Fiz parte de uma geração que podia assistir novelas em sua infância.
Antigamente, as novelas das 7 tinham um viés mais cômico, enquanto a novela das 6 eram mais "água-com-açúcar", e as tramas mais densas eram reservadas para as novelas das 8.
Lembro-me de quantas gargalhadas dei junto de minha mãe assistindo a novelas das 7 como "Vereda Tropical" e "Cambalacho".
Sabe aquela cena antológica de Fernanda Montenegro e Paulo Autran atirando um no outro o café da manhã? Pois é, eu vi quando passou pela primeirta vez.
"Roque Santeiro", então, foi emocionante (embora, aos 8 anos de idade, não conseguisse compreender a dimensão política do folhetim de Dias Gomes). Lembro-me da correntinha do "Sinhozinho Malta", de Regina Duarte gritando por "Nina", da figura enigmática do Beato Salu e da maldade de Zé das Medalhas.
Atualmente as novelas mudaram muito - e não creio que possam mais ser assistidas por crianças.
Também não tenho mais interesse em assistir novelas.
Mas recordo-me de uma das últimas novelas que acompanhei com uma certa regularidade: pulei vários capítulos, mas me interessava pela história.
Era uma trama leve, palatável, que lembrava muito as novelas de minha infância: havia o elemento romântico dos protagonistas, o elemento cômico, a crítica à ambição e materialismo dos vilões.
Esta também foi a primeira novela global na qual uma atriz negra ocupou o papel de protagonista: Thaís Araújo, tendo como par romântico Reinaldo Gianecchini (oremos por ele).
Esta foi uma decisão de grande significado social: o folhetim queria prestar um serviço à causa da igualdade, inclusão e cidadania.
Mas a emissora não conseguiu deixar de dar um tiro no próprio pé com a escolha infeliz do título!
A novela chamava-se "Da Cor do Pecado".
O título fazia uma associação racista (inconscientemente, creio eu), entre pecado e cor!
(E mesmo que o "pecado" no título do folhetim não tenha conotação teológica, mas a conotação do senso comum, sabemos que o termo sempre assume o sentido de lascívia ou tentação - ou seja, de qualquer forma, a associação seria sempre negativa)
Ou seja, o título concedeu um viés racista a uma novela que pretendia ser anti-racista!
O serviço transformou-se em desserviço!
Lamento profundamente por esta contradição (que, repito, espero que tenha sido inconsciente) cometida pelos autores.
Mas isto nos ensina que só poderemos prestar um serviço social efetivo e transformador se nossos esforços estiverem baseados em uma reflexão profunda e crítica, capaz de superar todos os conceitos equivocados e injustos do senso comum.
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