Politicamente falando, apesar de algumas peculiaridades inerentes aos dois presidentes, é possível falar de continuidade entre o governo Lula e o governo Dilma.
Há, contudo, uma diferença marcante entre os dois políticos.
Lula gabava-se de não haver cursado faculdade e desdenhava da utilidade da educação formal para o exercício de seu cargo - ou seja, fazia apologia da ignorância.
Dilma, ao contrário, não se envergonha de sua formação acadêmica e sempre informa à mídia qual o último livro que está lendo.
Existem pregadores que agem da mesma forma que o antigo presidente: promovem em seus púlpitos a idéia de que o não-saber e a falta de informação são ferramentas úteis para o crescimento espiritual.
Afirmam que Deus usa um pregador que pronuncia um português incorreto (e eu não discordo disto), mas ignoram que Deus não deixará de usá-lo se melhorar a dicção.
São pessoas que, pelo não-desenvolvimento de uma visão mais crítica da realidade, apresentam respostas simplistas em suas mensagens.
Alardeiam que pregam a Bíblia somente, e não Lutero, Calvino, Wesley ou Armínio para a congregação: como se fosse possível apagar a influência de homens como tais possuem na vida e pensamento da Igreja. Pior: ignoram eles próprios que sua pregação forçosamente se alinhará com algum destes expoentes do pensamento cristão.
Seus ouvintes nunca serão enriquecidos com o legado espiritual de irmãos no Senhor que não conhecem: Spurgeon, Stott, Lloyd-Jones e outros, mas que poderiam ter sido conhecidos através do pregador – mas, ah, puxa vida, o legado de tais homens encontra-se em livros...
Acreditam que é saudável sonegar informação, sendo assim, seus ouvintes são privados do privilégio de conhecer a diversidade do pensamento cristão: nunca ouvirão falar em teorias milenistas, dicotomia e tricotomia, teoria da lacuna, ou qualquer outro grande debate da história da igreja.
São pessoas que, pior do que ter medo de pensar, têm medo de fazer pensar.
Aqueles que cursaram o seminário (existem, sim, apologistas da ignorância com formação acadêmica) apregoam alegremente que não aplicam nada do que aprenderam no curso teológico na Igreja – uma idéia confusa (onde está o problema, então? No seminário ou na Igreja?) e dissimulada (por que concuíram o curso, então?).
Não estou defendendo um academicismo eclesiástico árido.
Não defendo a idéia de que diploma seja sinônimo de vocação ministerial.
Eu mesmo creio que um pregador possa ter sólidos conhecimentos bíblicos sem possuir formação acadêmica formal (não podemos nos esquecer dos auto-didatas, e os tais devem receber o reconhecimento da Igreja).
Mas em tempos que os púlpitos tanto têm servido à futilidade, confesso que tenho medo dos pregadores-Lula!
Há que se pensar (guardadas as devidas proporções) na declaração de Nicholas D. Kristof (texto integral disponível em http://edrenekivitz.com/blog/2011/08/evangelicos-sem-espetaculo/ ):
"Há muitos séculos, o estudo profundo da religião era extraordinariamente exigente e rigoroso; por outro lado, qualquer um podia declarar-se cientista e passar a exercer a alquimia, por exemplo. Hoje, é o contrário. Um título de doutor em química exige uma formação rigorosa, enquanto um pregador pode explicar a Bíblia pela televisão sem dominar o hebraico ou o grego – ou mesmo sem mostrar interesse pelas nuances dos textos originais".
O negrito e a fonte vermelha da citação são meus - são a expressão de minha preocupação.
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