Provérbios 26.17 afirma que “Quem se mete em questão alheia é como aquele que toma pelas orelhas um cão que passa”.
Ora, desde que compreendo, com base no Evangelho (especialmente Lucas 10.25-37), que onde existe o ser humano, ali está meu próximo, não existe mais “questão alheia” – existe a questão comum.
É o reconhecimento da simbiose social, que forma um fluxo contínuo de relacionamentos que fluem do particular para o geral e vice-versa.
Toda tragédia humana é minha tragédia pessoal.
Todo progresso humano é minha vitória pessoal.
Todo problema do próximo é meu problema.
Enfim, o meu próximo é o meu problema.
John Donne, na Inglaterra flagelada por uma epidemia no século XVII, escreveu: “a morte de cada homem diminui-me, porque sou parte da humanidade. Portanto, nunca procure saber por quem os sinos dobram (no caso, os sinos funerários); ELES DOBRAM POR TI”.
Como superar esta aparente contradição entre Provérbios e o Novo Testamento?
O que faz com que meu próximo (questão de interesse comum) se torne um assunto alheio (ou seja, se torne interesse particular)?
Tenho duas sugestões.
A primeira delas está na responsabilidade pelo bem imediato de meu próximo: se cabe somente a meu próximo promover determinado bem para si mesmo, é prejudicial toda tentativa minha de fazê-lo esquivar-se a este dever – inclusive assumir para mim mesmo sua responsabilidade.
(Muita gente não amadureceu na vida por conta de “ajudas” deste tipo...)
A segunda diz respeito à intencionalidade: com que objetivo me aproximo de meu próximo e de seu universo pessoal? É para oferecer legítima ajuda ou com fins escusos? Quando se falha no teste da reta intenção, o próximo deve permanecer legitimamente vedado, assunto particular – até que surja alguém com a intenção certa.
Em todo o caso, o risco de não usar o discernimento nos relacionamentos com o próximo, é o de sair com uma enorme dentada nas mãos.
Vai arriscar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário