sexta-feira, 3 de setembro de 2010

SUTILEZAS DO CONVIVER

Provérbios 26.17 afirma que “Quem se mete em questão alheia é como aquele que toma pelas orelhas um cão que passa”.

Ora, desde que compreendo, com base no Evangelho (especialmente Lucas 10.25-37), que onde existe o ser humano, ali está meu próximo, não existe mais “questão alheia” – existe a questão comum.

É o reconhecimento da simbiose social, que forma um fluxo contínuo de relacionamentos que fluem do particular para o geral e vice-versa.

Toda tragédia humana é minha tragédia pessoal.

Todo progresso humano é minha vitória pessoal.

Todo problema do próximo é meu problema.

Enfim, o meu próximo é o meu problema.

John Donne, na Inglaterra flagelada por uma epidemia no século XVII, escreveu: “a morte de cada homem diminui-me, porque sou parte da humanidade. Portanto, nunca procure saber por quem os sinos dobram (no caso, os sinos funerários); ELES DOBRAM POR TI”.

Como superar esta aparente contradição entre Provérbios e o Novo Testamento?

O que faz com que meu próximo (questão de interesse comum) se torne um assunto alheio (ou seja, se torne interesse particular)?

Tenho duas sugestões.

A primeira delas está na responsabilidade pelo bem imediato de meu próximo: se cabe somente a meu próximo promover determinado bem para si mesmo, é prejudicial toda tentativa minha de fazê-lo esquivar-se a este dever – inclusive assumir para mim mesmo sua responsabilidade.

(Muita gente não amadureceu na vida por conta de “ajudas” deste tipo...)

A segunda diz respeito à intencionalidade: com que objetivo me aproximo de meu próximo e de seu universo pessoal? É para oferecer legítima ajuda ou com fins escusos? Quando se falha no teste da reta intenção, o próximo deve permanecer legitimamente vedado, assunto particular – até que surja alguém com a intenção certa.

Em todo o caso, o risco de não usar o discernimento nos relacionamentos com o próximo, é o de sair com uma enorme dentada nas mãos.

Vai arriscar?

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