quarta-feira, 14 de setembro de 2011

UMA ADVERTÊNCIA (ou algo que, creio eu, merece ser pensado com seriedade...)

 Conforme eu escrevi em outro artigo, “usos e costumes” é um assunto complexo no meio assembleiano.

Não raro, muitas pessoas defendem suas convicções nesta área (quase sempre assuntos relacionados à estética) sem conseguir apresentar respaldo bíblico claro para aquilo que defendem, sem um texto de prova, apelando para conceitos abstratos, sendo que a saída genérica clássica para encerrar a questão é simplesmente apresentar (sem explicar) o argumento de que “o crente tem que ser diferente”.

Preocupa-me que a falta de embasamento bíblico dos afoitos defensores dos “costumes tradicionais” possa simplesmente revelar o histórico preconceito social brasileiro como um elemento arraigado e cristalizado dentro da mentalidade da denominação.

Sim, pois a sociedade brasileira sempre foi uma sociedade preconceituosa – e algumas expressões corriqueiras do dia-a-dia demonstram isso:

Você já colocou em um currículo que possuía “boa aparência”? Esta é considerada uma clássica expressão máxima de preconceito social.

Você já pediu um corte de cabelo “social” ao cabelereiro? Isto sugere que os demais cortes são para quem: os anti-sociais ou aqueles que estão à margem da sociedade?

E a roupa social, então: a calça social, oposta à calça jeans, tida originalmente como roupa de transviado – e o mesmo ocorre na correlação entre o sapato social e o tênis.

Por que é tão comum chamarmos de “Doutor” quem não o é, de fato? Isto não revela a institucionalização de uma mentalidade voltada para a subserviência e adulação dos poderosos?

Promover uma sociedade homogênea é o mais eficiente meio de repressão, pois semeia a intolerância com o diferente – que deixa de ser reconhecido em seu direito de ser e cerceado em sua liberdade de questionamento.

Ou seja, é uma ferramenta muito eficaz para manutenção do status quo, atendendo aos interesses das elites sociais que o detém.

E estas expressões, que exemplificam o modo de pensar da homogenia e repressão, já são centenárias... assim como a maior denominação evangélica brasileira.

E eu me pergunto: o quanto desta forma de pensar, deste ethos, desta forma de ver o outro, foi absorvido (inconscientemente, até, como por osmose) pelas Assembleias de Deus?

Como já disse, uma perigosa maneira de pensar pode estar sutilmente escondida por detrás do discurso do tradicionalismo.

E eu me pergunto então: comprovaremos nosso compromisso com a Palavra de Deus aceitando o desafio de renovar nossa mentalidade?

"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona

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