domingo, 31 de janeiro de 2010

DIZENDO NÃO AO ESCAPISMO - UMA LEITURA TEOLÓGICA DE "CASA NO CAMPO"


















Eu quero uma casa no campo

Onde eu possa compor muitos rocks rurais

E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campo

Onde eu possa ficar no tamanho da paz

E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal

Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais

“Casa no campo”, composta por Zé Rodrix e Tavito, tendo sua mais marcante interpretação na voz de Elis Regina, é considerada uma das mais idílicas canções da música popular brasileira.

Agora mesmo acabo de ler um comentário de um fã entusiasmado sobre o “sonho de vida” que a canção propõe.


Realmente, as imagens que a música apresenta são encantadoras e convidativas: viver em um ambiente tranqüilo, longe de agitação, aproveitando os prazeres simples e essenciais da vida.


Quem não teve vontade de viver algo parecido?


Há, porém, um elemento na música que me chama muito a atenção e considero necessário submeter à crítica: o fato de que o refúgio tranqüilo de “Casa no Campo” é concebido como o abandono da metafísica (a investigação das questões subjacentes à realidade visível).

Veja bem:

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais

A visão de “paz” que a música apresenta requer o abandono de quaisquer tentativas de responder às questões últimas da vida, conformando-se com a realidade visível. Um estilo de vida escapista e materialista.

Nesta concepção, Deus e a fé ficam de fora da “Casa no Campo”.

Por quê?

Pensar naquilo que está além da superfície é penoso?

A fé implica em sofrimento?

De certa maneira, sim.


Escrevendo este post, lembro-me das palavras de James Montgomery Boyce, de que ser cristão implica em sofrimentos, naturalmente decorrentes de uma vida de renúncia ao egocentrismo, viver valores culturalmente não aceitos e dos conflitos espirituais inerentes a esta dinâmica.

Vendo por este ângulo, a proposta da “Casa no Campo” torna-se convidativa. Perigosamente convidativa.


Para nós, que temos naturalmente a tendência a relegarmos Deus a segundo plano e vivermos uma vida “tranqüila”, centralizando-a em nossas convicções e interesses, o abandono da metafísica parece ser uma excelente idéia!

Paulo mesmo chegou a imaginar como seria a vida em tais termos: “comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1.ª aos Coríntios 15.32).

Todavia, pensar assim causa um estranho desconforto. A sensação de que algo está errado, o que leva a romper com a vida proposta na “Casa no Campo”.

O que seria?


O fato de que não podemos deixar de conta o aspecto transcendental no qual nossa existência está inserida. Fazer isto significaria abrir mão de um significativo aspecto de nossa humanidade.

A existência humana não cabe em um reducionismo materialista.


Deus é grande demais para que deixemos de considerá-Lo e Ele está diante de nós, apresentando-se como parte de nossa realidade, reivindicando o exercício de Seu Senhorio sobre nossas vidas e de Sua redenção sobre nossas histórias.

Como o apóstolo disse, concluindo seu argumento sobre o que o levava a viver como cristão, aceitando todos os sofrimentos que sua carreira de pregador acarretava: "Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem." (1.ª aos Coríntios 15.20)

Sendo assim...

Posso até querer uma casa no campo (mas não muito longe da cidade, por favor!).

Um lugar para meus amigos.

Meus discos e livros.

E também para o meu Deus. Ele é indispensável.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

FELIZ ANO NOVO ELEITORAL - DE ALCKMIN A MCCAIN


Parece assunto batido, mas não é. Principalmente por estarmos em ano eleitoral.


Por isso vou falar da campanha à prefeitura municipal de 2004.


Naquela época, Geraldo Alckmin (PSDB) era o governador do estado e José Serra pleiteava a vaga de prefeito da capital paulista.


Na campanha, durante o horário eleitoral gratuito, Alckmin apareceu no programa de Serra, utilizando o seguinte argumento para angariar votos para o candidato de seu partido:


“O meu prefeito é o Serra. Eu vou trabalhar bem com ele, e não com outro”.


Ao dizer tais palavras, o senhor Geraldo Alckmin perdeu toda credibilidade para mim.


Seu discurso me enojou na época e até hoje fico indignado ao me recordar destas palavras.


Quer dizer que se perde de vista o interesse popular quando o prefeito não é do mesmo partido que o governador?


Quem governa para o povo não deve “trabalhar bem” com qualquer que seja a pessoa escolhida pelo próprio povo?


O povo não pode esperar que seus representantes eleitos cumpram seu dever e trabalhem juntos para promover o bem comum?


Devo entender como sabotagem a afirmação de que o governador só “trabalharia bem” com um candidato que também pertencesse ao PSDB?


A fala de Alckmin me indignou por refletir um dos piores traços de nossa política: o fisiologismo.


A palavra significa, literalmente, pensar sobre algo concreto, o que na política consiste em administrar tendo em vista vantagens partidárias ou pessoais. Ou seja, é a política do “toma lá, dá cá”.


Por causa do fisiologismo, projetos importantes para o desenvolvimento do país não saem do papel.


Por causa do fisiologismo, uma chapa barra o trabalho da chapa de grupos oriundos de partidos opositores.


Por causa do fisiologismo, nossos líderes não conseguem fazer a coisa certa, cassando e prendendo os políticos corruptos: com medo do desagrado de seus partidos de origem, que se oporiam gratuitamente a qualquer projeto governamental, faz-se “vista grossa” a tais casos.


Por causa do fisiologismo, a corrupção encontra mais condições de prosperar em nosso meio político: afinal se a política é movida em torno de interesses pessoais/partidários, deve-se achar meios de satisfazer estes interesses (geralmente, de forma financeira ou com a distribuição de cargos), sempre espoliando o povo.


E discursos como o de Geraldo Alckmin (“trabalho bem com quem é do meu partido”) só tendem a perpetuar este estado de coisas.


John McCain nos apresenta uma abordagem diferente:


Ao perder a eleição presidencial nos EUA para Barack Obama, o candidato republicano declarou, com elegância e senso de cidadania: “Antes, ele era meu rival. Agora ele é meu presidente”.


Que diferença em relação a nossos políticos!


A fala de McCain expressa a visão que a política e os políticos servem (aliás, só serve) para a promoção de um bem maior, e que o seu papel exige a renúncia de interesses e divergências pessoais para servir publicamente.


Não sei quando teremos políticos que se expressem e ajam com mais lucidez. Não sei quanto tempo levará para extirparmos a prática do fisiologismo na administração pública. Mas certamente as eleições de 2010 se nos apresentam como mais uma tentativa e, também, como uma abençoada oportunidade.


PS: Este post não é apolítico, mas é escrito de forma apartidária.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

UMA LEITURA TEOLÓGICA DE “A NOVIÇA REBELDE”


Em casa, de férias, estou tendo a oportunidade de ver e rever a alguns filmes. Foi em uma dessas noites que decidi assistir novamente o longa A Noviça Rebelde.

Previa me deleitar tranquilamente com a bela fotografia do filme, com a música encantadora e com a história singela (a própria Julie Andrews, na introdução do DVD que adquiri, acredita que uma das razões que expliquem o sucesso do filme seja a decência dos valores que promove) quando percebi que na própria trama do filme havia um fato bastante incômodo e perturbador.

O filme, basicamente, conta a história de Maria, uma noviça que é enviada para trabalhar como governanta à casa da família Von Trapp, comandada com mão de ferro pelo pai, amargurado pela morte da esposa e incapaz de se relacionar com seus sete filhos. Entre traquinagens das crianças, muita música e a ternura de Maria, ela consegue levar o patriarca a rever suas perspectivas de vida, re-humanizando seu lar e seu relacionamento com os filhos. Daí o título original em inglês, The Sound of Music, “O Som da Música”, pois, comovido, o capitão Von Trapp agradece a Maria por ter trazido de volta a música a seu lar e se casa com ela.

(Outro tema importante do filme é a oposição da família à ascensão do nazismo na Áustria).

O que me perturbou imensamente foi o próprio fato que desencadeia toda a história do filme: Maria é mandada à casa da família Von Trapp porque não servia para o convento, por ser alegre demais!

Uma das primeiras canções do filme, que mostra as religiosas debatendo sobre o perfil de Maria, leva-as a indagar: “O que faremos com o problema que é Maria?"

Geralmente as pessoas adotam uma postura de preconceito contra o cristianismo, por considerem-no oposto à alegria. Lamentavelmente este preconceito tem precedentes históricos que o alimentam: durante muito tempo, vários segmentos da Igreja agiram desta forma, entendendo a alegria como um problema.

Eu mesmo, em meus primeiros contatos com a Igreja, fiquei surpreso ao descobrir que um crente podia dar risada!

Este conceito de religiosidade de “cara amarrada” nada tem a ver com a Palavra de Deus, que apresenta a alegria como um de seus mandamentos (Filipenses 4.4) e descreve o Evangelho como a alvissareira “Boa Notícia” de Deus aos homens.

Biblicamente falando, ser alegre é um mandamento de mesmo nível que não roubar ou assassinar.

Lamento que alguns cristãos tenham ofuscado o colorido da Palavra de Deus com a opacidade de seus conceitos e oro para que as pessoas consigam compreender o Evangelho, apesar das falhas históricas da Igreja.

Concluo esta reflexão com uma das duas observações que meu filho Rafael fez enquanto assistia ao filme comigo.

A primeira, que me deixou cheio de orgulho, foi quando ele percebeu que o título original, “The Sound of Music”, não batia com o título em português dado ao filme.

Já a segunda foi quando, em certa altura do filme, após ter observado a personagem Maria, ele perguntou:

“Pai, ela é rebelde”?

Não respondi diretamente. Ele tem apenas seis anos, não quero expor-lhe a um dilema deste tipo.

Mas gostaria de responder-lhe, se ele fosse mais velho e tivesse mais maturidade:

“Não, meu filho, ela não é rebelde.

Rebeldes são aqueles que tentam transformar o Evangelho de Jesus em uma religião sem alegria, contra a vontade dEle”!

domingo, 10 de janeiro de 2010

COMO DEUS PODE USAR SEU SOFRIMENTO

Não me recordo se foi em Memórias Póstumas de Brás Cubas ou em Quincas Borba que Machado de Assis narrou o caso de um escravo que, obtendo alforria, logo tratou de comprar um escravo para si para poder também espancá-lo.

Toda experiência de sofrimento é dolorosa não pode ser menosprezada. Gera cicatrizes, quer no corpo ou na alma. Todavia, é essencial aprender a lidar com o sofrimento de forma a não permitir que ele transtorne nosso caráter. O que sofremos é menos importante que a maneira como reagimos ao que sofremos.

A Bíblia ensina que Deus pode gerar resultados positivos das más experiências que temos na vida:

1) Diversas virtudes como empatia, compaixão, misericórdia, humildade e auto-crítica podem ser desenvolvidas durante períodos de aflição de uma forma que não seria possível em outras circunstâncias – ou seja, a dor pode ser um instrumento utilizado por Deus para nos tornar homens e mulheres melhores, nos conduzindo ao amadurecimento (Salmo 119.67; 2.ª aos Coríntios 12.1-10).

2) Passar por situações difíceis nos capacita a ajudar pessoas que estejam passando por estas mesmas circunstâncias. Ou seja, temos experiência para lhes transmitir consolação (2.ª aos Coríntios 1.4).

3) Toda experiência de sofrimento é tanto um convite de Deus para o amadurecimento quanto uma oportunidade que Satanás utiliza para tentar nos corromper (no grego original, a mesma palavra, peirasmos, significa tanto “provação” quanto “tentação”). Sendo assim, a vitória sobre o sofrimento nos leva ao aperfeiçoamento de nossas defesas espirituais (1.ª de Pedro 5.8-9).

4) Além disso, nossas experiências com o sofrimento também exercem impacto sobre aqueles que nos cercam, sendo um testemunho vivo e ao mesmo tempo didático sobre o poder de Deus (Salmo 40.1-3).

5) Nossa fé no Senhor é aperfeiçoada (Romanos 5.3-5; 1.ª de Pedro 1.6-7).

Talvez você não tenha concordado com a abordagem que realizei, ou não acredite que ela se aplique na circunstância em que você se encontra.

Sendo assim, faço apenas esta colocação:

Se simplesmente o teu sofrimento não te corromper de tal forma a levar você a fazer parte dos algozes (tal como no exemplo extraído da obra de Machado de Assis), a humanidade já agradece.

Já será um grande passo.

As demais coisas Cristo esclarecerá em seu coração.

domingo, 3 de janeiro de 2010

PENSE NISTO - Uma palavra de Billy Graham


"À medida que o crente, Bíblia à mão, analisa o cenário mundial, ele sabe que não adoramos um Deus ausente. Sabe que Deus está nas sombras da história e tem um plano. O crente não deve se perturbar com o caos, a violência, a contenda, o derramamento de sangue e as ameaças de guerra que enchem diariamente as páginas dos nossos jonais. Sabemos que estas coisas são conseqüência do pecado e da cobiça. Todos os dias, vemos milhares de evidências do cumprimento das profecias bíblicas. Todos os dias, ao ler o meu jornal, digo: 'A Bíblia é a verdade'.
Não importa qual seja o presságio para o futuro, o cristianismo conhece o final da história. Estamos nos dirigindo a um clímax glorioso. Todos os escritores do Novo Testamento crêem que o 'melhor ainda está por vir'.
Como disse John Baillie: 'A Bíblia mostra que o futuro está nas mãos de Deus. Se estivesse em nossas mãos, faríamos dele uma grande confusão. O futuro não está nas mãos do Diabo, porque assim ele nos levaria à destruição. O futuro não está à mercê de nenhum determinismo histórico, nos fazendo avançar às cegas, porque assim a vida não teria sentido. O futuro está, sim, nas mãos daquEle que está preparando algo melhor do que os olhos já viram ou que os ouvidos já ouviram, ou que já tenha passado pelo coração do homem, fazendo-o imaginar.'"