quarta-feira, 14 de novembro de 2012

REAVALIANDO O SIMPLISMO EVANGÉLICO

O discurso evangélico é simplista. Enfatiza que somente (e apenas) Jesus é a solução para o problema humano. Sua tese, portanto, é a de que tudo que o homem necessita é receber Jesus Cristo.

Na verdade, este simplismo é verdadeiro e não há nada de errado com ele. Aliás, é bom quando o discurso evangélico consegue alcança tal grau de singeleza (2.ª aos Coríntios 11.3).

No século V Agostinho, definiu o mal como privação do bem. Sendo Deus o bem supremo, aproximar-se de Deus constitui-se na solução do problema ontológico e ético do ser humano, tanto individual quanto coletivamente.

Esta é a mensagem cristã: as pessoas precisam desesperadamente de Deus (ainda que não reconheçam) e Deus é acessível através de Cristo.

Simples, não?

Há uma crítica a ser feita, porém – não ao simplismo do discurso evangélico, mas à interpretação e aplicação simplista do discurso evangélico.

É absolutamente correto afirmar que receber a Jesus é a única e exclusiva solução do problema humano, MAS:

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus é compreendido apenas como uma alteração de hábitos religiosos;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus é desvinculado de sua dimensão ética;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus se torna um exercício de individualismo, não se prestando à formação do espírito de comunidade;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus é compreendido apenas como uma garantia de bem-aventurança pós-morte, sem a realidade da bem-aventurança presente;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus não é compreendido como o caminho para a formação de um ser humano melhor, em todos os aspectos de sua vida;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus gera alienação ao invés de emancipação;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus é compreendido como subserviência àqueles que falam em nome dEle, ao invés de compromisso ardoroso com a realização da vontade de Deus;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus não gera gratidão e misericórdia para com o próximo, mas bravatas orgulhosas;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus não traz novidade de vida.

A Igreja evangélica não deve ter vergonha do simplismo da mensagem que prega (isto é positivo!) - mas se faz necessário discernimento para esta mesma mensagem não seja deturpada em algo simplório.