Em 1980, em uma de suas últimas entrevistas (Revista VEJA, n.º 641, 17 de dezembro de 1980), John Lennon rechaçou mais uma vez a ideia de que os Beatles, já separados há 10 anos, se reunissem novamente - desta vez, recusando também a ideia de realizar shows filantrópicos, sugerida pelo jornalista que o entrevistou.
O músico era cético quanto a práticas de assistencialismo, além de discordar da ideia de que ele, pessoalmente, devesse ser responsável pela diminuição da pobreza no mundo.
“De onde as pessoas tiraram essa ideia de que os Beatles deveriam dar 200 milhões de dólares para a América Latina? Olha, os Estados Unidos já despejaram bilhões em lugares como esse. Não significou nada. Depois que os 200 milhões se forem o que acontecerá? É um círculo vicioso. Pode-se despejar dinheiro infinitamente. Depois do Peru, o Harlem; depois a Inglaterra. Não haverá um concerto.Teríamos de dedicar o resto da vida a uma excursão mundial, e eu não estou preparado para isso. Não nesta vida, pelo menos”.
Ao ler a entrevista, fiquei decepcionado com tal declaração, ainda mais porque a hipótese apresentada a John Lennon não era de todo infundada: a banda seria capaz de mobilizar grandes quantias para a flantropia - um dado facilmente constatável pela enorme rentabilidade da marca "Beatles" mesmo hoje, após 40 anos da separação da banda!
Entäo, lamentei por não ter pessoalmente, como John Lennon, poder para reduzir sensivelmente a pobreza no mundo e fiquei imaginando como tudo seria diferente se eu estivesse no lugar dele.
Por instantes, desejei ter a mesma oportunidade que ele teve.
Mas isto é apenas devaneio.
Preocupante mesmo é a declaração de Ronald J. Sider em "O Escândalo do Comportamento Evangélico" (ed. Ultimato) de que apenas o dízimo da igreja americana seria renda privada suficiente para acabar com a miséria no mundo (pág. 22).
E como está sendo gasta essa grana...?
Lamento novamente, engulo em seco e tomo fôlego.
Tomo fôlego quando contemplo meu contexto particular de vida e as realizações que ele exige e ao mesmo tempo promete.
Mesmo sabendo que não tenho o mesmo potencial que outros teriam para realizar ações grandiosas (e não o fizeram), dentro do círculo que Deus me confiou sei que posso agir de forma legitimamente relevante, alcançando resultados significativos.
O segredo não é o potencial em si, mas a responsabilidade que cada um assume diante de seu potencial, o que irá determinar a sua utilização.
Tomo fôlego e sigo em frente, enfim, porque concluo que Deus não vai nos julgar por quem não fomos, nem pelo bem que não tivemos oportunidade de fazer, mas por quem somos e como usamos os nossos talentos.
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