terça-feira, 19 de junho de 2012

O HOMEM QUE MAIS PREJUDICOU O CRISTIANISMO NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE


Esqueça Darwin com a Teoria da Evolução, ou mesmo Nietszche, que alardeou pelos quatro cantos a bravata de que Deus estava morto, ou mesmo ainda um dos neo-ateus da atualidade, como Richard Dawkins.

Não.

O maior prejuízo à fé cristã não veio da boca ou da pena destes homens – sendo que ”prejuízo”, na concepção deste artigo, não se refere à perseguição, que tem produzido mártires ao longo dos séculos, ou mesmo à oposição intelectual, à qual apologetas da Igreja não se furtaram a questionar, antes se refere ao êxito na:

  1. popularização de uma cosmovisão com tal índice de sucesso que tal maneira de pensar conseguiu se incorporar à consciência coletiva e;
  2. sendo tal cosmovisão tão  radicalmente oposta ao cristianismo, conseguiu criar um grande entrave para a compreensão do mesmo pela sociedade.  

Estou falando de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e seu conceito sobre a bondade humana inata.



Emilio, ou Da Educação, a principal obra do filósofo francês, tem como tema principal é a forma ideal de educar as crianças (curiosamente, Rousseau abandonou seus próprios filhos no orfanato).

No livro, ele defende a famosa tese de que o homem é bom por natureza, mas a sociedade o corrompe.

De imediato, esta famosa tese apresenta um grave problema de lógica: como homens que são, em tese, bons, poderiam gerar uma sociedade má? O filósofo dá a impressão de que a sociedade não é composta por homens. Se a sociedade é formada pela soma de homens que são naturalmente bons, de onde surgiu o elemento corruptor que impediu que a soma de homens bons produzissem uma sociedade boa? O raciocínio de Rousseau neste ponto se assemelha muito ao de Sartre, que afirmava que “o inferno são os outros”.

Mesmo sendo logicamente inconsistente, a tese de Rousseau ganhou enorme aceitação popular, ainda que negasse uma importante doutrina cristã: o estado caído da humanidade, que faz com que o homem seja mau – ou seja, pecador – por natureza.

É a partir da constatação da queda humana que o cristianismo apresenta a boa nova de que Deus provê salvação ao homem – homem que, como conseqüência de seus pecados, encontra-se alienado de Deus, do próximo (daí vem a iniquidade na sociedade) e de si mesmo.

A sustentação da doutrina da depravação humana não é uma insistência mórbida de teólogos cristãos (até mesmo porque esta é a mais empírica de todas as doutrinas cristãs), mas porque não faz sentido falar de salvação a quem não precisa ser salvo!

Se o homem é bom, de forma inata:

  1. Ele não precisa de um Deus que o salve – basta apenas desenvolver sua bondade natural (autosoterismo);
  2. Já que ele é bom, passa a ter mérito diante de Deus – o homem “merece” o céu, “merece” que Deus o abençoe;
  3. Ele deixa de ter responsabilidade pelo que faz e pelo que é, já que outros o tornaram corrupto;
  4. O homem passa a ser realmente a medida de todas as coisas (de onde você acha que vêm o famoso conceito “siga seu coração”?) – é estabelecido, então, o antropocentrismo, em seu mais alto grau.

A conseqüência direta da popularização desta tese de Rousseau foi o esvaziamento de sentido da mensagem do Evangelho, através da formação de uma nova forma do homem olhar a si mesmo e não se ver mais como pecador.

A crítica feita à teologia liberal do século XVIII (que, de forma semelhante a outras linhas de pensamento desenvolvidas desde então é essencialmente antropológica, tendo reinterpretado o Evangelho negando a radical necessidade do ser humano ser salvo de sua própria pecaminosidade), resume bem a como homem moderno e pós-moderno concebe o Evangelho, após fazer a releitura de si mesmo nos moldes de Rousseau: “Um Deus sem ira enviou um Jesus falível para morrer desnecessariamente na cruz por uma humanidade sem pecado”.

Este é, então, um dos maiores entraves à compreensão do Evangelho atualmente: Rousseau ajudou (de forma consciente ou não) a humanidade acreditar que não precisa dele.

O homem contemporâneo pode até aceitar um Jesus Mestre, um Jesus Modelo de Vida, um Jesus abençoador - não crê que precisa de um Jesus Salvador, pois não consegue compreender que precisa ser salvo.

Hiroshima. Auschwitz. Vietnã. Serra Leoa. Todas as pequenas mazelas do cotidiano, individuais e coletivas... a história não dá sustentação à tese de Rousseu.

O ser humano é mau. E consegue produzir uma sociedade igualmente ruim.
 
É triste. E também irônico que o maior prejuízo causado ao cristianismo em sua história não tenha vindo a partir de uma negação de Deus.

Foi simplesmente uma mentira a respeito da natureza humana.

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