quarta-feira, 22 de agosto de 2012

PERIGO: QUANDO O PREGADOR SE TORNA INGÊNUO

Poucas coisas são tão perigosas para a Igreja do que um pregador ingênuo.

Quando o pregador é ingênuo, ele prega como se o ideal já fosse realidade, deixando de fornecer subsídios tanto para a crítica da realidade quanto para a implementação do ideal.

Quando o pregador é ingênuo, ele não atenta para o viés ideológico que sua mensagem pode estar assumindo, e nem questiona a quais interesses pode estar servindo: aos de Deus ou ao dos homens.

Quando o pregador é ingênuo, ele não cria pontes, mas paredes entre as questões de seu tempo, acreditando que assim protege seus ouvintes.

Quando o pregador é ingênuo, ele elege certos temas como tabu e evita abordá-los em seus sermões, crendo com isso que estará prestando um serviço a seus ouvintes - deixando de enxergar, assim a abrangência bíblica sobre o todo da realidade e da experiência.

Quando o pregador é ingênuo, ele acredita que sempre tem de ratificar outros pregadores.

Quando o pregador é ingênuo, ele considera que a diferença entre a pregação e ensino é de conteúdo, e não de método, de forma que sua proclamação não ensina - e quando ele ensina, não proclama.

Quando o pregador é ingênuo, ele acredita que pode abrir mão de “ismos” e “logias”, simploriamente crendo que pode descartar mais de 20 séculos de reflexão teológica cristã – e ignorando o quando estas categorias já estão incorporadas a nossa compreensão do cristianismo.

Quando o pregador é ingênuo, ele não possui argumentos, mas generalizações, clichês e frases prontas – e acredita que está fazendo um bom trabalho.

Quando o pregador é ingênuo, ele acredita que orar soluciona todas as coisas.

Quando o pregador é ingênuo, ele se responsabiliza por questões que não são de sua alçada, e perde o foco de suas reais responsabilidades.

Quando o pregador é ingênuo, ele não entende que ele tem de desenvolver o senso crítico de seus ouvintes.

Quando o pregador é ingênuo, ele não sabe avaliar resultados – e talvez nem saiba quais são os resultados que deva buscar.

Por que pregadores ingênuos são tão perigosos?

Porque a ingenuidade no ministério do pregador implica no risco de que ele esteja vindo a ser uma marionete que forma marionetes.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

SOBRE AS CARICATURAS TEOLÓGICAS

Dentro do cristianismo evangélico, existe um grande consenso acerca das doutrinas centrais (ou basilares) da fé.

Outras doutrinas periféricas (ou secundárias) não apresentam o mesmo nível de acordo - uma das razões pelas quais existem tantas denominações evangélicas: suas interpretações diferenciadas das doutrinas secundárias do cristianismo.

 Desta forma a igreja está dividida entre calvinistas e arminianos, pentecostais e não-pentecostais; cessacionistas e não-cessacionistas; congregacionais e episcopais; tricotomistas, dicotomistas e monistas; amilenistas, pré-milenistas e pós-milenistas; pré-tribulacionistas, pós-tribulacionistas e mid-tribulacionistas, etc.

Por que surgem tais diferenças? Bem, porque cada uma destas controvérsias teológicas dentro do cristianismo têm evidências bíblicas para sustentá-las, sendo necessário que  cada intérprete (e cada um de nós) pese bem as evidências em favor de cada hipótese e, dentro de um exercício de interpretação sadio da Escrituras, decida pela posição A ou B (não é possível sustentar o argumento relativista de que todas as posições estão certas - ainda que se tratem de assuntos periféricos, alguém chegou a uma interpretação mais adequada de determinado tema à luz das Escrituras, de forma que sua interpretação deva ser preferida diante de outras).

O diálogo entre os proponentes de cada posição não costuma ser muito proveitoso, especialmente no que tange a proporcionar uma visão clara do pensamento teológico do outro grupo: geralmente, a pessoa conhece uma visão distorcida da teologia de seu irmão, uma caricatura teológica. 

Todo posicionamento teológico possui sua razão de ser, sua lógica interna - da mesma forma cada um destes posicionamentos teológicos pode ser tão mal-compreendido (inclusive por aqueles que os defendem) que venha a possuir também sua própria caricatura, tanto no que diz respeito à sua lógica interna, quanto à sua aplicação prática.

E geralmente, dentro da igreja, não se conhece a teologia do outro, mas apenas sua caricatura. 

O exercício de análise teológica acaba sendo o de refutar caricaturas - que não existem.

Calvinistas não são fatalistas e nem libertinos em decorrência de sua crença na perseverança dos santos - quem assim pensa demonstra que não conhece a teologia calvinista.

Arminianos não negam a soberania de Deus, mas a explicam de outra forma - quem acha que os arminianos assim pensam demonstra desconhecimento da teologia remonstrante.

Pentecostais não são místicos irracionais - quem assim pensa demonstra desconhecer os pressupostos teológicos da paracletologia pentecostal, tirando suas conclusões a partir da observação de grupos isolados. 

Cristãos cessacionistas não são "frios" - tal comentário demonstra desconhecimento do alto apreço que este grupo possui pela suficiência das Escrituras.

Pedobatistas não são romanistas - pensa assim quem desconhece o pressuposto teológico destes irmãos, de que toda a Igreja (inclusive as crianças) são o povo da aliança do Senhor.

E por aí vai, existindo muitos outros exemplos de caricaturas teológicas.

Como eu já disse, não estou defendendo a ideia de que todas as posições teológicas estão certas (isto seria ilógico até, visto que, em muitos casos, A exclui B).

Mas creio que faz parte do aprimoramento teológico e humano do cristão conhecer bem a teologia - tanto a que ele defende quanto a que ele refuta, a fim de que sua fé e seu exercício de pensar a fé não esteja fundamentado em preconceitos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

MEU ELOGIO A NED FLANDERS

Sei que não á possível falar de apenas "um" Ned Flanders.

Afinal, cada diferente episódio (e cada diferente roteirista) apresenta um novo olhar, uma nova forma de te definir, apesar de manterem, de forma consciente ou não, o mistério que há em você.

Não conseguiram negar o poder de sua fé genuína e os benefícios que ela traz aos que convivem com você.

Sim , pois no seriado que consagrou o deboche niilista como meio de crítica e denúncia, você permanece como um referencial de decência e sanidade.

Apesar de tudo.

Apesar de muitas vezes tentarem transformar você em um símbolo da obsolescência do Cristianismo, não conseguiram impedir que você fosse admirado.

Apesar de tentarem fazer de você o bode expiatório dos erros dos religiosos modernos e do passado, não conseguiram diluir a validade de sua crença e de seu exemplo.

Sua ingenuidade apenas dá testemunho da singeleza de sua fé.

Quando você se mostra limitado na compreensão dos aspectos mais amplos de sua crença,  você se irmana com todos aqueles que precisam crescer na graça e conhecimento de Jesus Cristo.

Seus erros dão testemunho de sua fragilidade - a qual você confessou e encarou de forma franca, diversas vezes.

Você é temente a Deus - e, justamente por isso, você se torna amigo de Deus e amigo do próximo.

E aí está toda a diferença.

Seu simples e ao mesmo tempo vasto legado consiste em estender constantemente a destra da amizade a um vizinho insuportável, mostrar-se mais devoto do que o clérigo de sua comunidade, ser um pai dedicado e um cidadão honesto e cortês.

Então, por demonstrar de forma tão clara prática o amor de Cristo, eu te dou meus parabéns, Ned Flanders!

Parabéns por seu bom testemunho durante estes 20 anos de "Os Simpsons"!

Parabéns por impedir que o seriado de maior longevidade na história da televisão ficasse totalmente secularizado!

Parabéns por fazer a diferença em Springfield!

E parabéns por mostrar que a fé, o amor e a esperança são ferramentas mais poderosas e eficazes que o deboche e o niilismo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A TEOLOGIA DO GRANDE AMOR



A repercussão causada pela traição de Kristen Stewart me fez pensar um pouco sobre as contradições de nosso tempo.

Vivemos em uma sociedade que valoriza cada vez mais a liberalidade no amor como forma de liberdade, mas que ao mesmo tempo rejeitou a atitude da jovem atriz.



Robert Pattinson e Kristen Stewart protagonizaram nos cinemas a saga Crepúsculo, o mais recente sucesso da literatura romântica (o vampirismo, na verdade, é apenas um tema menor dentro da obra, que é uma história de amor, em sua forma mais clássica, nobre e antiquada – e, aliás, para muitos críticos, é um mistério que um livro com uma ética tão retrógrada tenha feito tanto sucesso em nossos dias permissivos.).



Os romance dos dois jovens atores fascinava por dar continuidade, na vida real, ao romance da fantasia.

Era a concretização do final feliz – que veio por água abaixo com o affair da garota com o diretor de seu novo filme.



E vivemos em uma sociedade que não admite perder o final feliz de um conto de fadas romântico – e por quê, já que seu discurso e prática, com seus carnavais, baladas, bailes funk e coisas do gênero conspiram contra ele?

Por que, se os paradigmas de masculinidade e feminilidade de nosso tempo aboliram o “que até a morte os separe” como essencial para o final feliz?

Talvez por saber, sem assumir, que esta postura inviabiliza o “felizes para sempre”.



Parece que a permissividade é o discurso de nosso tempo, mas o desejo dos seres humanos de nosso tempo continua sendo o grande amor.

Prega-se a poligamia, mas se quer a monogamia.



Ouso dizer que, da mesma forma que Deus colocou a eternidade no coração dos homem, instigando-o para a transcendência (Eclesiastes 3.11), Deus também colocou no coração humano o desejo de viver um relacionamento significativo e exclusivo com outra pessoa  – ser uma única carne com alguém (Gênesis 2.18-25)*.

Uma figura tão poderosa que é símbolo do relacionamento de Cristo com Seu povo (Efésios 5.25-33).

Viver o grande amor. Não uma molecagem. É disto que os seres humanos precisam.



Mesmo que o discurso de nossa sociedade negue isto, como ato falho este anseio aparece, nas artes e nas canções - motivo pelo qual eu coloquei tantos "casais célebres" de nossa cultura neste post, como testemunho de como o grande amor é valorizado e ansiado.

E como testemunho e explicação também de como e porquê a sociedade sente-se frustrada quando a vida não imita a arte (arte que muitas vezes serve como escape da própria vida para as pessoas) - e acaba o que parecia ser um conto de fadas.
 
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*Exceção deve ser feita àqueles que, por dom e vocação divina, abrem mão desta vivência para dedicação exclusiva ao ministério (Mateus 19.12; 1 Coríntios 7.7).