domingo, 17 de maio de 2009

O MEDO COMO CAMINHO PARA O LADO SOMBRIO


Foi no episódio I em que Yoda, ao examinar o pequeno aspirante a jedi Anakin Skywalker, afirmou com seu palavreado característico:

Medo caminho é para o lado sombrio.
Medo leva à raiva; raiva leva ao ódio, e ódio leva ao sofrimento.
Sinto medo muito em você.

Quem assistiu os demais episódios da hexalogia Star Wars pôde acompanhar como o guerreiro jedi corrompeu-se, transformando-se no tirano e assassino Darth Vader.

Um conceito muito interessante que nos ajuda a lançar um novo olhar sobre a trágica história do personagem criado por George Lucas (trazendo também algumas lições para nossas vidas) é o conceito de desapego.

Nascido como escravo, desde cedo Anakin Skywalker conviveu com o sentimento de privação: a falta de liberdade na infância e a morte trágica da mãe o levaram a desenvolver um senso de justiça feroz, mesclado com o desejo de vingança.

Este histórico tornou intolerável ao jovem jedi a idéia de sofrer outras percas. Estes traumas, aliados à excessiva autoconfiança em seus dons o tornaram presa fácil à sedução do lado sombrio.

Os antigos filósofos estóicos entendiam que a imperturbabilidade é a virtude principal a ser buscada: o homem sábio, segundo eles, reconhece o elemento fatal de transitoriedade que compõe a vida e, através do desapego às coisas, consegue desenvolver uma atitude de serenidade capaz de manter íntegro o ser, mesmo diante de grandes revezes. O budismo também possui conceitos semelhantes.

O cristianismo apresenta este conceito de forma mais dinâmica: temos um Pai Celeste que reconhece nossas necessidades e Se agrada de supri-las (Mt 6.25-33). Somos exortados a alegrar-nos e desfrutarmos de nossas posses (dons, saúde, relacionamentos – Ec 2.24-25, 9.9-10), lembrando de incluir outros nesta alegria (Lc 14.12-14). A variante cristã do conceito de desapego é a hierarquização valorativa dos bens.

De acordo com o conceito cristão, o Sumo Bem (Deus) é essencial à realização do ser. Todos os demais elementos da vida têm seu valor e espaço determinados em relação ao Sumo Bem.

Sendo assim, é possível o desfrute dos bens desta vida sem afirmar que eles constituem nossa realização última. Somente Deus é capaz disto. Em decorrência deste fato é possível desenvolver uma atitude de desapego que não seja caracterizada nem pela morbidez e nem pela dependência. Como Paulo expressou, a privação dos bens desta vida não interferem no status de mais que vencedor daqueles que crêem em Cristo (Rm 8.35-39).

Com base nesta hierarquia de valores é possível não apenas suportar a perda (muitas vezes dolorosa!) de bens menores, mas até mesmo seu sacrifício em prol de um bem maior. Os mártires da Igreja dão testemunho disto, tal como Jim Elliot, morto em 1956 no campo missionário, que afirmou que "não é tolo quem abre mão daquilo que não pode reter para reter aquilo que não pode perder".

O medo faz parte de nossas defesas. Nos ajuda a sobreviver. Na proporção indevida, porém, o medo paralisa a vida. O desconhecido é um dos principais fatores que alimenta o medo. O futuro atemoriza precisamente por ser desconhecido, aberto à possibilidade de perdas e dores.

A confiança no Deus que é soberano sobre a História é única a alternativa para o medo que impele à paralisia diante do mistério do futuro, sempre um mistério, aberto à possibilidade de dores e percas.

Somente o conhecimento de que Deus cuida pessoalmente de cada detalhe da História (inclusive de nosso futuro particular) torna possível a libertação do medo, pois, seja o que vier, virá das mãos de Deus. Ele sabe o que faz. Foi o que Jó testificou (Jó 1.21, 2. 10)!

Somente a libertação do medo torna possível escapar à sedução do mal que nos convida a definir nossa história e as questões que a envolvem por nossa própria conta.

Pois foi precisamente tentando preservar seu futuro, movido pelo medo, que Anakin Skywalker o destruiu.

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