quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

DE SUICIDAS... A MISSIONÁRIOS


O ministério dos profetas Elias e Eliseu está relatado nos dois livros dos Reis. Ministraram a uma nação dividida, governada por líderes corruptos. Compartilharam com Deus o anseio pela restauração nacional através do arrependimento. Alguns estudiosos afirmam que Acabe possui tantas menções no primeiro livro dos Reis apenas para que o ministério de Elias fosse relatado com maiores detalhes.


Um dos maus governantes deste período foi Jorão.

No segundo livro dos Reis, capítulos 6 e 7, está relatado o cerco que a cidade de Samaria sofreu pelo exército sírio, causando imensas privações à população. O rei Jorão chocou-se diante de um caso de canibalismo (6.26-30) e, ao invés de arrepender-se, culpou o profeta Eliseu e quis matá-lo (6.31,33). O furor assassino do rei não teve vazão, atenuado pelo anúncio profético de que Deus traria o livramento daquela situação em 24 horas (7.1).

É precisamente durante esta narrativa que acontece um episódio extremamente interessante: quatro leprosos, que viviam fora dos limites da cidade devido à sua doença, resolvem ir até o acampamento dos sírios para tentar obter algo para comer (7.3-4).

Não era muito animadora a perspectiva de obter alimento de um exército adversário (ainda mais quando são quatro leprosos que vão requerê-lo!). Ir até o acampamento dos sírios era uma estratégia praticamente suicida – e, aparentemente, esta era a intenção dos quatro homens, o suicídio "terceirizado" como alternativa frustrada a seu plano de sobrevivência.

Note a profunda expressão de desalento do "líder" do grupo: “se nos deixarem viver, viveremos; senos matarem tão somente morreremos.” (7.4). Estas palavras expressam o profundo sentimento de alguém que entregou os pontos, abrindo mão de sua existência, não fazendo questão entre vida e morte, considerando-a, na pior das hipóteses, um fardo menos insuportável que a própria vida.

Os quatro leprosos foram ao acampamento dos sírios sem saberem que Deus os havia afugentado de lá de forma milagrosa, em cumprimento à profecia de Eliseu. Foram esperando encontrar a morte e são surpreendidos encontrando o acampamento abandonado, com víveres em abundância.

Precisamente neste instante os homens chegam a uma conclusão que os leva a considerarem este momento como uma oportunidade e um dever:

Não fazemos bem; este dia é dia de boas-novas, e nós nos calamos; se esperarmos até à luz da manhã, seremos tidos por culpados; agora, pois, vamos e o anunciemos à casa do rei.” (7.9).

Eles perceberam não seria bom permanecerem estreitados apenas em seus planos imediatos - a urgência do momento clamava por uma atitude resoluta, capaz de romper com o ciclo de letargia em que se encontravam, ou mesmo a tentação de usufruir egoisticamente daquele tesouro. Talvez tal ato significasse também resistir à tentação de vingança em relação à sociedade que os excluíra.

Com base em tal resolução, estes homens anunciaram as boas-novas à cidade. Confirmaram aos habitantes de Samaria o cumprimento da profecia de Eliseu. Samaria foi salva e quatro leprosos participaram do milagre de Deus.

Convém notar, porém, que esta história não termina como um conto de fadas:
Os leprosos continuaram leprosos.
Continuaram vivendo fora da cidade.
A Bíblia não registra que eles receberam um "muito obrigado".
Samaria permaneceu em sua idolatria, sendo finalmente arrasada em 722 a.C., apesar do milagre que recebera.
Todavia, eles descobriram algo que os fez abandonar um projeto fúnebre quanto ao futuro.
Albert Camus disse que o único problema filosófico realmente relevante é a questão do suicídio. O que faz com que viver seja uma melhor opção? O que tornaria tal decisão plausível?
Nossa vida não recebe significação através das condições que fazem parte de nossa realidade, pela maneira com que os outros nos tratam. Descobrimos que a vida merece ser vivida quando entendemos que, apesar de todos estes aspectos circunstanciais, eles não tornam a vida irrelevante: ainda podemos realizar ações capazes de fazer a diferença.

Jerome Murphy-O' Connor disse que nossa humanização se desenvolve através do esforço criativo voltado aos outros.

O amor, esforço incondicional voltado ao bem do outro, não beneficia somente quem é alcançado pelas ações que ele inspira: dar amor é mais recompensador que recebê-lo. E aqueles que assim o fazem possuem a satisfação de encontrarem um sentido de vida que vale a pena, por refletir o caráter de Deus, que é amor e sempre pró-vida.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

AOS ESTUDANTES DE TEOLOGIA


O estudo teológico deve ser sempre uma fonte de alegrias, e nunca um fardo - ou pior, te transformar em um fardo. Portanto, desejo dedicar a vocês algumas sugestões, para evitar que isto ocorra, advindas de meu discernimento pessoal:


1. Não tenha a Teologia como um fim em si mesma. Não perca de vista que ela é apenas um meio para um fim mais elevado: o conhecimento de Deus. Transformar uma atividade-meio em uma atividade-fim é sempre algo perigoso. No presente caso, sua vida acadêmica irá despir-se de todo aspecto cultual/relacional e assim como os pais de Jesus, você se verá distante dele, embora participando de uma deslumbrante festa religiosa (Lc 2.42-49).


2. Saiba que seu curso formou um teólogo, mas isto não implica necessariamente que isto tenha transformando você em um bom ministro ou mesmo em um bom crente. A Teologia não é uma alternativa à piedade pessoal.


3. Não permita que o cultivo da intelectualidade e da espiritualidade te afastem das pessoas. Elas são a razão de ser de seus estudos, no esforço de melhor transmitir-lhes os conceitos da fé. Priorize-as como Deus as prioriza.


4. Não desperdice a oportunidade de aprender com outras pessoas: inclusive com aquelas não possuem a mesma formação que a sua (em grau ou espécie), mas podem te exceder em sabedoria.


5. Seja crítico em relação a dogmas, autores, tradições e sistemas: é esta postura que evita que a Igreja se engesse em sua crença e confere urgência à sua vocação.


6. Reconheça a verdade que aqueles que recebem maiores privilégios espirituais possuem maiores responsabilidade, e não maior status.


7. Não tente explicar o inexplicável: não se culpe por isso, não se perca com especulações (pior: especulações dogmáticas), mantenha a dimensão de mistério da fé, aceite sua pequenez e se alegre com o que tem sido revelado (Dt 29.29).


8. Reconheça que você está fazendo uma tarefa muito importante. À luz de seu papel no Reino, os aspectos árduos ligados à sua vocação perdem importância. Assim, você conseguirá ir em frente (1Co 15.58).

JESUS E OS DESCAMINHOS DA HISTÓRIA


“Vieram a ele alguns fariseus e o experimentavam, perguntando: É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo? Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”. (Mateus 19.3-6)

O texto acima narra mais um debate entre Jesus e os fariseus, que constituíam-se na elite religiosa de seu tempo. O debate inicia-se com a dúvida acerca da legitimidade do divórcio. A resposta de Jesus põe em xeque todas construções históricas da humanidade que distorcem a dinâmica dos relacionamentos, de sorte que sua resposta é uma denúncia e um juízo.

O divórcio, a poligamia, o concubinato e toda forma de leviandade e desumanização dos relacionamentos são frutos da "dureza do coração" humano. Algumas foram toleradas historicamente por Deus à medida que Seus planos iam sendo revelados à humanidade (como a poligamia), mas jamais corresponderam a seu ideal para os seres humanos - portanto, Jesus não utiliza o mundo atual, construído historicamente pela humanidade, como fundamento para discorrer sobre a justiça de Deus: o paradigma do Criador é encontrado "no princípio".

Todos os descaminhos que constituem esta realidade são construção nossa: Deus concedeu um paraíso à humanidade, e esta o transformou em um inferno.

Não havia dificuldades de relacionamentos no mundo que Deus criou; logo, não havia divórcio no mundo que Deus criou.

Não havia dor no mundo que Deus criou.
Não havia crime no mundo que Deus criou.
Não havia guerra no mundo que Deus criou.
Não havia injustiça social no mundo que Deus criou.
Não havia fome no mundo que Deus criou.
Não havia poluição no mundo que Deus criou.
Não havia stress no mundo que Deus criou.
Não havia carências no mundo que Deus criou.
Não havia morte no mundo que Deus criou.
Não havia infelicidade no mundo que Deus criou.
O mundo que o homem criou - este, sim, contém todas estas coisas.
Como Jesus tratava os mal-feitos da história humana? Denunciava-os, afirmando o paradigma do Pai, que "no princípio" não idealizara tal estado de coisas. Sua mensagem consistia em um chamado duplo: o chamado ao reconhecimento responsável pelo fracasso da história humana construída longe do Criador, e o convite à entrada no Reino de Deus, que traz a promessa de renovação de todas as coisas, como "no princípio". O Apocalipse revela a recuperação do que o homem perdeu no Gênesis.
E você, como lida com os descaminhos da história e da realidade? Culpa a Deus pela história por nós construída? Atribui a Deus os crimes dos homens? Ou já discerniu a si mesmo e à nossa realidade, entendendo o significado e urgência da mensagem dupla de Jesus, que apresentou a este mundo o padrão do mundo conforme Deus planejou e que, mediante o Evangelho, o instaurará?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

PENSE NISTO - Uma palavra de Helmut Thielicke


Helmut Thielicke foi um pastor alemão que viveu entre 1908 e 1968. Como opositor do nazismo de Adolf Hitler, sofreu perseguição do regime e passou por toda sorte de privações. A citação abaixo faz parte de um dos célebres sermões que este pastor proferiu à sua congregação de Stuttgart, arrasada pelos bombardeios da Segunda Guerra, enfatizando a importância de manter a fé e a esperança, mesmo diante dos contextos menos favoráveis ao cultivo estas virtudes.


Um dia, talvez, quando volvermos os olhos lá do trono de Deus naquele dia derradeiro, diremos com espanto e surpresa: "Se eu um dia houvesse sonhado, quando estava junto à sepultura de meus entes queridos, e tudo parecia estar acabado; se eu um dia houvesse sonhado, quando vi o espectro da guerra atômica se alastrando sobre nós; se eu um dia houvesse sonhado, quando enfrentei o absurdo destino de um encarceramento sem fim e de uma doença maligna; se eu um dia houvesse sonhado que Deus estava apenas realizando seu desígnio e seu plano por meio daquelas aflições e que tudo estava avançando para seu último e régio dia - se eu soubesse disso, teria sido mais calmo e confiante. Sim, então teria sido mais alegre e muito mais tranqüilo, sereno.


Fé e esperança não são meras opções alternativas às circunstâncias adversas que possamos estar vivendo. Antes, são os próprios meios para vencer tais circunstâncias desavoráveis. São elas que nos ajudam a fixar nosso foco em uma perspectiva mais ampla, a da fidelidade de Deus - esta é, resumidamente, a lição de fé deixada por homem que sentiu pungentemente, o sentido da expressão "contexto desfavorável".

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

UMA LEITURA TEOLÓGICA DE "SETE VIDAS"


O novo filme de Will Smith o apresenta no papel de um homem torturado por um erro terrível cometido no passado e que, não conseguindo conviver com a culpa, resolve suicidar-se, procurando, antes disso conferir ao seu ato um significado maior, salvando, através dele, sete vidas.


A trama é bem conduzida, com boas atuações dos atores, mantendo durante todo o filme o suspense sobre o personagem, cujas motivações são reveladas apenas no final da história.


Causou-me profundo impacto a urgente realidade apontada pelo personagem de Will Smith: as muitas pessoas que, como o personagem da ficção, não conseguem conviver com o tormento interior da culpa. A existência sob o peso de uma consciência culposa é um fardo, privando o ser humano de paz - com Deus, consigo mesmo e com os outros, pela leitura moralmente negativa que o indivíduo possui de si mesmo. O agravante encontra-se no fato que, no esforço desesperado para reparar os equívocos cometidos na vida é possível trilhar um caminho que conduz à autodestruição.

Após assistir este filme, compreendi a palavra do autor da epístola aos Hebreus, no capítulo 9 e versículo 14 como uma bem-aventurança, por apresentar um dos benefícios da obra perdoadora de Jesus Cristo a nosso favor como purificação da consciência (... quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?). Desta forma, somos libertos do fardo de tentar confiar em nossa capacidade própria para satisfazermos Seu padrão de justiça (o que é sempre um esforço vão, por isso classificado como "obras mortas"), da auto-avaliação destrutiva e do temor da rejeição divina. Paulo expressa o mesmo conceito com outras palavras, afirmando que nenhum poder no universo pode condenar aqueles a quem Deus perdoou - nem o próprio indivíduo (Rm 8.33-34).


A enorme conscienciosidade e senso de responsabilidade pessoal de Ben (o personagem de Will Smith), com seu conseqüente desejo de reparação não são populares em uma sociedade como a nossa, onde crianças são assassinadas com frieza e a negação do conceito de culpa promove a cauterização da consciência. Todavia, a chave para lidar com a culpa (e os erros que estão por trás dela) não consiste no auto-perdão indulgente e irresponsável, nem tampouco na paralisia da vida em submissão ao remorso, mas em comparecer integralmente (com toda sua bagagem de vida: com seus erros, acertos, frustrações, sentimentos e conceitos) à presença do Deus compassivo, cujo amor perdoador é demonstrado de forma clara na morte de Jesus Cristo, que se entregou por nossos pecados para possibilitar a redenção de nossa história (inclusive dos erros que trazem tortura interior para as pessoas; todos inclusos no perdão conquistado na cruz).


Através da graça de Deus, sempre é possível encontrar uma nova chance para um recomeço, cheio de perspectivas para o futuro.


Apresentação

Um projeto acalentado há muito tempo, mas que agora finalmente tornou-se uma realidade: a criação de um espaço virtual para divulgação e troca de idéias sobre os mais diversos assuntos, tendo como referência a fé cristã, com o intuito de conhecer e abençoar novas pessoas.
Ou seja, este blog é um lugar para falarmos de tudo, na presença de Jesus Cristo!
Sendo assim, com o sincero intuito de promover a glória de Deus e o bem-estar dos homens, a quem Ele quer bem, está aberto este blog! Sejam todos bem-vindos!