quinta-feira, 30 de setembro de 2010

ANTES DE OLHAR O QUE O OUTRO FAZ, OLHE BEM QUEM O OUTRO É

Os puritanos tinham um ditado: “fale mais alto, pois o som de suas atitudes encobre o som de suas palavras”.

De fato, a hipocrisia consiste em causar uma cisão entre o discurso, o ser e a prática.

Todavia, o estreito rigor do ditado puritano não é totalmente cabível, pois considera as incoerências humanas apenas uma questão de hábito, prescrevendo (e, pior, pressupondo a possibilidade de) coerência constante para vencê-las.

Tal abordagem minimiza a complexidade da condição humana sob o jugo do pecado.
 
Sim, pois nem sempre é possível manter, consciente ou inconscientemente, perfeita harmonia entre o que cremos, sentimos, pensamos e fazemos a nós cabendo, não poucas vezes, apenas a constatação desta triste realidade, já que nos faltam recursos para compreendê-la. Paulo concordaria com esta afirmação.
 
“Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros”. (Romanos 7.15, 22-23)
 
Nem sempre aquilo que fazemos reflete o melhor que somos.

Nem sempre nossos atos são a perfeita medida de nosso ser.
 
Em sua condição de pecador (que implica muito mais que COMETER pecado, mas estar sob o EFEITO do pecado), o ser humano encontra-se cindido entre suas motivações, a compreensão e a realização das mesmas. E mesmo aqueles que trilham o caminho do Evangelho e são auxiliados pelo Espírito Santo em seu aperfeiçoamento, têm ainda um árduo trabalho, pois portarem em si ainda as limitações da pecaminosidade.
 
Por isso todo relacionamento humano exige misericórdia – misericórdia que inspira o esforço altruísta para olhar para além do ato, do gesto e do momento e visualizar a pessoa, reconhecendo um irmão, tanto na ruína quanto no amor de Deus.
 
É com misericórdia que Deus se relaciona conosco, e não podemos oferecer menos aos outros.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

DECIDINDO ENTRE SOFRER OU FAZER SOFRER

O sofrimento do justo é um problema que há séculos têm deixado muitas pessoas intrigadas.

Aqueles que, como Asafe, compreenderam a perspectiva escatológica da História, com o triunfo final da justiça divina, já tranquilizaram seus corações (Salmo 73).

Há, porém, um aspecto desta questão que merece consideração atenta, por tocar no aspecto ontológico do problema do sofrimento do justo: o fato de que o estilo de vida de um justo, por si só, promove sofrimento.

Pautar a vida em valores como amor, mansidão, benignidade, honestidade e misericórdia vulnerabiliza o indivíduo. Sim, pois o estilo de vida de um justo é construído sobre decidir entre sofrer ou fazer sofrer. Fazer a primeira escolha significa estar sujeito aos abusos e à crueldade da parcela da humanidade que tomou a decisão diferente da sua.

A crueldade encontra espaço diante daqueles que não representam ameaça nem tampouco retaliação.

Richard Wurmbrand, mártir vivo do século XX declarou  que “uma flor, se você feri-la sob seus pés, recompensa você te dando seu perfume”.

Não devemos, porém, encarar esta questão dentro de uma perspectiva escatológica limitada, que se consola apenas em uma futura inversão de papéis no porvir, onde os justos receberão sua recompensa pelos males que sofreram para sustentar seu estilo de vida e os injustos receberão a punição que sua injustiça merece.

A maior recompensa ou punição de um determinado estilo de vida está na vivência do mesmo.

Logo, aquele que faz sofrer, assassinou todas as suas possibilidades de felicidade mediante seu próprio estilo de vida – assim, fazer sofrer é escolher trilhar um caminho de sofrimento para si mesmo.

Da mesma forma o justo se regozija na felicidade e realização que seu estilo de vida lhe proporciona (moral, espiritual e pessoal) ainda na vivência histórica, mesmo enfrentando sofrimento.

O porvir é apenas uma continuação e confirmação das escolhas já feitas por indivíduos na história...

E assim, o caminho de vida de um justo é melhor trilhado por aqueles que compreendem que a virtude em si é a maior recompensa pela prática da mesma.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PENSE NISTO - Uma palavra de Rubem Alves

SANTO FELIZ

"Não conheço nenhum santo feliz. Estão todos com uma cara de sofrimento, feridas, espadas, espinhos, punhais. Quero um santo que seja uma pessoa normal, exuberante, brincante, feliz, neste mundo onde Deus plantou o Paraíso! Deus sonhou com um lugar maravilhoso, de delícias e beleza, e o plantou. Tão bonito que ele deixou os céus (lá não havia nem árvores, nem riachos, nem pássaros. Se houvesse, ele não teria criado o Paraíso...) e ficou andando pelo jardim. Pelo menos é isso que dizem os textos sagrados. Para mim, um santo seria uma pessoa que planta jardins e vive neles. Mas os olhos dos santos canonizados não sorriem para os jardins. Para eles, este mundo é um vale de lágrimas onde perambulam os degregados filhos de Eva, como diz uma reza do rosário. Por isso olham languidamente para os céus. Deus olha para baixo e sorri. Eles olham para cima, chorando. São mais espirituais do que Deus..."  

terça-feira, 14 de setembro de 2010

QUANDO O ÓDIO NÃO É SUFICIENTE

O livro do Apocalipse tem como tema "as coisas que em breve devem acontecer" (1.1), mas antes disso traz sete mensagens do Cristo glorificado às igrejas na Ásia Menor: Éfeso, Pérgamo, Esmirna, Sardes, Tiatira, Filadélfia e Laodicéia.

Cada uma das cartas traz repreensões e elogios (com exceção de Esmirna e Filadélfia, que não recebem nenhuma reprimenda e, de forma oposta, Laodicéia, que não recebe nenhum elogio) e uma promessa àqueles, que dando ouvidos à voz do Espírito Santo, seriam vitoriosos.

A primeira carta dirige-se á igreja em Éfeso. Esta fora uma comunidade privilegiada, tendo sido beneficiada pelo trabalho ministerial do apóstolo Paulo (registrado no livro de Atos) e, posteriormente, do apóstolo João (conforme as declarações dos Pais da Igreja).

“A o anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro: Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer.Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” (Apocalipse 2.1-5)

Éfeso foi elogiada por sua ortodoxia, mas repreendida por ter abandonado o fervor de seu amor, tornando-se lembrete permanente de que o Cristianismo não se resume apenas a dogmas que enchem a mente, mas não inflamam o coração.

É digno de nota que a igreja também foi elogiada por odiar as falsas doutrinas dos nicolaítas, assim como Cristo as odiava (versículo 6).

"Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio".

Ler esta passagem me trouxe um triste pensamento sobre a realidade da Igreja.

É ponto pacífico que os valores e conceitos do cristianismo devem produzir na Igreja uma postura de não-conformismo, intransigência e a aversão a todas as formas do mal (no caso da igreja em Éfeso, as perversões ensinadas e praticadas pelos nicolaítas) – que são, em essência, expressões da pecaminosidade humana, promovendo injustiça, desumanização e desarmonia do homem com Deus e consigo mesmo. Sendo assim, faz parte do discurso cristão a crítica e a denúncia. O compromisso cristão de amar a justiça implica odiar a injustiça em contrapartida, no ato de compartilhar do sentimento do próprio Senhor (Hebreus 1.9).

Esta medida de zelo não deve diminuir.

O que me entristece é que a Igreja aprendeu de uma forma distorcida esta lição, de forma que ela se tornou mais rápida em odiar do que em amar.

Na tentativa de defender seus valores diante de um mundo corrompido, a Igreja tem se distanciado do legítimo criticismo cristão, que analisa de forma justa os fatos, pautado no Evangelho, e que, em amor, visa sempre a restauração do ser humano.

Ao invés disso, tem se especializado em detração.

Aponta o pecado com prazer, e não com lágrimas nos olhos.

Não poucas vezes tem apresentado ao mundo um espírito inflamado que mais se assemelhou à postura vingativa de João e Tiago diante dos samaritanos (Lucas 9.54) do que zelo legítimo.

Já taxou como pecado muita coisa por pura precipitação e má vontade em ouvir o outro.

Não seguiu o exemplo dos bereanos (Atos 17.11), que pautavam suas conclusões na Bíblia, defendendo preconceitos próprios, transfigurando-os de “cristianismo”.

A cristandade mal consegue dialogar de forma sóbria: o baixo nível dos comentários dos cristãos em debates choca pela falta de civilidade (basta visitar qualquer fórum deste tipo na internet).

O cristianismo adotou uma mentalidade de pitbull.

E todo pitbull é assustador - e ao escrever estas linhas, penso nas milhares de pessoas que evitam a Igreja, horrorizadas com tanta ferocidade.

E isto torna a mensagem de Éfeso tão relevante, e a repreensão do Senhor urgente de ser ouvida também nos dias de hoje: o ódio, quando dissociado do amor, produz aberrações – mesmo na tentativa de promover uma causa justa.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A VERDADEIRA FORÇA DA IGREJA ou "VOCÊ JÁ FOI A UMA CAMPANHA DE ORAÇÃO"?

Sempre me impressiono quando participo de campanhas de orações.

Nestes locais, onde é vivenciada a absoluta informalidade da fé, operários, donas de casas, desempregados e aflitos em geral oram uns com os outros, uns pelos outros, compartilham seus saberes e dons mutuamente; cantam, contam testemunhos. Ministram inspiração àqueles que, não raro, sentem-se no fundo do poço.

Mães de família lutam em oração por seus filhos, não raro às voltas com graves problema..

Esposas solitárias em sua fé intercedem pela conversão de seus maridos e a conseqüente transformação de seus lares.

Desempregados buscam no Senhor uma porta de emprego e expressam a Ele a humilhação que sentem.

Novos convertidos buscam ansiosamente por crescimento espiritual.

Pessoas que não receberiam atenção no cotidiano conseguem ter sua experiência e sabedoria de vida estimadas.

Experiências são trocadas (não raro entre lágrimas), de tribulações e também de vitórias.

A liturgia é um exercício coletivo, radicalmente inclusivo – todos podem falar, todos devem ouvir.

O sobrenatural torna-se lugar comum, no cultuar de pessoas acostumadas a considerar Deus como próximo e assim conviver com Ele.

Existem erros? Sim. Excessos? Sim. Mas todo excesso de zelo sem entendimento, na verdade, se trata de um excesso do amor. Maria não foi ponderada ao derramar um frasco inteiro de perfume sobre o Mestre... E o entendimento sem zelo também é um problema igualmente sério...

E, ao ouvir a voz do Senhor, tais pessoas encontram refrigério e força para continuarem perseverando. Estoicismo? Não. Se trata de fé que se traduz em firmeza para aguardar as promessas de Deus.

Graças à operosidade do Reino, estes humildes anônimos tornam-se capazes de abençoar vidas.

O que me impressiona tanto nas campanhas de orações? O fato de que lá, a fé é vivenciada em toda sua passionalidade. Lá, o Senhor é sentido, buscado e compartilhado visceralmente. E não consigo deixar de ter a impressão, ao ver este tipo de reunião, que é nestes humildes irmãos que se encontra a verdadeira força da Igreja.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

SUTILEZAS DO CONVIVER

Provérbios 26.17 afirma que “Quem se mete em questão alheia é como aquele que toma pelas orelhas um cão que passa”.

Ora, desde que compreendo, com base no Evangelho (especialmente Lucas 10.25-37), que onde existe o ser humano, ali está meu próximo, não existe mais “questão alheia” – existe a questão comum.

É o reconhecimento da simbiose social, que forma um fluxo contínuo de relacionamentos que fluem do particular para o geral e vice-versa.

Toda tragédia humana é minha tragédia pessoal.

Todo progresso humano é minha vitória pessoal.

Todo problema do próximo é meu problema.

Enfim, o meu próximo é o meu problema.

John Donne, na Inglaterra flagelada por uma epidemia no século XVII, escreveu: “a morte de cada homem diminui-me, porque sou parte da humanidade. Portanto, nunca procure saber por quem os sinos dobram (no caso, os sinos funerários); ELES DOBRAM POR TI”.

Como superar esta aparente contradição entre Provérbios e o Novo Testamento?

O que faz com que meu próximo (questão de interesse comum) se torne um assunto alheio (ou seja, se torne interesse particular)?

Tenho duas sugestões.

A primeira delas está na responsabilidade pelo bem imediato de meu próximo: se cabe somente a meu próximo promover determinado bem para si mesmo, é prejudicial toda tentativa minha de fazê-lo esquivar-se a este dever – inclusive assumir para mim mesmo sua responsabilidade.

(Muita gente não amadureceu na vida por conta de “ajudas” deste tipo...)

A segunda diz respeito à intencionalidade: com que objetivo me aproximo de meu próximo e de seu universo pessoal? É para oferecer legítima ajuda ou com fins escusos? Quando se falha no teste da reta intenção, o próximo deve permanecer legitimamente vedado, assunto particular – até que surja alguém com a intenção certa.

Em todo o caso, o risco de não usar o discernimento nos relacionamentos com o próximo, é o de sair com uma enorme dentada nas mãos.

Vai arriscar?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

IMPEDINDO QUE A DÚVIDA SE TRANSFORME EM BLASFÊMIA




Muitos estão familiarizados com a história do patriarca Jó. Sabem de como Satanás questionou a sinceridade de sua fé e de como Deus confiou na integridade de seu servo, sabendo que ele não O negaria, mesmo diante de duras aflições.

Jó perdeu seus filhos, suas posses e sua saúde. O consolo oferecido por seus amigos foi pífio. Mesmo assim, não blasfemou contra o Senhor.

Uma das passagens memoráveis do livro é a declaração em 1.21, quando o patriarca é notificado das tragédias que se abateram contra sua casa: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!"

Ao final, a fé de Jó triunfa, vencendo as adversidades que puseram-no à prova.

Todos estes detalhes serviram para alçar Jó à categoria de campeão da fé e exemplo de paciência. Aliás, temos até a expressão "paciência de Jó", inspirada em sua trajetória.

É justo que tenhamos tal respeito por este personagem bíblico - mas comete um grave erro quem acredita que o patriarca passou por seu período de dificuldades de forma apática e impassível, sem sentir o impacto da crise em que viveu. Algumas das próprias declarações de Jó durante seu sofrimento nos mostram algumas das perturbações de seu coração:

Pereça o dia em que nasci e a noite em que se disse: Foi concebido um homem! (3.3)

Por que não morri eu na madre? Por que não expirei ao sair dela? (3.11)

Porque as flechas do Todo-Poderoso estão em mim cravadas, e o meu espírito sorve o veneno delas; os terrores de Deus se arregimentam contra mim. (6.4)

Quem dera que se cumprisse o meu pedido, e que Deus me concedesse o que anelo! Que fosse do agrado de Deus esmagar-me, que soltasse a sua mão e acabasse comigo! Isto ainda seria a minha consolação, e saltaria de contente na minha dor, que ele não poupa; porque não tenho negado as palavras do Santo. (6.8-10)

Ainda que o chamasse, e ele me respondesse, nem por isso creria eu que desse ouvidos à minha voz. Porque me esmaga com uma tempestade e multiplica as minhas chagas sem causa. Não me permite respirar; antes, me farta de amarguras. (9.16-18)


Direi a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo. Parece-te bem que me oprimas, que rejeites a obra das tuas mãos e favoreças o conselho dos perversos? Tens tu olhos de carne? Acaso, vês tu como vê o homem? São os teus dias como os dias do mortal? Ou são os teus anos como os anos de um homem, para te informares da minha iniqüidade e averiguares o meu pecado? Bem sabes tu que eu não sou culpado; todavia, ninguém há que me livre da tua mão. As tuas mãos me plasmaram e me aperfeiçoaram, porém, agora, queres devorar-me. (10.2-8)

Por que escondes o rosto e me tens por teu inimigo? (13.24)

Em paz eu vivia, porém ele me quebrantou; pegou-me pelo pescoço e me despedaçou; pôs-me por seu alvo. Cercam-me as suas flechas, atravessa-me os rins, e não me poupa, e o meu fel derrama na terra. Fere-me com ferimento sobre ferimento, arremete contra mim como um guerreiro. (16.12-14)

A experiência de fé de Jó não se caracterizou apenas pela paciência e declarações confiantes, mas também pela perplexidade e pela dúvida.

Às vezes, parece até que Jó blasfema, fracassando assim no teste de sua fé, tal como Satanás esperava.

Todavia, ao revelar-se para Jó, no clímax final da história (caps. 38-42), Deus rejeita os conceitos simplistas e artificiais que os amigos de Jó teceram a fim de “consolá-lo”, declarando que eles não haviam falado o que era reto sobre Ele, ao contrário de Seu servo Jó (42.7).

Como explicar isso?

Como entender a postura divina diante das dúvidas do patriarca?

O segredo da fé de Jó não é que ela foi uma fé isenta de conflitos, mas o fato de constantemente apresentar a Deus estes conflitos. Ao ver seu mundo ruir e tudo perder o sentido, o patriarca venceu por compreender resolutamente que somente Deus poderia trazer sentido a tudo, e pela fé, assim Jó não desistiu de buscar este sentido na pessoa de Deus – Jó sabia que somente Deus possui a chave que desvenda os enigmas da vida, inclusive o importante fato que somente Deus pode resolver o enigma sobre Deus.

As dúvidas de Jó faziam parte de um processo de amadurecimento na fé. A fé não nega a dúvida, mas é fortalecida ao enfrentá-las com honestidade. As “soluções” que os amigos de Jó lhe ofereciam eram apenas uma maneira simplista de compreender a experiência humana, fugindo da complexidade da vida e da experiência com Deus, apresentando um Deus “reinterpretado”, reduzido à imagem de seus conceitos medíocres – a fé de Jó não pôde aceitar tal ofensa ao ser de Deus, e este concordou com o patriarca.

A fé aceita não compreender e continuar buscando em Deus respostas. A fé sabe que somente Ele as tem! A fé aceita não camuflar seus conflitos e sentimentos. A fé sabe que somente Ele pode compreender! A fé aceita vivenciar em Deus conflitos e vitórias, ao passo que a incredulidade que “reinterpreta” de forma enganosa a Deus, se aproxima mais da blasfêmia do que as pungentes declarações do patriarca em meio ao sofrimento.

E, por esta fé, Satanás foi derrotado. O livro de Jó nos ensina que é possível vencê-lo, mesmo através das crises.