sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

AMAR A DEUS, AMAR MÚSICA CLÁSSICA

Algumas distinções entre cultura erudita e cultura popular baseiam-se em critérios subjetivos e, por vezes, preconceituosos.

Porém, li há vários anos em um livro de Filosofia uma maneira de conceituar (e contrastar) a cultura popular e a cultura erudita que chamou muito minha atenção: segundo o autor, a cultura popular se caracteriza por apresentar pouca informação ao indivíduo em suas produções, ao passo que a cultura erudita apresenta grande quantidade informação ao indivíduo - daí o motivo pelo qual determinado bem cultural se tornar "popular" e outro não: a cultura popular, por apresentar menor quantidade de informação ao indivíduo, se torna mais fácil de ser apreciada/interpretada/consumida: em outras palavras, é mais palatável, porque exige menos do indivíduo.

Não posso deixar de pensar que isto é verdade, pelo menos no que diz respeito à música: um hit das paradas de sucesso é um perfeito exemplo das características da cultura popular de acordo com o autor, com seus versos repetidos de fácil memorização (a típica música "grudenta") .

O mesmo não ocorre com uma peça de música clássica - sua linguagem exige mais esforço interpretativo por parte do apreciador-intérprete: uma maior abertura emocional, maior uso da abstração.

Ou seja, uma música popular pode ser curtida de forma instantânea; a música clássica exige  envolvimento do indivíduo para que ela possa ser curtida de forma plena.

As pessoas geralmente afirmam não gostar de música clássica, mas na verdade elas não aprenderam a apreciá-la, ou seja, não aprenderam dar o suficiente de si para atender as exigências do gênero, a construir uma postura suficientemente positiva e favorável para apreciação, e por isso se fecham à música erudita. 

(Um fato estranho: muitas pessoas dizem que não gostam de música clássica e ao mesmo tempo não conhecem música clássica!!! Como é possível não gostar do que não se conhece?)

Ou seja, uma música popular pode ser curtida de forma instantânea; a música clássica exige um envolvimento do indivíduo para que ela possa ser curtida de forma plena.

Penso que às vezes o mesmo que acontece na esfera musical acontece em relação a Deus.

Um deus raso, palatável, que acrescenta pouco e exige pouco de quem se apresenta a ele facilmente se torna "pop". Palatável como o hit do momento e tão irrelevante quanto.

Temo que a superficialidade de alguns cristãos se deva à reinterpretação "pop" que fizeram de Deus, tornando-o em um deus que exige pouco porque acrescenta pouco à vida de alguém.

Já a apreciação de Deus, reconhecendo quem Ele é - ah, é muito diferente e exige um profundo envolvimento do indivíduo: Sua mensagem é rica em informação transformadora, que deve ser reconhecida em sua relevância, em expectação aprendente; Sua linguagem atinge integralmente o ser, racional, emotiva e volitivamente, tocando-o de maneira especial; Suas promessas superam os melhores sonhos da abstração humana; a adoração se torna a apreciação da beleza de Seu ser, da perfeição de Seu ser (caráter, atributos, obras e vontade).  

A apreciação de Deus exige abertura diante de Sua linguagem e mensagem. Abertura à profundidade, desejo de ir mais além. Exige uma postura positiva, ativa para a apreciação e apreensão da voz e do ser de Deus. Em caso contrário, a experiência do indivíduo poderá ser seriamente prejudicada, à semelhança daqueles que evitam a música clássica por terem se feito surdos à mesma.

É a própria profundidade de Deus que impede que ele seja concebido de forma "pop".

Por isso percebo que amar a Deus tem muita semelhança com aprender a amar música clássica - é o ato de aprender a deslumbrar-se, de forma constante.

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