quinta-feira, 24 de novembro de 2011

SÉRIE "ESCLARECIMENTOS" (I): APRESENTAÇÃO DE CRIANÇAS (ATUALIZADO!)

Movido mais pelo dever do que pelo prazer, inicio esta nova série, cujo objetivo principal é debater e desmistificar alguns conceitos que circulam pela igreja e se tornaram lugar comum, seja pela má interpretação de alguns textos bíblicos ou pela força do hábito.



A rejeição do pedobatismo (batismo de crianças) pela grande maioria das igrejas evangélicas brasileiras, não as levam a agir de forma indiferente com os recém-nascidos - como estas igrejas entendem que o batismo bíblico sempre é um ato voluntário requerido pelo próprio batizando)*,  não é ministrado o batismo aos bebês, mas eles são apresentados ao Senhor.

Este ato, realizado dentro da própria liturgia do culto, envolve:

  1.  Gratidão a Deus pela nova vida;
  2. Exortação aos pais para que instruam a criança no temor do Senhor**;
  3. Oração intercessória pela criança e pelos pais, para que sejam aptos a realizar tal tarefa.
 A cerimônia de apresentação traz muita alegria para a igreja e para os familiares do bebê.

O problema é a base teológica comumente utilizada para tal ato:

Não raro os pastores que ministram a apresentação do bebê dizem que realizam o ato seguindo o modelo do Senhor Jesus, que também foi apresentado no templo (sendo muito comum a leitura da passagem correlata de Lucas 2.22).

É justamente esta transposição que é inadequada - a apresentação do Senhor Jesus no templo é um ato totalmente distinto da apresentação de bebês praticada pela igreja brasileira contemporânea.

Jesus foi apresentado no templo, em cumprimento à exigência da lei mosaica de consagração (ou resgate) dos primogênitos (Êxodo 13.1, 11-14; Levítico 12.1-8). Sendo assim, a apresentação do Senhor Jesus:

  1. Era uma disposição cerimonial da lei judaica (veja Gálatas 4.4);
  2. Era um ato estendido a todos os primogênitos judeus (ou seja, Lucas 2.22-24 não cria um novo paradigma);
  3. Era um ato que envolvia a circuncisão (Levítico 12.3);
  4. Era um ato que exigia a purificação cerimonial da mãe (Levítico 12.1,4);
  5. Exigia a apresentação de dois animais como sacrifício (um como holocauto pelo pecado e outro como oferta para o pecado), que poderiam ser um cordeiro e uma pomba ou rolinha ou, no caso das famílias pobres, duas pombas ou rolinhas (como foi o caso da família de Jesus – veja Levítico 12.6-8 e Lucas 2.24).
Se continuarmos insistindo que a apresentação contemporânea de crianças segue os mesmos moldes da apresentação de Jesus no templo, então:

  1. Estaríamos afirmando a vigência da Lei cerimonial mosaica, com seus ditames sobre pureza cerimonial e sobre a circuncisão (Gálatas 3.23-25);
  2. Meninas não poderiam ser apresentadas no templo, e nem os filhos não-primogênitos;
  3. Algum tipo de oferta/sacrifício teria de ser exigido dos pais – algo inadmissível diante da Nova Aliança e do sacrifício perfeito de Cristo (Hebreus 9.11-15).
Sendo assim, como devemos compreender o ato de apresentar a Deus os recém-nascidos, intercedendo pelo seu bem-estar e de sua família?

Simplesmente assim: como um ato de intercessão pelo bem-estar da criança e de sua família!

As coisas não perdem seu valor por se revestirem de simplicidade.

Sendo assim, continuemos apresentando nossos filhos ao Senhor – mas com uma compreensão mais adequada do ato que estamos realizando***.

* Uma excelente abordagem das diversas visões acerca do batismo dentro da cristandade encontra-se no livro “Águas que Dividem”, de Donald Bridge e David Phypers. Confira em  http://www.editoravida.com.br/loja/product_info.php?products_id=198

** A cerimônia de apresentação é aberta a famílias evangélicas e não-evangélicas. Geralmente o ministro pergunta aos pais se estes se comprometem a criar a criança nos caminhos do Senhor. Tenho muita dificuldade, porém, quando este compromisso é solicitado a uma família não-evangélica – afinal, como aqueles que não seguem o Evangelho vão ensinar seus filhos a fazê-lo? Em minha opinião, tal compromisso não deveria ser solicitado, devendo ser substituído por uma exortação para que os pais aceitem a Cristo – o que, certamente, irá capacitá-los a construir um lar melhor e assim educarem seus filhos no temor do Senhor.

 *** Particularmente, creio que leituras mais adequadas para a ocasião são: Deuteronômio 6.4-9; Marcos 10.13-14 ou Efésios 6.4.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

SOBRE PREGADORES E VENDEDORES DE CARRO

Existem grandes semelhanças entre o ministério do pregador e o ofício de um vendedor de carros.

Consigo extrair 2 lições desta comparação que nos alertam sobre a natureza da pregação:

1. A pregação deve ser sempre exposição bíblica: o vendedor de carros não desperdiça o precioso tempo em que ele estabelece diálogo com alguém falando de si mesmo ou contando vantagens - esle seria tolo se assim fizesse e não cumpriria sua missão. Pelo contrário, ele foca sua fala em torno do carro, expõe suas qualidades e características, a fim de que o cliente em potencial possa tomar uma decisão consciente. Da mesma forma, um pregador não é chamado para desperdiçar o precioso tempo do púlpito, falando de si mesmo ou de assuntos inconvenientes, mas deve expor a Palavra de Deus. Sempre saliento aos jovens que aconselho que o poder da mensagem bíblica provém tão somente da base bíblica da mesma. Pregue a palavra, pregador - faça apenas isto - e terá cumprido bem seu papel.

2. A pregação deve ser honesta: da mesma forma que honestidade é um pré-requisito para o vendedor de carros, o mesmo se aplica ao pregador: um mau vendedor de carros se vale de mentiras para cumprir o seu objetivo. O pregador também deve ter o mesmo cuidado em não apresentar uma mensagem mentirosa - e ele sempre faz isto quando faz promessas que Deus não fez e cria expectativas que a Bíblia não sustenta. Ou seja, à semelhança do ´mau vendedor de carros que apela para a desonestidade para vender seu produto (deixando claro que não são todos os vendedores de carro que assim procedem), ao se tornar ávido por números impressionantes e grandes multidões, o pregador se torna mais propenso a corromper sua mensagem, apresentando um "evangelho" ao gosto do freguês - mas um evangelho falso, que, assim como um carro com defeito, será um atraso de vida para  a pessoa que o recebeu.

PARA FICAR CLARO QUE DEUS NÃO SE PRESTA À BARGANHA...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

PENSE NISTO: UMA PALAVRA DE EDNILSON CORREIA DE ABREU

PASTOR , NÃO MORRA.

"Há poucas horas acabei de ler no blog.pastors.com (31/10/2011) produzido pela Sadleback Church que o pastor chamado Kim Hall, que serviu por 20 anos como pastor da Hunter’s Glen Baptist Church , Plano, Texas (EUA), cometeu suicídio.
 
Por que algo assim tão terrível acontece com um pastor?

Muitas conjecturas podem ser feitas, mas as certezas finais sobre tudo só o Senhor o sabe de fato.


Com o coração tocado por esta notícia quero lembrar aqui algumas verdades simples e já conhecidas sobre e para nós pastores.

 
1- Cada pastor é um ser humano, com todas as carências e dificuldades inerentes a natureza caída que todos temos. Esquecer isso é fatal.
 
2- As exigências ministeriais são sempre maiores do que o pastor, como ser humano pode de fato suprir, por isso temos que, como pastores, ser realistas em nossas limitações e ensinar o povo que é assim e nunca será diferente, nunca alcançaremos todas as expectativas, e tentar faze-lo nos conduzirá à doenças e a morte e isso não é plano de Deus.
 
3- Cada pastor, como ser humano precisa viver totalmente na graça, pois na atmosfera de graça podemos respirar um ar renovado para restaurar a alma e seguir adiante.
 
4- Cada igreja deve olhar para o seu pastor como um ser que precisa ser amado, respeitado e reconhecido como mais um ser humano dentro de uma congregação de seres humanos e não de fazedores religiosos humanos. Nós pastores temos de ensinar isso à igreja.
 
5-Não se isole nunca pastor, ache um amigo ou amigos verdadeiros, não competidores por numeros ministeriais ou hipócritas institucionais, ache um outro pastor que se vê como um humano pastor e não como uma máquina eclesiástica.
 
6-Pastor busque uma proximidade vital com Jesus, ame a Jesus, se deleite nele, receba o amor dele, chore, quebrante-se e alegre-se diante dele. Ele nos ama é deseja ter uma real comunhão com cada um de nós.

Concluindo, amados colegas pastores, não se superestime, não carregue fados que não podem e nem deve ser carregados, não assumam o papel de pseudo mártir e nem de Deus.

 
Sejamos apena servos, co-pastores de Jesus, mantendo as “artérias emocionais” desobstruídas, livres e desentupidas da amargura, do rancor, do ódio, da frustração, de pecados ocultos e de outros venenos afins.
 
Lute por aquilo que de fato vale à pena lutar, priorize seu relacionamento com Deus e sua família.
 
Quanto mais sadios formos nós, naturalmente inspiraremos a igreja, não permita que membros doentes adoeçam você. E nunca se esqueça que nada é maior do que a graça que o Pai, em Cristo, no agir do Santo Espírito já derramou sobre a sua vida.
 
Amado pastor, não se mate, mas viva".

Ednilson Correia de Abreu
Pastor da PIB em João Neiva - ES
www.gracaparahoje.com