sábado, 7 de março de 2009

O AMOR ENQUANTO PERDA



Toda relação de amor envolve perdas.

Uma vez definindo o amor essencialmente como desprendimento altruísta, que gera ações positivas e desinteressadas de promoção do bem-estar do ser amado, vê-se logo que o elemento de perda está presente de forma intrínseca; amor é doação. Sacrifício.



É investir no outro o melhor de si.



Mover tempo, recursos e energias.



E se não for assim, não é amor verdadeiro.



Pais e mães que perdem noites de sono, abrem mão de sua privacidade e projetos particulares, constroem e investem patrimônio movidos pelo amor a seus filhos são excelentes exemplos disto.
Amar é uma tarefa perigosa, não pelo risco da não-correspondência, mas porque amar fragiliza. Fragiliza porque neste processo se abre mão em excesso de coisas consideradas fundamentais para o bem-estar e para a auto-afirmação: Direitos, prerrogativas, brios.



Camões acertadamente discorreu sobre o amor, alegando que ele é "... um não querer mais que bem querer/É cuidar que se ganha em se perder/É querer estar preso por vontade/É servir a quem vence, o vencedor/É ter com quem nos mata lealdade.", nos versos tornados pop por Renato Russo.



Deus, definido como amor, também participa deste ciclo de perdas.



"Glória a Deus nas maiores alturas e paz na Terra aos homens, a quem Ele quer bem" (Lucas 2.18), cantaram os anjos no nascimento de Jesus, considerando o nascimento do Messias uma expressão inquestionável do amor divino para com os homens.


Por quê?


Devido aos elementos que este momento envolve.


A concretização deste momento envolveu o abandono de toda a excelência de vida que Jesus desfrutava em sua glória pré-existente para assumir a existência em forma humana, tornando-se nosso companheiro e representante. "Sendo rico, fez-se pobre", escreveu Paulo (1.ª aos Coríntios 8.9).


Envolveu abrir mão da perfeita adoração recebida pelas hostes celestiais para ver-se cercado pela rejeição da elite religiosa de seu tempo e da incompreensão de seus próprios discípulos – o povo que viera salvar.


Envolveu viver uma vida descentralizada de seu bem-estar pessoal para ministrar a mensagem às necessidades humanas.


Envolveu nível de doação tal que o levou à cruz do Calvário – não como conseqüência, mas como projeto de um Deus Redentor para salvar a humanidade.


“Glória a Deus nas alturas”, cantaram os anjos, porque reconheceram que na manjedoura de Belém iniciava-se o mais importante de uma saga de doação em prol dos “homens a quem Deus quer bem”.


“Deus prova seu amor para conosco em que Cristo Jesus morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”, pondera Paulo (Romanos 5.8). Nas palavras do próprio Jesus: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e dar sua vida em resgate de muitos” (Marcos 10.45).


A Bíblia nos apresenta saga de um Deus amante – e que, portanto, perde – doando-se àqueles a quem ama, em nível supremo, na doação de Seu Filho à humanidade.


Em sua busca amorosa pelos homens a quem Deus quer bem, Deus continua perdendo.


Atualmente, Deus perde Sua credibilidade entre os homens que não aceitam seus métodos.


Zombam de Sua Palavra. Duvidam de Seu amor. Rejeitam a mensagem da cruz. Ou simplesmente se revoltam por não encontrarem nEle a satisfação de seus caprichos pessoais.
O Deus santo constantemente afrontado pelos homens! Por que não acabar logo com a rebeldia humana?


Porque ao abrir mão de suas prerrogativas de vingança, Deus possibilita que a história torna-se o palco da manifestação de Sua misericórdia.


A loucura e a fragilidade de quem ama é superior à sabedoria e falsa força dos homens (1.ª aos Coríntios 1.25).


Há ainda um estranho paradoxo no fato de que o exercício do amor, embora custoso, traz em si uma bem-aventurança. A maior bem-aventurança encontrada em dar amor que receber amor. A bem-aventurança de um estilo de vida que vale a pena. De um estilo de vida que reproduz o caráter de Deus.


Não à toa o Mar Morto possui este nome porque não escoa as águas que afluem para ele, impossibilitando a vida. Nunca doa, apenas recebe...


Ao aceitar o desafio de viver em amor, experimenta-se um salto qualitativo de vida. Um salto que pode ser vivenciado por aqueles que aceitam construir relacionamentos que possuam a perda como sua contrapartida.



Que Deus, em Sua graça, te abençoe de tal forma que você seja sempre receptor de Seu amor e transmissor do mesmo às outras pessoas.

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