismo.