sábado, 30 de abril de 2011

DOENÇAS QUE NÃO PODEM ATINGIR A SUA ALMA IV: O MAL DE JONAS, OU A SÍNDROME DA GOTA D'ÁGUA


O mundo de Jonas caía paulatinamente desde que ele fora comissionado a pregar em Nínive.

Primeiro: por deixar o ministério que exercia entre sua gente para ir a um campo missionário hostil.

Segundo: ao ver que sua vontade fora terminantemente rejeitada pelo Senhor, que insistiu, por meios drásticos, que o profeta fosse a Nínive.

Terceiro: pela experiência de passar 3 dias e 3 noites no ventre de um grande peixe – e, mesmo tendo reconhecido sua rebeldia, o coração do profeta ainda não havia digerido toda a situação.

Quarto: tendo de exercer, a contragosto, o ministério em Nínive.

Quinto (e, aparentemente ridículo): ver que seu ministério havia prosperado, levando a cidade de Nínive a um grande avivamento.

Sexto: embora não tenha negado a fé, Jonas estava profundamente desgostoso e magoado com Deus.

Sétimo, e derradeiro: longe da cidade, isolado em seu abrigo, o profeta teve de suportar a perda de seu único consolo nesta sucessão de dissabores: a planta que lhe dava sombra.

“Melhor me é morrer do que viver!” disse o profeta sob o sol da Assíria.

Para nós, que lemos o livro de Jonas e compreendemos a necessidade que o profeta tinha de romper com seus preconceitos, exercer misericórdia e compreender melhor a graça de Deus, este rompante após a morte da planta soa como mais uma crise de egoísmo.

A atitude do profeta soa como absurda e irracional (desistir da vida por causa de uma planta), parecendo-nos simplesmente mais um ponto negativo em sua biografia.

Mas não podemos ignorar que é justamente este o efeito do stress agudo e angustioso: a irracionalidade.

Para quem está no limite de sua capacidade de tolerar a angústia, sua dor parece englobar o mundo (ou o mundo reduziu-se á sua dor).E estamos diante de um homem que estava passando por um processo de revisão de conceitos, o que, embora necessário, sempre é um processo doloroso.

Jonas estava à beira de um colapso – e lembro-me dos versos de Chico Buarque:

“Deixa em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção - faça não
Pode ser a gota d’água”

Devemos nos precaver contra o mal de Jonas porque não podemos permitir que a dor (seja ela causada pelos mais diferentes motivos) nos prive da razão – podemos nos arrepender depois, de nossos atos e palavras.

Perdendo a razão, perderemos a visão dos acontecimentos. Perdendo a visão dos acontecimentos, seremos incapazes de analisá-los corretamente. Sem a capacidade de avaliar os acontecimentos, seremos incapazes de transformá-los em experiências de aprendizagem.

E é por isso que a ação de Deus tem o misericordioso efeito terapêutico de trazer o profeta de volta à realidade: “É razoável essa tua ira por causa da planta?” (Jonas 4.9)

Ministrar para pessoas soterradas pela angústia exige esta dupla percepção: de seu estado hipersensível e da necessidade que ela tem de voltar a usar a razão como forma de vencer a própria angústia.

Não se trata de negar a dor. Mas, sim, de não conceder a ela poder indevido sobre nós.

O livro de Jonas termina com uma incógnita: o livro se encerra com o apelo do Senhor para que Jonas reconsidere seus conceitos, mas não sabemos como o profeta reagiu à terapia divina: se superou a irracionalidade de sua angústia ou se entregou-se a ela.

Que o mesmo não ocorra com o livro de nossas vidas: sejamos sempre responsivos à ação divina em nós e por nós.

Esta é a forma mais inteligente não só de vencer a angústia, mas de viver.

sábado, 23 de abril de 2011

PENSE NISSO: "A VISÃO CLÍNICA DA CRUCIFICAÇÃO", POR HERMES C. FERNANDES



"Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra". O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a precisão de um clínico.

O suar sangue, ou "hematidrose", é um fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo.

O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra.

Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e Herodes. Pilatos cede, e então ordena a flagelação de Jesus. Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma coluna do pátio. A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos.

Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferentes estaturas. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor de sangue.

A cada golpe Jesus reage tendo um sobressalto de dor

A pele se dilacera e se rompe; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reage em um sobressalto de dor. As forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia em uma poça de sangue. Depois vem o escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo). Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão feroz, o entrega para ser crucificado. Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço horizontal da cruz; pesa uns cinqüenta quilos.

A estaca vertical já está plantada sobre o calvário. Jesus caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos. Os soldados o puxam com as cordas. O percurso, é de cerca de 600 metros. Jesus, fatigado, arrasta um pé após o outro, freqüentemente cai sobre os joelhos. E os ombros de Jesus estão cobertos de chagas. Quando ele cai por terra, a viga lhe escapa, escorrega, e lhe esfola o dorso. Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos despojam o condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de gaze de uma grande ferida percebe do que se trata.

O fio de tecido adere à carne viva

Cada fio de tecido adere à carne viva: ao arrancarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim. O sangue começa a escorrer.

Quando é deitado de costas, as suas chagas se incrustam de pedras e pedregulhos. Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes tomam as medidas. Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos pregos. Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apoiam-no sobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano foi lesado.

Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego: quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo se esticará fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará três horas. O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé; conseqüentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam na estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera. As pontas cortantes da grande coroa de espinhos penetram o crânio. A cabeça de Jesus inclina-se para a frente, uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira. Cada vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor. Pregam-lhe os pés. Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebe desde a tarde anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode engolir. Tem sede.

Tudo aquilo é uma tortura atroz

Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares. Ele não bebe. Tudo aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenômeno se produz no corpo de Jesus. Os músculos dos braços se enrijecem em uma contração que vai se acentuando: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos, se curvam. É como acontece a alguém ferido de tétano. A isto que os médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdomen se enrijecem em ondas imóveis, em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os respiratórios. A respiração se faz, pouco a pouco mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma num violeta purpúreo e enfim em cianítico. Jesus é envolvido pela asfixia.

Os pulmões cheios de ar não podem mais esvaziar-se. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.

Mas o que acontece? Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial.

Por que este esforço? Porque Jesus quer falar: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem".

Logo em seguida o corpo começa a afrouxar-se de novo, e a asfixia recomeça. Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que quer falar, deverá elevar-se tendo como apoio o prego dos pés. Inimaginável!

Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas ele não pode enxotá-las. Pouco depois o céu escurece, o sol se esconde: de repente a temperatura diminui. Logo serão três da tarde, depois de uma tortura que dura três horas. Todas as suas dores, a sede, as câibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancam um lamento: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?". Jesus grita: "Tudo está consumado!". Em seguida num grande brado diz: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". E morre. Em meu lugar e no seu".

terça-feira, 19 de abril de 2011

PARABÉNS, PADRE MARCELO! (ENTREVISTA CONCEDIDA À REVISTA VEJA, DE 20 DE ABRIL DE 2011)

Não sou ecumênico. Discordo da instituição que o Padre Marcelo Rossi representa e das crenças que ela sustenta (aliás, a "história milenar" da Igreja Católica mencionada pelo padre na entrevista publicada na revista VEJA desta semana testemunha justamente do distanciamento desta instituição do cristianismo bíblico). 

Lamento por ver que a teologia de Marcelo Rossi é fortemente influenciada  por conceitos sem respaldo nas Escrituras, como a devoção a Maria.
Todavia o parabenizo pelos valores defendidos em sua entrevista, considerados por ele como essenciais para a postura e serviço cristão coerentes (lembrando que estamos falando de um homem que está sempre sob os holofotes da mídia e os olhares da instituição eclesiástica, com todas as tentações que elas trazem consigo), que apresento agora com a transcrição de algumas de suas declarações:

"Um padre, contudo, tem de agir com humildade" (quando foi boicotado durante a visita de Bento XVI ao Brasil).

"Minha missão é buscar ovelhas, não agradar a padres".

"Ter carisma implica responsabilidade".

"Não preciso estar na moda para servir a Jesus".

"Jamais, no entanto neguei o pedido de um fiel (falando acerca dos inúmeros pedidos para fotos). Sou um padre".

Como ficaria feliz se a Igreja Evangélica, principalmente suas lideranças,  estvesse priorizando valores como estes em sua agenda, ao invés das sandices da teologia da prosperidade,  do misticismo irrefletido e do personalismo eclesiástico! 

Isto seria sinal de que a Igreja Evangélica, em seu compromisso histórico com a Bíblia Sagrada para a fundamentação de sua crença, compreendeu melhor as implicações práticas destas mesmas crenças bíblicas.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

SOBRE O SEXO DOS ANJOS - E DOS DEMÔNIOS

Em sua grande maioria , os teólogos cristãos ao longo dos séculos têm considerado os anjos como seres assexuados (baseados principalmente na declaração de Jesus em Mateus 22.30), com raras exceções apenas entre aqueles que interpretam como anjos os "filhos de Deus" que desejaram as mulheres da Terra mencionados em Gênesis 6.
 
É interessante ver, porém, que a mesma lógica não foi aplicada pelos teólogos para falar acerca dos anjos caídos: os demônios.

Aplicando o mesmo princípio lógico por extensão, os demônios também são seres assexuados. 

Todavia, os demônios não foram compreendidos assim nem no imaginário popular (que apresenta as figuras do incúbo e do súcubo, demônios responsáveis por seduzir mulheres e homens respectivamente, por exemplo) e nem pelos teólogos: durante o período de caça às bruxas, uma das acusações mais comuns impostas àquelas mulheres era a de manter relações sexuais com demônios.

Muitas realmente "confessavam" terem praticado o ato, sob tortura atroz.

Ou seja, para tais teólogos, anjo não transa; mas demônio, sim.

Como isto seria possível à luz da própria teologia que estes homens sustentavam, pergunto eu?

Temo que esta incoerência não se deu apenas porque eles não leram as palavras de Jesus em Mateus 22.30.

Temo que  os teólogos assim pensavam por associarem, inconscientemente, a sexualidade à Queda.

Os anjos caídos teriam se tornarado seres sexuados como consequência da perca de seu estado original de graça após terem se rebelado contra Deus.

Ou seja, sexualidade e graça se excluem.
Mais um testemunho triste e lamentável de como a cristandade tem tido dificuldades de lidar com sua própria sexualidade. 

O Evangelho não deve ser responsabilizado por esta forma de pensar - não há nada  na doutrina cristã que sugira tal forma de pensar.

A responsabilidade cabe aos cristãos que abordaram o assunto de forma não-cristã.

Cabe à geração contemporânea corrigir este e outros erros históricos da Igreja, através de uma teologia pautada na Palavra de Deus, e não em especulações humanas. 

Com muita urgência, a fim de que não seja tolhida a vivência plena das bênçãos prometidas pelo Salvador que prometeu que Sua palavra  traria vida - e não a dos homens.

domingo, 10 de abril de 2011

UMA HISTÓRIA COMOVENTE - E UM TESTEMUNHO DA GRAÇA DE DEUS

Nesta semana cheia de tristezas causada pela tragédia no Rio de Janeiro, caiu em minhas mãos a comovente história de Howard Weinstein - uma história que desejo compartilhar com você agora, como testemunho da graça de Deus, fazendo com que não existam somente monstros no mundo.

"O canadense Howard Weinstein tem 60 anos e a empolgação de um adolescente de 12. Falastrão, transita entre o português, o inglês e o francês na mesma conversa, numa confusão quase incompreensível. Na semana passada, sua euforia tinha um motivo profissional. Sua empresa, Solar Ear, entrou no ranking das dez brasileiras mais inovadoras, feito pela revista americana Fast Company. Estava ao lado de companhias como Azul, AmBev e Petrobras. A Solar Ear é a única organização sem fins lucrativos na lista. Com poucos recursos, tem apenas 30 funcionários. E infraestrutura mínima. A despeito do tamanho, está conseguindo um feito nobre (e inédito): dar aos surdos mais pobres do planeta a capacidade de escutar – e estudar. “Minha missão é dar oportunidade de educação para as crianças”, diz.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 300 milhões de pessoas no mundo têm surdez total ou parcial. Mais de dois terços estão em países pobres, onde sobram doenças e faltam antibióticos. O ritmo de fabricação dos aparelhos não acompanha a demanda: são feitos apenas 8 milhões deles ao ano. Apenas 12% chegam aos países menos abastados, e os que chegam custam caro. No Brasil, podem variar de R$ 2 mil a R$ 15 mil. Sem contar o preço das pilhas: R$ 4 e duram só uma semana. “Existem quatro tipos de aparelho: de usar atrás da orelha, dentro da orelha, no canal do ouvido e de colocar na gaveta”, afirma Weinstein. “Alguns pacientes até recebem o aparelho do governo, mas não têm dinheiro para comprar bateria.”

O primeiro grande feito de Weinstein foi baixar o preço dos aparelhos. Seus equipamentos custam um sétimo do preço mais barato nessa classe de aparelho, em torno de R$ 300. O segundo salto está nos carregadores. Com a ajuda de engenheiros da Universidade de São Paulo (USP) e financiamento da Fundação Lemelson, uma organização filantrópica americana, e do Instituto Cefac, uma ONG voltada a ações na área de saúde e educação, Weinstein criou um equipamento de recarga solar. A engenhoca pode ser abastecida com a luz do sol ou energia elétrica da rede. Ele estima que, por ano, o mecanismo vai evitar o descarte de 200 milhões de baterias no meio ambiente. O usuário também economiza. Se usar pilhas convencionais, vai gastar R$ 210 ao ano. O kit da Solar Ear com baterias e carregador custa R$ 95 – e dura até três anos.

Há alguns anos, a filantropia passava longe dos planos de Weinstein. Dono de uma empresa de válvulas e torneiras, transformou seu negócio em algo tão lucrativo que o vendeu para uma grande companhia americana. Permaneceu como presidente. No começo dos anos 90, era um executivo de sucesso. Morava em um imóvel grande em Montreal, no Canadá. Tinha uma casa de campo com lago e pista de esqui no quintal. Era rico, mas diz que ainda buscava um sentido para a vida. Em uma noite de 1995, perdeu o chão. A filha Sarah, então com 10 anos, sofreu um aneurisma durante o sono e não acordou mais. Na semana seguinte, Weinstein foi demitido. Os chefes acharam que ele não conseguiria trabalhar depois do trauma. Tirou um ano de folga. Fez terapia. E abriu uma empresa de assentos sanitários eletrônicos. Faliu. “Eu sentia um vazio grande dentro de mim”, afirma. “Queria fazer algo para mudar a realidade.”

Em 2002, ele ouviu falar de um emprego para ajudar pessoas pobres na África. Sua tarefa seria criar uma empresa para fornecer próteses auditivas a preços acessíveis aos africanos parcialmente surdos. O salário era o equivalente a R$ 1.000. Weinstein aceitou o convite imediatamente. Precisava reconstruir sua história. Quando chegou a Botsuana, deparou com um escritório de sala única e praticamente vazia, no vilarejo de Otse, com 5 mil habitantes. Havia um par de cadeiras e nenhum funcionário. Certo dia, uma professora bateu em sua porta segurando uma criança africana surda pela mão. Teria dito ao recém-chegado que sua primeira missão ali era arrumar um aparelho auditivo para a menina. “Sabe qual era o nome dela?”, ele diz. “Era Sarah, o nome da minha filha.” Ele diz ter tomado a coincidência como um chamado. Meses depois, ao preencher um formulário para Sarah, descobriu que ela nasceu no mesmo dia que a filha que ele perdeu.

Weinstein partiu do zero e montou uma empresa na África em 2002. De lá para cá, já vendeu 15 mil aparelhos, 30 mil carregadores e 100 mil pilhas. Deficientes auditivos de mais de 30 países usam suas invenções. Há sete anos, ele veio ao Brasil pela primeira vez para falar sobre seu trabalho. Recém-separado, conheceu uma brasileira, se apaixonou... e decidiu casar e vir para cá, replicar o modelo africano. A versão brasileira da empresa africana abriu em 2009. Nenhuma de suas invenções foi patenteada. “Quero mais é que as empresas copiem”, diz. “O poder de distribuição seria muito maior do que jamais teremos.” Os funcionários da linha de montagem são surdos. “Como praticam linguagem de sinais, eles têm mais habilidades para manipular as peças pequenas”, diz Weinstein. Ele pretende dobrar o número de funcionários nos próximos meses.

Weinstein se emociona ao lembrar de pessoas que ajudou. Victória Gabriela Reis, de 10 anos, é uma delas. A menina nasceu com problemas de audição. Os médicos diziam que ela era surda. À medida que cresceu, passou a detectar alguns sons, como o barulho de um carro freando ou de panela caindo. A família não tinha dinheiro para comprar um aparelho. Victória ganhou um do governo, mas perdeu-o na escola. Ficou surda de novo durante três anos. No mês passado, a Solar Ear doou um equipamento. “Ela gritou, bateu palminhas e saiu de lá saltitando”, diz a mãe, Maria Gorett Silva dos Reis. “Está reconhecendo novos sons agora. Ela deu mais uns três passos à frente.”

Ao final de cada ano, Weinstein envia uma carta aos amigos e à família para falar do que tem feito. Em anos passados, ele contou seu encontro com o economista bengalês Muhammad Yunus, vencedor do Prêmio Nobel da Paz por criar o “banco dos pobres”. Escreveu sobre um prêmio que recebeu ao lado de Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos. Neste ano, ele deverá mencionar o prêmio de inovação. Mas gastará mais linhas falando das histórias de gente como Victória".

Fonte: Revista Época

sábado, 2 de abril de 2011

PENSE NISSO: UMA PALAVRA DE BERTOLD BRECHT

DE QUE SERVE A BONDADE  
1
De que serve a bondade
Se os bons são imediatamente liquidados,ou são liquidados
Aqueles para os quais eles são bons?

De que serve a liberdade
Se os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam?


2
Em vez de serem apenas bons,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
Ou melhor:que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio.