segunda-feira, 27 de setembro de 2010

DECIDINDO ENTRE SOFRER OU FAZER SOFRER

O sofrimento do justo é um problema que há séculos têm deixado muitas pessoas intrigadas.

Aqueles que, como Asafe, compreenderam a perspectiva escatológica da História, com o triunfo final da justiça divina, já tranquilizaram seus corações (Salmo 73).

Há, porém, um aspecto desta questão que merece consideração atenta, por tocar no aspecto ontológico do problema do sofrimento do justo: o fato de que o estilo de vida de um justo, por si só, promove sofrimento.

Pautar a vida em valores como amor, mansidão, benignidade, honestidade e misericórdia vulnerabiliza o indivíduo. Sim, pois o estilo de vida de um justo é construído sobre decidir entre sofrer ou fazer sofrer. Fazer a primeira escolha significa estar sujeito aos abusos e à crueldade da parcela da humanidade que tomou a decisão diferente da sua.

A crueldade encontra espaço diante daqueles que não representam ameaça nem tampouco retaliação.

Richard Wurmbrand, mártir vivo do século XX declarou  que “uma flor, se você feri-la sob seus pés, recompensa você te dando seu perfume”.

Não devemos, porém, encarar esta questão dentro de uma perspectiva escatológica limitada, que se consola apenas em uma futura inversão de papéis no porvir, onde os justos receberão sua recompensa pelos males que sofreram para sustentar seu estilo de vida e os injustos receberão a punição que sua injustiça merece.

A maior recompensa ou punição de um determinado estilo de vida está na vivência do mesmo.

Logo, aquele que faz sofrer, assassinou todas as suas possibilidades de felicidade mediante seu próprio estilo de vida – assim, fazer sofrer é escolher trilhar um caminho de sofrimento para si mesmo.

Da mesma forma o justo se regozija na felicidade e realização que seu estilo de vida lhe proporciona (moral, espiritual e pessoal) ainda na vivência histórica, mesmo enfrentando sofrimento.

O porvir é apenas uma continuação e confirmação das escolhas já feitas por indivíduos na história...

E assim, o caminho de vida de um justo é melhor trilhado por aqueles que compreendem que a virtude em si é a maior recompensa pela prática da mesma.

2 comentários:

  1. Caro Vitor,
    Realmente o sofrimento do justo, que é inerente a sua forma ou estilo de viver, não se compara com a satisfação de estar vivendo segundo a perspectiva que ele mesmo tem do presente e do futuro. Perspectiva esta que o transporta para um regozijo eterno incomensuravelmente maior que qualquer sofrimento presente.
    Como diz a Escritura o sofrimento nada mais é para o justo "uma leve e momentânea tribulação" e ainda ele se alegra nas próprias tribulações(Rom. 5:3) ou mais ainda "...os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós."(Rom. 8:18).
    E penso que mesmo antes do porvir, a satisfação e o prazer de ter uma vida abençoada (mesmo sujeita a sofrimentos) já se trata, como bem afirmou, uma grande recompensa, antes mesmo do galardão na glória.
    Claro que para aqueles que compreendem isso.
    Forte abraço,
    Em Cristo,
    Pr. Magdiel G Anselmo.

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  2. Magdiel:

    Fico muito feliz em revê-lo e honrado com sua participação em meu "púlpito virtual".

    Muito obrigado por sua contribuição!

    Um abraço!

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