Uma ilustração frequentemente utilizada pelos pregadores evangélicos para enfatizar a importância do aspecto relacional no cristianismo é apontar para a cruz de Cristo, demonstrando que da mesma forma a cruz do Salvador possui uma haste vertical e uma horizontal, o Evangelho afirma que é impossível sustentar um relacionamento vertical com Deus, negligenciando os relacionamentos horizontais com o próximo.
João ratifica isto com palavras contundentes em sua primeira epístola: Pois quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? - 1 de João 4.20.
O cristianismo exige que aqueles que crêem em Deus compartilhem de seus sentimentos para com o homem, dedicando-se a construir relacionamentos sãos em todas as suas esferas de convivência.
A Bíblia define a Igreja não como um prédio, mas como um corpo, uma comunidade.
Todavia, falemos francamente: os escândalos, narcisismo, bairrismo, obscurantismo e superficialidade que tem caracterizado boa parte do movimento evangélico de hoje são, na melhor das hipóteses, estressantes; na pior, desanimadores.
Diante deste quadro, por que permanecer na Igreja? Que incentivo nós temos?
Cipriano dizia que fora da Igreja não existe salvação. Sendo assim, deve-se permanecer na Igreja por medo?
Não.
Em primeiro lugar, esta frase de Cipriano não deve ser entendida de forma simplista, em termos meramente institucionais. Porém, apesar da mesma ter dado margem a alguns abusos, Cipriano expressou uma importante verdade bíblica: a Igreja é definida como uma comunidade composta por pessoas que indiviualmente experimentaram a redenção em Cristo.
A Igreja é consequência da salvação, não a salvação consequência da Igreja.
Sendo assim, falar da Igreja é falar de pessoas - e (re)descobrir que Deus ama pessoas. É o que nos mostra a doutrina da redenção: pessoas ocupam um lugar privilegiado na escala de valores de Deus.
Desistir de Deus inclui desistir das pessoas.
A fé em Deus exige fé nos homens.
Não no sentido de uma afirmação humanístico-ufanista do potencial humano.
Mas fé no potencial da obra redentora de Deus realizada nos homens.
Cristãos investem em seus relacionamentos pessoais, esmerando-se em ser bons cônjuges, pais, filhos e amigos (ou seja, investem em pessoas) porque compreendem que, como Deus não deixou de investir no homem, é possível ter esperança no ser humano – sendo assim, desistir dos homens equivale a descrer no apreço que Deus tem por eles e duvidar daquilo que, pelo poder do Evangelho, eles podem se tornar.
Ninguém teria melhores razões para se “desviar” da Igreja que o próprio Jesus, diante de tantos descaminhos cometidos ao longo de seus 2000 anos de história!
Permanecemos na Igreja porque Cristo optou por permanecer com ela.
E a conclusão lógica disso tudo é saber que Cristo também não desiste de mim!
É por saber que Cristo não desiste de nós é que somos motivados a não desistir dos outros , abraçando-os como irmãos e co-herdeiros da graça da vida.
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