quarta-feira, 30 de março de 2011

QUANDO A EVANGELIZAÇÃO DE TORNA DESANIMADORA

Qualquer cristão que já tentou compartilhar sua fé através da pregação do Evangelho já passou por situações difíceis e inusitadas, podendo relatar diversas experiências.
 
Sim, pois dada a dureza natural do coração humano, a evangelização é um ministério extremamente árduo, que somente consegue obter êxito pelo poder do Espírito Santo, que torna as pessoas receptíveis à mensagem do Evangelho.

Hoje em dia, porém, o ministério de Evangelismo pessoal se depara com uma nova realidade: graças ao acesso à mídia e ao crescimento do evangelicalismo no Brasil, raramente anunciamos a fé a pessoas que não disponham de informações prévias sobre o cristianismo.

O único problema é quando estas informações não ajudam a pessoa a formar um conceito sadio sobre o Evangelho e a natureza da Igreja (muitas vezes porque as próprias informações originais não apresentam um conceito sadio sobre o Evangelho e a natureza da Igreja), levando-as, antes, a formarem preconceitos.

Sendo assim, o trabalho de Evangelismo pessoal consiste em grande medida, de plantar a semente do Evangelho, arrancando as ervas daninhas oriundas do falso evangelho.

É evangelizar desevangelizando!

Hoje em dia, se faz necessário, ao apresentar o Evangelho, tirar da cabeça das pessoas a ideia de que queremos o dinheiro dela, pois esta é uma ideia errônea, que se constitui em um obstáculo à fé.

Também se faz necessário explicar, como adendo, que o relacionamento com Deus não é mediado através do dinheiro, esta é uma ideia errônea, que se constitui em um obstáculo à fé, mas através de Jesus Cristo.

Hoje em dia, se faz necessário, ao apresentar o Evangelho, tirar da cabeça das pessoas a ideia de que pastores vivem uma vida cheia de regalias, pois esta é uma ideia errônea, que se constitui em um obstáculo à fé, falando-lhes a verdade de que os pastores brasileiros, em sua maioria, são pessoas íntegras que servem a Deus e à Igreja por amor, com enorme desprendimento e sacrifício pessoais e muito pouco reconhecimento.

Hoje em dia, se faz necessário, ao apresentar o Evangelho, tirar da cabeça das pessoas a ideia de que a Igreja é uma elite, um grupo de pessoas que se aacha superior às demais, pois esta é uma ideia errônea, que se constitui em um obstáculo à fé, visto que a Igreja é uma comunhão de pessoas humilhadas, que reconhecem sua fragilidade diante de Deus e dos homens, percorrendo assim, com lágrimas e esperança, o caminho do aprimoramento no discipulado cristão.

Hoje em dia, se faz necessário, ao apresentar o Evangelho, tirar da cabeça das pessoas a ideia de que nossas diferenças com outras confissões religiosas seja meramente uma questão de implicância pessoal, esta é uma ideia errônea, que se constitui em um obstáculo à fé porque desconsidera a seriedade das questões teológicas, do fato de que Deus deixou testemunho de Si mesmo em sua palavra, não nos deixando num vácuo religioso relativista.

Hoje em dia, se faz necessário, ao apresentar o Evangelho, tirar da cabeça das pessoas a ideia de ser cristão é uma questão de estética, resumindo-se a saias, cortes de cabelos e afins: esta é uma ideia errônea, que se constitui em um obstáculo à fé, minimizando a profundidade da experiência espiritual cristã, reduzindo-a ao nível de regras humanas.

Hoje em dia, se faz necessário, ao apresentar o Evangelho, tirar da cabeça das pessoas a ideia de que simplesmente as estamos chamando para ir à igreja, pois esta é uma ideia errônea, que se constitui em um obstáculo à fé ao apresentar o ritualismo como substituto da comunhão com o Deus vivo, que se dá em 7 dias da semana e 24 horas por dia.

Hoje em dia, se faz necessário, ao apresentar o Evangelho, tirar da cabeça das pessoas a ideia de que a Bíblia é machista: não, a verdade é que existem cristãos machistas.

Hoje em dia, se faz necessário, ao apresentar o Evangelho, tirar da cabeça das pessoas a ideia de que o Evangelho é alienação e a Igreja um local de lavagem cerebral, esta é uma ideia errônea, que se constitui em um obstáculo à fé apresentada na Bíblia como emancipadora, formadora de indivíduos conscientes e críticos.

A lista ainda poderia se estender muito... mas o que desanima não é o fato de realizar uma abordagem dupla no evangelismo contemporâneo (“evangelizar desevangelizando”), afinal, o exercício da apologética faz parte da evangelização.

O que desanima é a quantidade absurda de vezes que isso se tem feito necessário!

Sinal que hoje em dia as pessoas não tem recebido informações prévias sobre o Evangelho corretas (via rádio, TV, contato com outros cristãos), e/ou têm se abstido de refletir com mais profundidade para construir conceitos coerentes sobre o assunto mais importante da existência humana: o relacionamento com Deus.

domingo, 20 de março de 2011

A TOLICE DE GLAMOURIZAR O MAL


A suavidade do bem não soa tão atrativa quanto a agressividade do mal para resolver os problemas da vida cotidiana.

O bem perdoa, o mal detona.

Sendo assim, assumir uma postura de "cara mau" acaba significando adotar o não-conformismo como estilo de vida: uma postura aguerrida, de alguém que sabe se impor e sabe que precisa se impor.

É a postura de alguém que decidiu que não será tragado pelo sistema, por seus inimigos ou pelas circunstâncias adversas.

É a escolha correta e necessária, ainda que selvagem na luta pela sobrevivência, onde só vence o mais forte. A atitude de quem entende que o mundo é uma selva.

O mal se torna força e poder. Impõe respeito.

Faz sucesso com as mulheres.

Até o rei do pop sentiu a necessidade de cantar que era mau - e os que repetem o refrão "I’m bad" assim o fazem por achar que esta é a resposta que o mundo precisa ouvir para que os respeite.

Como vivemos em um mundo em que estilo de vida é um produto vendável, é claro que a mídia e o mercado vão explorar o elogio à maldade.

Artistas “de atitude” se tornarão novos ícones (e novos garotos-propaganda) para esta sociedade onde ser "bad" é chique!

A cultura de glamourização do mal não sobrevive, contudo, a testes mais rigorosos – a começar por seus pretensos adeptos, cheios de “ousadia” e “atitude”, mas que de nenhuma maneira são coerentes.

Por que digo que não são coerentes?

Porque ninguém que glamouriza o mal o faz até as últimas consequências, ou seja, de forma lógica.

Nenhum “sujeito de atitude” deseja ver uma sociedade onde impere o caos e a violência.

Nenhum “cara que põe a banca” propõe a institucionalização do estupro, da tortura e do infanticídio.

Nenhum “cara animal” sonha com um mundo em que a civilidade seja extinta.

Isto seria a consequência lógica da cultura de glamourização do mal levada às suas consequências coerentes.

Mas porque não é assim?

Porque nenhum “bad boy” deixa de ter entes queridos, nem vive sem o desejo de amar e ser amado.

Isto é sinal de que estas pessoas não querem o mal de verdade. Estão carentes de outra coisa. Algo que elas nem mesmo conseguem nomear.

E aí chegamos ao segundo ponto de nossa crítica: a postura “bad”, na verdade, nada mais é que um apelo disfarçado por autenticidade (diante de um sistema que massifica), coragem (diante de uma realidade que precisa ser transformada) e justiça (diante de um mundo que não respeita direitos).

Todavia, nada disto é “bad”! 

É precisamente no Evangelho de Jesus Cristo (que para muitos é sinônimo de uma cultura de inautenticidade, repressão e injustiça que precisa ser superada), que tais virtudes são anunciadas, ensinadas, promovidas e encorajadas de forma mais cabal, através do caminhar em amor do discipulado cristão.

Nada disto é “bad”. Talvez nem imponha respeito ou traga popularidade.

Mas é o projeto de vida genuíno proposto por um Deus que não aceita, como forma de luta contra a inautenticidade e a injustiça, glamourizar outra forma de inautenticidade e injustiça.

terça-feira, 15 de março de 2011

SOBRE DANILO GENTILI E A FILHA PELADA DO PASTOR



Tem circulado na Internet uma entrevista onde Danilo Gentili comenta seu passado como membro da igreja evangélica.

Dentre as declarações, conta que desejou ser pastor, que chegou a pregar e que a primeira mulher nua que viu na vida foi a própria filha do pastor.

Para alguns (embora, o comediante em pessoa não tenha chegado a afirmar isto), o comportamento da moça foi um desabono à igreja evangélica.

E eu digo que não.

"A filha do pastor ficou nua diante de Danilo Gentili", afirmam.

E eu pergunto: "E daí"?

E, ao perguntar "e daí", não o faço por desdém, por banalizar o pecado ou como um incentivo ao erro (e quem me conhece pessoalmente sabe qual é minha postura e convicções), mas pelas seguintes razões:

1) A filha do pastor desnudou-se diante de Danilo Gentili - engraçado é que ninguém comenta nada das centenas de filhas de médicos, advogados,  empresários, políticos e outros que se desnudaram no Carnaval - o que soa para mim como um terrível caso de hipocrisia social.

2) Por que seria vedado à filha de um pastor a realidade de sua humanidade e fragilidade? Uma filha de pastor é imune a conflitos com sua sexualidade e feminilidade? Uma filha de pastor não pode cometer erros? Não peca? Note que usei a palavra "pecado" para definir o comportamento da moça, mas saber que estamos diante de um pecador é insuficiente se não compreendermos também,e acima de tudo, que estamos diate de alguém que precisa de ajuda.

3) É perigoso considerar que o comportamento da moça desabona a igreja evangélica (e, assim, "descer a lenha" sobre ela de maneira simplória  porque isto mostra um entendimento errado sobre a própria natureza da Igreja: em primeiro lugar, porque uma instituição sempre é maior do que os indivíduos que a compõem, de forma que, o fracasso de um indivíduo em preservar os ideiais da instituição os invalidam e nem desabonam a instituição em si, mas o indivíduo. E, em segundo lugar, porque a Igreja é composta de pecadores. 

Que tipo de pecador compõe a Igreja? 

É necessário fazer esta pergunta porque, embora a Igreja seja composta de pecadores, nem todo pecador pertence à Igreja - qual a fronteira de delimitação?  

A Igreja é formada por pecadores que não se conformam a seu pecado e buscam, com a ajuda da graça de Deus, melhorar.  

A Igreja é formada por aqueles que entendem que seu pecado ofende a Deus.

Por aqueles que sabem que não podem emendar-se por si mesmos. 

Por aqueles que, apesar da realidade de seu pecado, o contrapuseram à cruz de Cristo e obtiveram esperança através do amor de Deus.

Por aqueles que compreendem que "salvação" é um conceito que invade o tempo e desemboca na eternidade, aceitando viver o desafio de seguir a Cristo - o que significa o desafio de ser um homem ou mulher melhor.

A Igreja é formada por pessoas falhas. Por pessoas que falham. Por pessoas que falharão. Mas que estão tentando vencer suas falhas na presença de Deus.

E isto faz toda a diferença! 

Neste sentido,  a Igreja é um espaço terapêutico e de aprendizagem - a longo prazo.

Por isso, ela é um local de esperança. Esperança que inclui a filha do pastor, também. 

Quando pregamos o Evangelho, devemos deixar  claro que o Salvador não veio apenas para atender às carências dos ouvintes da mensagem - mas também daqueles que a pregam.

Caso contrário, nossos ouvintes nunca entenderão o Evangelho. 

***
Espero que a filha do pastor tenha conseguido vencer seus conflitos e fraquezas e  que hojeesteja firme e feliz na presença de Deus.

E quanto ao Danilo, espero vê-lo algum dia assim:


Tendo superado suas dúvidas.

Tendo superado suas experiências negativas com a Igreja.

E tendo entendido que nada pôde nublar a realidade do amor de Deus e os seus propósitos para sua vida.

Que o Senhor abençoe seu coração para buscá-Lo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

PEDRO, PAULO E NOSSO RELACIONAMENTO COM ELES

Não é exagero falar que, depois do Senhor Jesus, Pedro e Paulo são os personagens mais importantes do Novo Testamento.

Da mesma forma, também são os mais amados.

Por razões diferentes, no entanto.

Em Pedro enxergamos o nítido retrato da humanidade – o que sempre corresponderá a um quadro de fragilidade: sua impulsividade, sua fanfarronice, suas ideias absurdas, sua demora em aprender, e seu amor sincero por Jesus.

Amamos Pedro porque enxergamos a nós mesmos nele.

Com Paulo a situação toma outro rumo: amamos sua constância, dedicação, energia, vanguardismo e coerência. Amamos Paulo porque vemos nele a realização de um ideal que gostaríamos de alcançar em nossas próprias vidas.

Pedro desperta em nós cumplicidade. Paulo provoca admiração.

Rimos de Pedro, o trapalhão. Ficamos graves diante de Paulo, o apóstolo aos gentios.

Ouso dizer que somos esmagados pelo gigantismo que representa a figura de Paulo, que se torna, ao mesmo tempo para nós, desafio e frustração, e que respiramos aliviados diante de Pedro: ele é uma válvula de escape para nós.

Pedro, humano demais; Paulo, às vezes aparentando ser sobre-humano.

Nossa relação com Paulo apresenta um binômio de amor/frustração, ao passo que com Pedro somos tomados de amor/irritação (sim, pois mesmo que vejamo-nos a nós mesmos na trajetória de Pedro, impacientamo-nos com a demora do apóstolo em amadurecer – queremos ver mais dele, da mesma forma que queremos ver mais de nós).

Nossa análise dos apóstolos seria injusta se terminasse por aí, pois estaria se limitando apenas às impressões iniciais que estes homens nos passam.

Quando penetramos mais profundamente no pensamento destes homens, em um exame mais  minucioso do que eles viveram e escreveram, as primeiras impressões desaparecem.

Conhecemos um Paulo que se considerava portador de defeitos piores que Pedro – a ponto de ter sua tendência ao orgulho necessariamente sob a disciplina de um espinho na carne.

Conhecemos um Paulo que considerava todas as realizações de sua vida como obra da graça de seu Senhor em si.

Conhecemos um Paulo que se gloriava de suas fraquezas e falava delas com franqueza.

Conhecemos um Paulo que considerava-se longe da perfeição, jamais deixando de engajar-se em seu aprimoramento pessoal.

Conhecemos, enfim, um Paulo que azia a apologia do demérito – e, acima de tudo, um homem totalmente fascinado pela figura de seu Senhor.

Da mesma forma, em Pedro, conhecemos um homem que revelou-se mais que um trapalhão, mas alguém que aprendeu através do erro.

Conhecemos um Pedro que, tendo escrito menos que seu colega Paulo, nos legou a peça mais importante da Bíblia acerca do sofrimento cristão.

Conhecemos, enfim,um Pedro que cumpriu o propósito de seu Senhor, pastoreando as suas ovelhas – o trapalhão,afinal, evoluiu.

Que bom que nenhum relacionamento sério é construído através de impressões superficiais!

Permitindo que estes homens falem por si mesmos acerca de si e de sua experiência de fé através das páginas das Escrituras, nos livramos do fardo de estabelecer um relacionamento contraditório com eles, percebendo que, apesar de suas diferenças, ambos eram igualmente dependentes da graça de Deus e amados por seu Senhor.

Assim como nós.