quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O DONO DA HISTÓRIA


Pense no chão que você está pisando.


Outras pessoas estiveram sobre este mesmo chão que você. Sobre ele amaram, produziram, sonharam e sofreram.


Angustiaram-se com questões de vida ou morte.


(E como as questões de vida ou morte parecem irrelevantes após a morte!)


Hoje, suas vozes encontram-se silenciadas.


Seus saberes, em grande parte, inacessíveis a nós. Seu legado, irreconhecível.


Resta o mesmo chão comum que vocês compartilham.


Somos seres formados historicamente. Contudo, não temos herança histórica. Temos apenas fragmentos de história que compõem esta herança.


História "oficial". Versões da história.


Brecht expressou sabiamente esta imposição da macro-história sobre a micro-história em sua poesia:


PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ

Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída —
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China
ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?

Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões


A Bíblia menciona o evento do juízo final. Nele, o registro da micro-história de cada indivíduo será resgatado e trazido publicamente à tona (Apocalipse 20.12-15).


O conhecimento soterrado pelo tempo se tornará acessível a todos.


Finalmente, será possível julgar a História com justiça, por finalmente tê-la diante dos olhos.


O Apocalipse promoverá o resgate da memória coletiva da humanidade.


Diante de Deus, ninguém é esquecido. Nem os seus feitos.


Geraldo Vandré estava errado. Não caminhamos com a "História nas mãos". Somente Deus é capaz de fazê-Lo.


A nós, cabe apenas a incumbência de caminhar gerindo responsavelmente nossos atos, compondo a nossa parcela na História, que será desvendada e apreciada por aquele que é Eterno.

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