segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

UMA REFLEXÃO DE ANO NOVO - POR C. S. LEWIS

"Você acha que eu estaria brincando se lhe dissesse que é perfeitamente possível atrasar um relógio e que, se ele estiver desregulado, muitas vezes será a coisa mais razoável a fazer?

Não me interessa, porém, insistir na imagem dos relógios; examinemos antes a ideia de progresso, que é o que nos interessa a todos. Ora, a palavra ‘progresso’ significa aproximarmo-nos mais do lugar onde desejamos estar. Se numa encruzilhada enveredamos pelo caminho errado, continuar em frente não nos levará nem um pouco mais perto de nosso destino. Para quem está no caminho errado, progredir significa dar meia-volta e retomar o caminho certo. E, neste caso, aquele que empreender o retorno mais rapidamente será o mais progressista.

Todos já o experimentamos ao resolver problemas de aritmética: se cometemos um erro logo no início de uma longa série de cálculos, quanto mais cedo o admitirmos e voltarmos a começar, mais rapidamente avançaremos. Não há nada de progressista em ser teimosos e recusar-se a admitir um erro. Muito bem: se pensarmos no estado em que se encontra o mundo, parece evidente que a humanidade andou cometendo algum erro muito grande. Estamos no caminho errado e, se é assim, temos que dar meia-volta. Tornar para trás será nosso meio mais rápido de avançar".

Feliz 2013!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

REAVALIANDO O SIMPLISMO EVANGÉLICO

O discurso evangélico é simplista. Enfatiza que somente (e apenas) Jesus é a solução para o problema humano. Sua tese, portanto, é a de que tudo que o homem necessita é receber Jesus Cristo.

Na verdade, este simplismo é verdadeiro e não há nada de errado com ele. Aliás, é bom quando o discurso evangélico consegue alcança tal grau de singeleza (2.ª aos Coríntios 11.3).

No século V Agostinho, definiu o mal como privação do bem. Sendo Deus o bem supremo, aproximar-se de Deus constitui-se na solução do problema ontológico e ético do ser humano, tanto individual quanto coletivamente.

Esta é a mensagem cristã: as pessoas precisam desesperadamente de Deus (ainda que não reconheçam) e Deus é acessível através de Cristo.

Simples, não?

Há uma crítica a ser feita, porém – não ao simplismo do discurso evangélico, mas à interpretação e aplicação simplista do discurso evangélico.

É absolutamente correto afirmar que receber a Jesus é a única e exclusiva solução do problema humano, MAS:

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus é compreendido apenas como uma alteração de hábitos religiosos;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus é desvinculado de sua dimensão ética;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus se torna um exercício de individualismo, não se prestando à formação do espírito de comunidade;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus é compreendido apenas como uma garantia de bem-aventurança pós-morte, sem a realidade da bem-aventurança presente;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus não é compreendido como o caminho para a formação de um ser humano melhor, em todos os aspectos de sua vida;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus gera alienação ao invés de emancipação;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus é compreendido como subserviência àqueles que falam em nome dEle, ao invés de compromisso ardoroso com a realização da vontade de Deus;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus não gera gratidão e misericórdia para com o próximo, mas bravatas orgulhosas;

...o problema humano não é solucionado quando o ato de receber Jesus não traz novidade de vida.

A Igreja evangélica não deve ter vergonha do simplismo da mensagem que prega (isto é positivo!) - mas se faz necessário discernimento para esta mesma mensagem não seja deturpada em algo simplório.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

PENSE NISTO: UMA PALAVRA DE JÜRGEN MOLTMANN SOBRE O CULTO AO CORPO

"As possibilidades de embelezamento do corpo se desenvolveram e disseminaram (...). Em algumas áreas, a mania de beleza e o culto ao corpo se converteram na religião que dá sentido ao ser humano moderno. A cirurgia plástica e a cirurgia cosmética prometem a obtenção do corpo que se deseja para estar bem consigo mesmo e ser reconhecido pelos outros. 'Quem quer ser bonito tem de sofrer', mas o que tudo não se faz por causa do reconhecimento! Partes essenciais da moderna mania de beleza são os programas de antienvelhecimento. Só quem permanece jovem é belo, e quem permanece belo é considerado jovem. Ele ou ela se tornam, a seu modo, 'imortais'. Um corpo treinado e belo não mostra as marcas da idade, deve -se imaginar. Porém, os corpos amoldados ao ideal não são estranhamente enrijecidos e sem vida, impessoais e sem caráter?

Os aumentos de desempenho e os tratamentos de beleza se devem realmente só à autodeterminação livre e legítima da própria vida? Não é verdade. São antes imposições da sociedade moderna que obrigam as pessoas a ser produtivas e bem-sucedidas, belas e atraentes. No palco esportivo da sociedade moderna, a imposição ainda se chama 'competição' nobre, na sociedade burguesa do dia a dia é concorrência dura e fria. No esporte de alto rendimento, o doping se tornou a imposição sistêmica: Quem não pode acompanhar o ritmo, está fora. É o que diz também a indústria farmacêutica que lucra com isso. Por causa do medo de não poder mais apresentar o desempenho que se esperava dele, Robert Enke, famoso goleiro alemão, se jogou na frente de um trem em 2009. Por causa do medo da síndrome de burn-out, os professores recorrem ao doping neurológico. Quem quiser acompanhar o ritmo e ficar entre os ganhadores, terá de trabalhar em si mesmo e se sacrificar, de um jeito ou de outro. O mesmo se aplica à beleza: O poder-ser-mais-belo há muito tempo deu lugar ao deve-ser-belo. Por isso, os belos muitas vezes passam uma impressão tão tensa e triste. Não se consegue mais distinguir entre seu amor ao corpo e seu ódio ao corpo. Os corpos do mundo moderno, corpos de alto rendimento e corpos lindamente modelados, são, muitas vezes, só variantes do corpo militar e sucessores do corpo ascético. (...) 

A autêntica experiência corporal cristã está inserida na experiência de fé do amor de Deus. Quem se sente aceito e amado, também está bem consigo mesmo e aceita seu corpo assim como ele é e vem a ser com o passar do tempo. A experiência do amor divino torna os crentes não só justos, mas também belos. 'Os pecadores são belos, porque são amados; não são amados porque são belos'., escreveu Lutero na controvérsia de Heidelberg em 1518. Também o amor humano deixa a pessoa amada bela, quando é gratuito e solícito. Ele provoca também nos rostos desfigurados o brilho da beleza porque desperta a alegria. O 'corpo do amor' é a vida humana plenificada da vida divina.

Com a encarnação de Deus realmente já está posta uma imagem contrária ao moderno 'homem-máquina' e aos produtos artificiais 'desempenho' e 'beleza'. Deus se fez humano para que nos convertamos de deuses orgulhosos e infelizes em verdadeiros seres humanos; em seres humanos que podem aceitar a sua juventude e a sua velhice e estão de acordo com a transitoriedade dos seus corpos; em seres humanos que sabem que a vida é mais que desempenho e que o amor é o que embeleza o ser humano".

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

ATENÇÃO! NÃO USE MAL A HISTÓRIA DE JOSÉ DO EGITO

A história de José (Gênesis 30.22-24; 37-50) é uma das mais belas e profundas de toda a Bíblia: cresceu em um lar conturbado, perdeu sua mãe ainda jovem, foi separado do amor de seu pai ao ser traído e vendido como escravo pelos próprios irmãos, jogado na prisão injustamente por causa de uma calúnia e, contra todas as probabilidades, graças aos dons que Deus lhe dera, tornou-se a segunda pessoa no governo do Egito, administrando a potência mais importante de sua época e sendo uma ferramenta fundamental para promover o bem-estar social e a preservação da família que o rejeitara, que constituía-se no núcleo embrionário da nação de Israel, de onde o Messias descenderia.

Todos nós temos relação com a história de José e temos muito a aprender com ele.

A maioria dos evangélicos, contudo, lêem esta história e mantém seu foco em apenas um evento: a chegada de José ao poder no Egito, formulando o seguinte princípio:

"Se Deus colocou um escravo no trono do Egito, fará o mesmo comigo".

É o que chamo de princípio da exaltação.

Eu não duvido de que Deus, em sua soberania, realmente abençoe pessoas de forma surpreendente, levando-as a, contra toda probabilidade humana, assumirem postos de extrema relevância na sociedade (Jó 42.2; Salmo 113.7-8; Daniel 4.35).

Me incomoda, porém, o simplismo, automatismo e generalização implícitos no chamado "princípio da exaltação", que se revela falso justamente por ignorar outros importantes fatos da história de José:

1. José possuía habilidade para assumir o cargo que Deus colocara sob sua responsabilidade: já demonstrara ser um exímio administrador na casa de seu pai (Gn 37.2-3, 13-14), na casa de Potifar (Gn 39.2-6), e mesmo na prisão (Gn 39.20-23). Era uma pessoa amável (preocupava-se em ser útil onde quer que estivesse) e de elevado compromisso ético (Gn 39.8-9). Ou seja, Deus não "exaltou" José apenas para recompensá-lo particularmente (e é somente isto que o  princípio da exaltação consegue visualizar: a "posição de destaque", que deve ser um pretenso elemento automático na vida de quem crê)  mas a história de José nos mostra que Deus coloca a pessoa certa no lugar certo. Deus não se comprazeria  com o sofrimento causado por uma pessoa inepta em uma posição de liderança e que lá estaria por ter sido supostamente "exaltada" por Ele - não o faça cúmplice de uma coisa destas! Ele não deixa de reconhecer os dons que Ele distribui para que o serviço (outra palavra que o "princípio da exaltação" desconhece) prestado ao próximo seja eficaz, bem como não deixa de reconhecer o esforço de servos dedicados que buscam aprimorar e usar seus talentos em Sua presença, alimentando a preguiça daqueles que esperam soluções mágicas e reivindicam "exaltações" automáticas.

Deus distribui dons diversos e vocações diversas - não é porque uma vocação se cumpre de forma "humilde" (ou seja, longe dos holofotes), que isto signifique que ela deixe de ter relevância ou seja menos "exaltada". 

2. José executou um serviço de extrema relevância para a sociedade de seu tempo: para José, "chegar no topo" não foi um fim em si mesmo, mas um meio para prestar um serviço relevante a Deus e à sociedade (Gn 41.46-49, 53-57)*, ou seja, uma oportunidade de ministério. Temo que o princípio da exaltação seja fixado em "lugares de destaque" como um fim em si mesmo, subordinado apenas aos interesses e á vaidade do indivíduo.  

3. José estava a serviço de um propósito maior: Deus não tem filhos mimados. Ele não exalta para massagear egos. A chegada de José ao poder servia aos propósitos redentores de Deus (Gn 50.20). A serviço de quê estão alguns projetos megalomaníacos gerados pelo princípio da exaltação?

A história de José é um incentivo para que não deixemos de cultivar nossos dons e talentos, para que não paremos de estudar, trabalhar e servir. Deus tem uma vocação para cada um de nós, a qual mesmo contra todas as probabilidades humanas Ele deseja cumprir. Devemos nos empenhar em ser as pessoas certas para Deus enviar ao lugares certos.

Que não mais leiamos a história de José para alimentar nosso individualismo e cobiça.

O segredo não é o posto de José. Mas aprender a ser como José.

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*Faço uma ressalva, porém, no sentido de que a ação de José poderia ter sido um pouco mais criteriosa, pois (talvez de forma inconsciente) ele acabou fortalecendo o imperialismo de Faraó (Gn 47.13-26).

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

CARTA ABERTA A UM LUTERO ANGUSTIADO


Tudo começou enquanto eu procurava uma figura para substituir o Spectreman (quem foi criança na década de 80, que entenda!) de minha área de trabalho.

Decidi procurar uma imagem relacionada à Reforma Protestante ou aos cinco Solas e me deparei com a charge acima.

Desconheço o autor da charge e o contexto de onde se originou. A leitura que eu faço da imagem me sugere um Lutero angustiado diante da fragmentação da Igreja em diferentes facções teológicas - e, ao meu ver, a angústia maior deste pensativo Lutero é que ele sente-se responsável pela confusão que está às suas costas.

Em parte até concordo que o Reformador de carne em osso teria compartilhariado, em certa medida, com os sentimentos que aparecem no desenho: Lutero pretendia reformar o catolicismo (já cindido desde o século XI), e não criar um novo segmento eclesiástico. Não creio, contudo, que ele teria chegado ao mesmo nível de desânimo representado na figura. 

Afinal, a grande questão que a charge levanta é: diante do quadro religioso que se desenvolveu nos últimos cinco séculos, valeu a pena a Reforma Protestante?

Respondo positivamente a esta pergunta - e gostaria de apresentar meu argumentos na forma de consolação, uma carta aberta a este Lutero angustiado.

"Caro irmão em Cristo:

Você se encontra angustiado, questionando o seu legado. Por favor, gostaria que você considerasse estas razões para você se reanimar e olhar de foema mais positiva o trabalho que fez em prol do Reino de Deus: 

Lutero, a Reforma Protestante valeu a pena apesar da cena às sua costas porque os riscos da liberdade sempre são preferíveis à falsa segurança da repressão.

Lutero, a Reforma Protestante valeu a pena apesar da cena às sua costas porque colocou a Bíblia nas mãos do povo - e mesmo que alguns façam mau uso dela, a culpa não é nem sua, e nem da Bíblia (além disso, se este argumento não te convencer, lembre-se que tem muita gente que ainda faz bom uso da Bíblia). 

Lutero, a Reforma Protestante valeu a pena apesar da cena às sua costas porque ainda que muita gente tenha se equivocado é sempre melhor alguém pensar e errar do que errar porque alguém pensou em seu lugar.

Lutero, a Reforma Protestante valeu a pena apesar da cena às sua costas porque alguns conceitos do cristianismo realmente possibilitam interpretações variadas  - e foi seu próprio discípulo, Melanchton, quem cunhou o lema máximo da Igreja para lidar com tais questões: 'Nas coisas necessárias, unidade; nas coisas incertas, liberdade; em todas as coisas, caridade'.

Lutero, a Reforma Protestante valeu a pena apesar da cena às sua costas porque ainda que muitos, mesmo tendo a Bíblia em suas mãos, tenham se afastado da doutrina cristã ortodoxa (nem todas as falas que aparecem às suas costas se enquadram na regra de Melanchton e você sabe disso), assim o fizeram não por consequencia direta do espírito da Reforma, mas justamente por se afastarem do espírito da Reforma, que sempre enfatizava a centralidade de Cristo e das Escrituras. 

Lutero, a Reforma Protestante valeu a pena apesar da cena às sua costas porque não foi a 'sua' reforma particular - o que ocorreu em 1517 foi a culminância de aspirações e sentimentos de várias gerações de cristãos que vieram antes de você e que também desejaram reaproximar a cristandade da Bíblia. 

Lutero, a Reforma Protestante valeu a pena apesar da cena às sua costas porque além dos efeitos religiosos, ela foi também um movimento intelectual e econômico pujante, trazendo diversas contribuições à humanidade. 

Lutero, a Reforma Protestante valeu a pena apesar da cena às sua costas porque foi um movimento que conseguiu desburocratizar a fé, resgatando a simplicidade da mensagem cristã e reafirmando a dignidade de cada cristão com a Bíblia nas mãos, diante de Deus através de Cristo.

E meu caro Lutero, se nenhum destes argumentos te convencer, apresento um argumento tirado de meu tempo, do século XXI:

Nunca precisamos tanto de uma Reforma quanto hoje! A situação está feia, pior do que a cena que está às suas costas!

Espero que este último argumento, ao ressaltar a urgência do resgate de seu legado, demonstre de forma concomitante a importância mesmo, te convencendo de uma vez por todas a espantar o bode e se levantar dessa mesa.

Fraternalmente em Cristo, Vitor Gadelha".

terça-feira, 11 de setembro de 2012

COMO SUPERAR DIFICULDADES PARA ENTENDER A BÍBLIA?

1. Engana-se quem imagina que eu iria mencionar a oração em primeiro lugar. Você pode me questionar: "Mas a oração não é necessária para o entendimento das Escrituras? O homem natural não pode compreender  as coisas do Senhor, de acordo com 1.ª aos Coríntios 2.14"! Em primeiro lugar, o vocábulo traduzido por "compreende" na versão Revista e Corrigida seria melhor traduzido por "aceitar" ou "receber". O entendimento de que Paulo fala aqui não é o entendimento do sentido do texto* (um ateu pode alcançar este sentido!), mas o entendimento redentor do texto (ou seja, o entendimento de que devo crer e obedecer à mensagem do texto). Logo, oramos ao ler a Bíblia para que Deus torne nossos corações receptivos à Verdade, e que através da leitura de Sua Palavra possamos crescer em nosso relacionamento com Ele e aprimorar nossos caminhos;

2. Temos dificuldades em entender a Bíblia porque lemos a Palavra de Deus tentando encaixar nela nossas próprias ideias pré-concebidas! Tentamos enxergar nela apenas confirmações para nossos conceitos, preconceitos, experiências e tradições e este tipo de postura nos mantém fechados quanto ao entendimento do texto;

3. Temos dificuldades em entender a Bíblia porque acredita-se que interpretar corretamente as Escrituras significa descobrir em suas páginas significados "místicos, metafóricos e mirabolantes", desprezando o sentido óbvio do texto. Esta postura, infelizmente, é consequência da falta de valorização da pregação que expõe e explica a Bíblia, em preferência de pirotecnias por parte do pregador;

4. Temos dificuldades em entender a Bíblia porque acreditamos que tudo o que está escrito em suas páginas deva ter relação direta com algum problema pessoal. Tal postura dificulta o ato de estudar a Bíblia para compreender sua doutrina, sua leitura acaba sendo subordinada ao imediatismo. A consequência direta deste modo de pensar são as infames "caixinhas de promessa";

5. Temos dificuldades em entender a Bíblia porque não compreendemos a relação entre as partes (cada livro) com o todo (a Bíblia inteira). Esta é uma dificuldade marcante principalmente em relação ao Antigo Testamento, que cobre um período histórico maior. Os livros na Bíblia aparecem em ordem temática, e não em ordem cronológica e precisamos perceber a relação que há, por exemplo, entre Reis e Crônicas e Isaías e Jeremias; entre Esdras e Zacarias; entre Atos e as cartas de Paulo. Uma boa sugestão para conseguir visualizar e assimilar este panorama da história bíblica é ler uma Bíblia para crianças - não tenha vergonha: obras deste tipo apresentam os fatos em ordem cronológica, de forma bastante clara;

6. Temos dificuldades em entender a Bíblia porque isolamos seus textos e eles perdem seu sentido original. Cada texto da Bíblia deve ser compreendido em relação a seu contexto imediato (os versículos anteriores e posteriores) e mais amplo (dentro da estrutura do livro e da Bíblia como um todo). Neste sentido, a divisão em capítulos e versículos (inexistente no original) atrapalha um pouco, pois dá uma falsa impressão de que o texto é fragmentado;

7. Temos dificuldades em entender a Bíblia porque o português da versão que estamos lendo geralmente é muito arcaico. O uso do dicionário e de uma versão bíblica com português contemporâneo (apenas evite versões parafraseadas da Bíblia) são de grande valia.

Estes são apenas alguns exemplos de problemas que dificultam a leitura da Bíblia. Felizmente, a maioria deles são apenas conceitos que precisam ser desmistificados (1, 2, 4, 7). Outros são superados ao longo do tempo; a dedicação ao estudo da Bíblia trará maior habilidade em seu manuseio.

Lembre-se: a Bíblia é a Palavra de Deus para você. Não é um livro de clérigos, mas um livro para todos. Sua mensagem é a Boa Nova de Deus aos homens, suas palavras são luz, vida e sustento. Leia a Bíblia - você precisa fazer isto. Não terceirize seu relacionamento com Deus.

Que possamos ter sempre a melhor postura diante do Livro Sagrado e uma vida frutífera através do aprendizado de suas palavras.

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* Reconheço, porém, muitas vezes o sentido das Escrituras é deturpado devido ao preconceito de algumas pessoas.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

PERIGO: QUANDO O PREGADOR SE TORNA INGÊNUO

Poucas coisas são tão perigosas para a Igreja do que um pregador ingênuo.

Quando o pregador é ingênuo, ele prega como se o ideal já fosse realidade, deixando de fornecer subsídios tanto para a crítica da realidade quanto para a implementação do ideal.

Quando o pregador é ingênuo, ele não atenta para o viés ideológico que sua mensagem pode estar assumindo, e nem questiona a quais interesses pode estar servindo: aos de Deus ou ao dos homens.

Quando o pregador é ingênuo, ele não cria pontes, mas paredes entre as questões de seu tempo, acreditando que assim protege seus ouvintes.

Quando o pregador é ingênuo, ele elege certos temas como tabu e evita abordá-los em seus sermões, crendo com isso que estará prestando um serviço a seus ouvintes - deixando de enxergar, assim a abrangência bíblica sobre o todo da realidade e da experiência.

Quando o pregador é ingênuo, ele acredita que sempre tem de ratificar outros pregadores.

Quando o pregador é ingênuo, ele considera que a diferença entre a pregação e ensino é de conteúdo, e não de método, de forma que sua proclamação não ensina - e quando ele ensina, não proclama.

Quando o pregador é ingênuo, ele acredita que pode abrir mão de “ismos” e “logias”, simploriamente crendo que pode descartar mais de 20 séculos de reflexão teológica cristã – e ignorando o quando estas categorias já estão incorporadas a nossa compreensão do cristianismo.

Quando o pregador é ingênuo, ele não possui argumentos, mas generalizações, clichês e frases prontas – e acredita que está fazendo um bom trabalho.

Quando o pregador é ingênuo, ele acredita que orar soluciona todas as coisas.

Quando o pregador é ingênuo, ele se responsabiliza por questões que não são de sua alçada, e perde o foco de suas reais responsabilidades.

Quando o pregador é ingênuo, ele não entende que ele tem de desenvolver o senso crítico de seus ouvintes.

Quando o pregador é ingênuo, ele não sabe avaliar resultados – e talvez nem saiba quais são os resultados que deva buscar.

Por que pregadores ingênuos são tão perigosos?

Porque a ingenuidade no ministério do pregador implica no risco de que ele esteja vindo a ser uma marionete que forma marionetes.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

SOBRE AS CARICATURAS TEOLÓGICAS

Dentro do cristianismo evangélico, existe um grande consenso acerca das doutrinas centrais (ou basilares) da fé.

Outras doutrinas periféricas (ou secundárias) não apresentam o mesmo nível de acordo - uma das razões pelas quais existem tantas denominações evangélicas: suas interpretações diferenciadas das doutrinas secundárias do cristianismo.

 Desta forma a igreja está dividida entre calvinistas e arminianos, pentecostais e não-pentecostais; cessacionistas e não-cessacionistas; congregacionais e episcopais; tricotomistas, dicotomistas e monistas; amilenistas, pré-milenistas e pós-milenistas; pré-tribulacionistas, pós-tribulacionistas e mid-tribulacionistas, etc.

Por que surgem tais diferenças? Bem, porque cada uma destas controvérsias teológicas dentro do cristianismo têm evidências bíblicas para sustentá-las, sendo necessário que  cada intérprete (e cada um de nós) pese bem as evidências em favor de cada hipótese e, dentro de um exercício de interpretação sadio da Escrituras, decida pela posição A ou B (não é possível sustentar o argumento relativista de que todas as posições estão certas - ainda que se tratem de assuntos periféricos, alguém chegou a uma interpretação mais adequada de determinado tema à luz das Escrituras, de forma que sua interpretação deva ser preferida diante de outras).

O diálogo entre os proponentes de cada posição não costuma ser muito proveitoso, especialmente no que tange a proporcionar uma visão clara do pensamento teológico do outro grupo: geralmente, a pessoa conhece uma visão distorcida da teologia de seu irmão, uma caricatura teológica. 

Todo posicionamento teológico possui sua razão de ser, sua lógica interna - da mesma forma cada um destes posicionamentos teológicos pode ser tão mal-compreendido (inclusive por aqueles que os defendem) que venha a possuir também sua própria caricatura, tanto no que diz respeito à sua lógica interna, quanto à sua aplicação prática.

E geralmente, dentro da igreja, não se conhece a teologia do outro, mas apenas sua caricatura. 

O exercício de análise teológica acaba sendo o de refutar caricaturas - que não existem.

Calvinistas não são fatalistas e nem libertinos em decorrência de sua crença na perseverança dos santos - quem assim pensa demonstra que não conhece a teologia calvinista.

Arminianos não negam a soberania de Deus, mas a explicam de outra forma - quem acha que os arminianos assim pensam demonstra desconhecimento da teologia remonstrante.

Pentecostais não são místicos irracionais - quem assim pensa demonstra desconhecer os pressupostos teológicos da paracletologia pentecostal, tirando suas conclusões a partir da observação de grupos isolados. 

Cristãos cessacionistas não são "frios" - tal comentário demonstra desconhecimento do alto apreço que este grupo possui pela suficiência das Escrituras.

Pedobatistas não são romanistas - pensa assim quem desconhece o pressuposto teológico destes irmãos, de que toda a Igreja (inclusive as crianças) são o povo da aliança do Senhor.

E por aí vai, existindo muitos outros exemplos de caricaturas teológicas.

Como eu já disse, não estou defendendo a ideia de que todas as posições teológicas estão certas (isto seria ilógico até, visto que, em muitos casos, A exclui B).

Mas creio que faz parte do aprimoramento teológico e humano do cristão conhecer bem a teologia - tanto a que ele defende quanto a que ele refuta, a fim de que sua fé e seu exercício de pensar a fé não esteja fundamentado em preconceitos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

MEU ELOGIO A NED FLANDERS

Sei que não á possível falar de apenas "um" Ned Flanders.

Afinal, cada diferente episódio (e cada diferente roteirista) apresenta um novo olhar, uma nova forma de te definir, apesar de manterem, de forma consciente ou não, o mistério que há em você.

Não conseguiram negar o poder de sua fé genuína e os benefícios que ela traz aos que convivem com você.

Sim , pois no seriado que consagrou o deboche niilista como meio de crítica e denúncia, você permanece como um referencial de decência e sanidade.

Apesar de tudo.

Apesar de muitas vezes tentarem transformar você em um símbolo da obsolescência do Cristianismo, não conseguiram impedir que você fosse admirado.

Apesar de tentarem fazer de você o bode expiatório dos erros dos religiosos modernos e do passado, não conseguiram diluir a validade de sua crença e de seu exemplo.

Sua ingenuidade apenas dá testemunho da singeleza de sua fé.

Quando você se mostra limitado na compreensão dos aspectos mais amplos de sua crença,  você se irmana com todos aqueles que precisam crescer na graça e conhecimento de Jesus Cristo.

Seus erros dão testemunho de sua fragilidade - a qual você confessou e encarou de forma franca, diversas vezes.

Você é temente a Deus - e, justamente por isso, você se torna amigo de Deus e amigo do próximo.

E aí está toda a diferença.

Seu simples e ao mesmo tempo vasto legado consiste em estender constantemente a destra da amizade a um vizinho insuportável, mostrar-se mais devoto do que o clérigo de sua comunidade, ser um pai dedicado e um cidadão honesto e cortês.

Então, por demonstrar de forma tão clara prática o amor de Cristo, eu te dou meus parabéns, Ned Flanders!

Parabéns por seu bom testemunho durante estes 20 anos de "Os Simpsons"!

Parabéns por impedir que o seriado de maior longevidade na história da televisão ficasse totalmente secularizado!

Parabéns por fazer a diferença em Springfield!

E parabéns por mostrar que a fé, o amor e a esperança são ferramentas mais poderosas e eficazes que o deboche e o niilismo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A TEOLOGIA DO GRANDE AMOR



A repercussão causada pela traição de Kristen Stewart me fez pensar um pouco sobre as contradições de nosso tempo.

Vivemos em uma sociedade que valoriza cada vez mais a liberalidade no amor como forma de liberdade, mas que ao mesmo tempo rejeitou a atitude da jovem atriz.



Robert Pattinson e Kristen Stewart protagonizaram nos cinemas a saga Crepúsculo, o mais recente sucesso da literatura romântica (o vampirismo, na verdade, é apenas um tema menor dentro da obra, que é uma história de amor, em sua forma mais clássica, nobre e antiquada – e, aliás, para muitos críticos, é um mistério que um livro com uma ética tão retrógrada tenha feito tanto sucesso em nossos dias permissivos.).



Os romance dos dois jovens atores fascinava por dar continuidade, na vida real, ao romance da fantasia.

Era a concretização do final feliz – que veio por água abaixo com o affair da garota com o diretor de seu novo filme.



E vivemos em uma sociedade que não admite perder o final feliz de um conto de fadas romântico – e por quê, já que seu discurso e prática, com seus carnavais, baladas, bailes funk e coisas do gênero conspiram contra ele?

Por que, se os paradigmas de masculinidade e feminilidade de nosso tempo aboliram o “que até a morte os separe” como essencial para o final feliz?

Talvez por saber, sem assumir, que esta postura inviabiliza o “felizes para sempre”.



Parece que a permissividade é o discurso de nosso tempo, mas o desejo dos seres humanos de nosso tempo continua sendo o grande amor.

Prega-se a poligamia, mas se quer a monogamia.



Ouso dizer que, da mesma forma que Deus colocou a eternidade no coração dos homem, instigando-o para a transcendência (Eclesiastes 3.11), Deus também colocou no coração humano o desejo de viver um relacionamento significativo e exclusivo com outra pessoa  – ser uma única carne com alguém (Gênesis 2.18-25)*.

Uma figura tão poderosa que é símbolo do relacionamento de Cristo com Seu povo (Efésios 5.25-33).

Viver o grande amor. Não uma molecagem. É disto que os seres humanos precisam.



Mesmo que o discurso de nossa sociedade negue isto, como ato falho este anseio aparece, nas artes e nas canções - motivo pelo qual eu coloquei tantos "casais célebres" de nossa cultura neste post, como testemunho de como o grande amor é valorizado e ansiado.

E como testemunho e explicação também de como e porquê a sociedade sente-se frustrada quando a vida não imita a arte (arte que muitas vezes serve como escape da própria vida para as pessoas) - e acaba o que parecia ser um conto de fadas.
 
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*Exceção deve ser feita àqueles que, por dom e vocação divina, abrem mão desta vivência para dedicação exclusiva ao ministério (Mateus 19.12; 1 Coríntios 7.7).

sábado, 14 de julho de 2012

O VERSÍCULO MAIS TRISTE DA BÍBLIA


“Conheçamos e prossigamos em conhecer o SENHOR: como a alva, será a sua saída; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Oséias 6.3).

O que torna triste este versículo – que tem sido largamente utilizado como tema de canções e congressos pela igreja brasileira?

O que torna triste este versículo – que expressa um anelo nobre e que deve, sem sombra de dúvida, ser endossado: o de conhecer de forma crescente e contínua a Deus?

O que torna triste este versículo – escrito pelo profeta que exemplificou em sua vida pessoal a intensidade e fidelidade do relacionamento de amor Deus com Seu povo?

O que torna triste este versículo – que faz parte do rol dos chamados “versículos conhecidos” da Bíblia Sagrada (sem dúvida um status privilegiado para este texto, levando em consideração o atual índice de analfabetismo bíblico)?

O que torna tão triste este versículo é o seu contexto – ou, de forma mais precisa, o versículo seguinte:

“Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa beneficência é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa” (Oséias 6.4).

Deus não se enganou pelas belas palavras daqueles que, desde o versículo 1, falavam sobre conversão e restauração. Deus conhecia o coração deles.

Era fogo de palha – e, para Deus, fogo de palha é fogo estranho.

Oséias 6.3 é simplesmente o registro de uma grande fanfarronice de Israel.

Uma fanfarronice que dá testemunho da justiça do julgamento executado por Deus, conforme relata o versículo 5. E é triste ver que o Deus que julgou a dissimulação de Seu povo tinha como anseio justamente ser conhecido por ele (versículo 6), em um relacionamento ortodoxo e ortoprático – mas Seu povo teimosamente preferia se ater a uma religiosidade hipócrita, insensível e ritualística, sofrendo as consequências disto.

O que torna Oséias 6.3 o versículo mais triste da Bíblia é constatar que a nobre intenção do versículo, expressa em tão belas palavras, não foi cumprida.

Que possamos fazer melhor.

Deus não é o Capitão Nascimento, mas certamente já está farto de fanfarronice. Mesmo daquelas expressas com as palavras mais belas .

terça-feira, 19 de junho de 2012

O HOMEM QUE MAIS PREJUDICOU O CRISTIANISMO NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE


Esqueça Darwin com a Teoria da Evolução, ou mesmo Nietszche, que alardeou pelos quatro cantos a bravata de que Deus estava morto, ou mesmo ainda um dos neo-ateus da atualidade, como Richard Dawkins.

Não.

O maior prejuízo à fé cristã não veio da boca ou da pena destes homens – sendo que ”prejuízo”, na concepção deste artigo, não se refere à perseguição, que tem produzido mártires ao longo dos séculos, ou mesmo à oposição intelectual, à qual apologetas da Igreja não se furtaram a questionar, antes se refere ao êxito na:

  1. popularização de uma cosmovisão com tal índice de sucesso que tal maneira de pensar conseguiu se incorporar à consciência coletiva e;
  2. sendo tal cosmovisão tão  radicalmente oposta ao cristianismo, conseguiu criar um grande entrave para a compreensão do mesmo pela sociedade.  

Estou falando de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e seu conceito sobre a bondade humana inata.



Emilio, ou Da Educação, a principal obra do filósofo francês, tem como tema principal é a forma ideal de educar as crianças (curiosamente, Rousseau abandonou seus próprios filhos no orfanato).

No livro, ele defende a famosa tese de que o homem é bom por natureza, mas a sociedade o corrompe.

De imediato, esta famosa tese apresenta um grave problema de lógica: como homens que são, em tese, bons, poderiam gerar uma sociedade má? O filósofo dá a impressão de que a sociedade não é composta por homens. Se a sociedade é formada pela soma de homens que são naturalmente bons, de onde surgiu o elemento corruptor que impediu que a soma de homens bons produzissem uma sociedade boa? O raciocínio de Rousseau neste ponto se assemelha muito ao de Sartre, que afirmava que “o inferno são os outros”.

Mesmo sendo logicamente inconsistente, a tese de Rousseau ganhou enorme aceitação popular, ainda que negasse uma importante doutrina cristã: o estado caído da humanidade, que faz com que o homem seja mau – ou seja, pecador – por natureza.

É a partir da constatação da queda humana que o cristianismo apresenta a boa nova de que Deus provê salvação ao homem – homem que, como conseqüência de seus pecados, encontra-se alienado de Deus, do próximo (daí vem a iniquidade na sociedade) e de si mesmo.

A sustentação da doutrina da depravação humana não é uma insistência mórbida de teólogos cristãos (até mesmo porque esta é a mais empírica de todas as doutrinas cristãs), mas porque não faz sentido falar de salvação a quem não precisa ser salvo!

Se o homem é bom, de forma inata:

  1. Ele não precisa de um Deus que o salve – basta apenas desenvolver sua bondade natural (autosoterismo);
  2. Já que ele é bom, passa a ter mérito diante de Deus – o homem “merece” o céu, “merece” que Deus o abençoe;
  3. Ele deixa de ter responsabilidade pelo que faz e pelo que é, já que outros o tornaram corrupto;
  4. O homem passa a ser realmente a medida de todas as coisas (de onde você acha que vêm o famoso conceito “siga seu coração”?) – é estabelecido, então, o antropocentrismo, em seu mais alto grau.

A conseqüência direta da popularização desta tese de Rousseau foi o esvaziamento de sentido da mensagem do Evangelho, através da formação de uma nova forma do homem olhar a si mesmo e não se ver mais como pecador.

A crítica feita à teologia liberal do século XVIII (que, de forma semelhante a outras linhas de pensamento desenvolvidas desde então é essencialmente antropológica, tendo reinterpretado o Evangelho negando a radical necessidade do ser humano ser salvo de sua própria pecaminosidade), resume bem a como homem moderno e pós-moderno concebe o Evangelho, após fazer a releitura de si mesmo nos moldes de Rousseau: “Um Deus sem ira enviou um Jesus falível para morrer desnecessariamente na cruz por uma humanidade sem pecado”.

Este é, então, um dos maiores entraves à compreensão do Evangelho atualmente: Rousseau ajudou (de forma consciente ou não) a humanidade acreditar que não precisa dele.

O homem contemporâneo pode até aceitar um Jesus Mestre, um Jesus Modelo de Vida, um Jesus abençoador - não crê que precisa de um Jesus Salvador, pois não consegue compreender que precisa ser salvo.

Hiroshima. Auschwitz. Vietnã. Serra Leoa. Todas as pequenas mazelas do cotidiano, individuais e coletivas... a história não dá sustentação à tese de Rousseu.

O ser humano é mau. E consegue produzir uma sociedade igualmente ruim.
 
É triste. E também irônico que o maior prejuízo causado ao cristianismo em sua história não tenha vindo a partir de uma negação de Deus.

Foi simplesmente uma mentira a respeito da natureza humana.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

PENSE NISTO – UMA PALAVRA DE FRIEDRICH SCHILLER (e musicada por Ludwig van Beethoven!)



ODE À ALEGRIA


Oh amigos, mudemos de tom!

Entoemos algo mais prazeroso
 

E mais alegre!

  
Alegre, formosa centelha divina,

Filha do Elíseo,

Ébrios de fogo entramos

Em teu santuário celeste!

Tua magia volta a unir

O que o costume rigorosamente dividiu.

Todos os homens se irmanam

Todos os homens se irmanam

Ali onde teu doce vôo se detém.


Quem já conseguiu o maior tesouro

De ser o amigo de um amigo,

Quem já conquistou uma mulher amável

Rejubile-se conosco!

Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,

Uma única em todo o mundo.

Mas aquele que falhou nisso

Mas aquele que falhou nisso

Que fique chorando sozinho!


Alegria bebem todos os seres

No seio da Natureza:

Todos os bons, todos os maus,

Seguem seu rastro de rosas.

Ela nos deu beijos e vinho e

Um amigo leal até a morte;

Deu força para a vida aos mais humildes

Deu força para a vida aos mais humildes

E ao querubim que se ergue diante de Deus!


Alegremente, como seus sóis corram

Através do esplêndido espaço celeste

Se expressem, irmãos, em seus caminhos,

Alegremente como o herói diante da vitória.

  
Alegre, formosa centelha divina,

Filha do Elíseo,

Ébrios de fogo entramos

Em teu santuário celeste!

Abracem-se milhões!

Enviem este beijo para todo o mundo!

Irmãos, além do céu estrelado

Mora um Pai Amado.

Milhões se deprimem diante Dele?

Mundo, você percebe seu Criador?

Procure-o mais acima do céu estrelado!

Sobre as estrelas onde Ele mora.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

ESBOÇO: O DEUS DAS PESSOAS COMPLICADAS (SERMÃO BIOGRÁFICO)

TEXTO: "Pela fé Jacó, próximo da morte, abençoou cada um dos filhos de José, e adorou encostado à ponta do seu bordão" (Hebreus 11:21).
 
INTRODUÇÃO: A vida de Jacó me ensina que Deus é Alguém que aceita se relacionar com pessoas complicadas. Mas por que Jacó pode ser considerado alguém complicado?

• MOTIVO 1: Quis ser feliz da forma errada (através da astúcia e do engano)

• MOTIVO 2: Em sua caminhada com Deus, sua fé precisou ser constantemente lapidada - um processo de aprendizagem que durou por toda a vida

OU SEJA, JACÓ ERA COMPLICADO PELO MESMO MOTIVO QUE TODOS NÓS SOMOS COMPLICADOS

• A etimologia ajuda a compreender o conceito de algo complicado: "Complexo" vem do Latim COMPLEXUS, "abrangente, aquele que rodeia", particípio passado de COMPLECTI, "rodear, abarcar". Este verbo é formado por COM-, "junto", mais PLECTERE, "tecer, urdir". "Complicado" vem de COMPLICARE, formado por COM, "junto", mais PLICARE, "dobrar". O que apresenta muitas dobras reunidas, difícil de desfazer, o que é diferente de "Completo" se forma por COM-, intensificativo, mais PLERE, "encher, completar" (origem de "pleno").

• Logo, lidar com algo complicado significa:

• Lidar com algo TRABALHOSO (às vezes, DESCECESSARIAMENTE trabalhoso)

• Lidar com algo que requer um ESPECIALISTA

• Como eu disse no início, a vida de Jacó me ensina que Deus é Alguém que aceita se relacionar com pessoas complicadas. E a grande maravilha que a biografia deste patriarca me ensina é que Deus QUIS e CONTINUOU QUERENDO relacionar-se com Jacó.

 
FRASE DE TRANSIÇÃO: Como Deus se relaciona com pessoas complicadas?
 
1. Deus se REVELA a pessoas complicadas (Gn 28.12-15)

• Enquanto Deus não fala, a pessoa relaciona-se consigo mesmo

2. Deus DISCIPLINA pessoas complicadas (Gn 29.25)

• Quando Deus disciplina, Deus ensina de forma prática, que os caminhos dEle são melhores

3. Deus CUIDA de pessoas complicadas (30.37-43)

• Deus não exclui Seu cuidado enquanto as pessoas ainda estão em processo de amadurecimento - ou "descomplicamento".

4. Deus TRANSFORMA pessoas complicadas (Gn 32.24-32)

A graça de Deus não é vazia: viver um  relacionamento com Deus é viver um relacionamento transformador - por isso, Deus dá um BASTA em Jacó, a fim de que surja Israel: Ele assim age para o bem do próprio patriarca e para o bem maior da humanidade de froma que, ao final de tudo,  seja possível discernir que foi forjado um adorador a partir de uma pessoa complicada.

TESE: DEUS PODE TRANSFORMAR PESSOAS COMPLICADAS EM HERÓIS DA FÉ.

APLICAÇÃO:

Devemos que o relacionamento de Deus com as pessoas baseia-se em Sua graça - somos complicados demais para ter méritos diante dEle.

Não podemos confundir fidelidade (firmeza de propósito) com perfeição (alcance pleno dos propósitos) - a primeira é nosso dever e chamada, a segunda é nosso ideal e motivação.

Não podemos fechar as portas a ninguém - Deus não fechou portas a Jacó.

Não podemos confundir maldade com imperfeição, perversidade com complicação, falha com hábito: apesar de todos os percalços, a biografia de Jacó é a biografia de um ADORADOR.
 
CONCLUSÃO: A parte B do Salmo 23, onde Davi reconhece que seu relacionamento com Deus está baseado e repousa totalmente na bondade e misericórdia do Senhor.