segunda-feira, 24 de maio de 2010

O QUE APRENDEM OS APRENDIZES?

O programa “o Aprendiz”, originalmente apresentado por Roberto Justus, é um reality-show.

Seu desafio não se constitui em exibicionismo diante das câmaras, como no “Big Brother” ou passar penúria em algum paraíso tropical, como “No Limite”. Nem tampouco pagar micos rurais, como em “A Fazenda”. O objetivo é cumprir metas que comprovem a necessária competência para ocupar por um ano um cargo executivo dentro da empresa do apresentador.

Através de “O Aprendiz” o público brasileiro tem contato com o mundo corporativo.

E não percebe que está diante de um dos espetáculos mais cruéis da televisão brasileira.

“O Aprendiz” consegue mostrar o capitalismo contemporâneo em seu aspecto mais nefasto, onde os negócios estão acima de tudo. As cifras são o mais importante. Mesmo o requinte e o glamour do programa não conseguem disfarçar a selvageria deste sistema de coisas.

Competitividade é a palavra de ordem. Solidariedade e misericórdia, quer entre os participantes, ou entre o apresentador, futuro patrão e os futuros empregados, nem pensar. Legitima-se a deterioração das relações trabalhistas.

“Trabalho em equipe” é apenas um eufemismo para o fato de que e grupo é apenas um meio para atingir as metas. Há a equipe, mas não há o coletivismo, o humanitarismo.

Diante daqueles que podem decidir a continuidade ou não do candidato no programa, o senso crítico deve ser aposentado em total anuência. Assim, deve se aceitar ser taxado como incompetente.

A cobiça é estimulada através dos prêmios oferecidos pelo êxito nas tarefas, mostrando que é válido todo esforço e humilhação para pertencer ao mundo da elite. É claro que não se menciona, nem aos participantes, nem à massa de espectadores deslumbrados, o fato de que este estilo de vida custa caro, sendo sustentado pela peãozada que trabalha nas empresas desta mesma elite, composta por workaholics que mal podem desfrutá-lo.

Aliás, a premissa principal de “o Aprendiz” é que é muito ruim ser pobre. Ser peão. É o que justifica a audiência do programa, o que justifica o risco de ouvir um vergonhoso “é demitido” em cadeia nacional.

Quem é o vencedor? O melhor de todos. Quem é o melhor? O termo “melhor”, não é compreendido em termos éticos ou ontológicos, mas definido apenas em termos de resultados: o melhor é aquele que atinge as metas, que acerta as regras do jogo, que dança conforme a música – não importa que o jogo seja questionável e a música, desafinada: enfim, à luz do título do programa, aquele que “aprendeu” a lição.

E, assim, o melhor recebe como prêmio a oportunidade de trabalhar por um ano recebendo um bom salário.

Sem parar para pensar que um bom salário não é um prêmio, mas o direito justo de qualquer trabalhador.

É assim que funciona.

São aprendizes.

Mas, meu Deus, o que eles e os telespectadores brasileiros estão aprendendo?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

COMO ANDA SUA INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL?


Howard Gardner desenvolveu a teoria das inteligências múltiplas.

Segundo o autor, cada um de nós se sobressai em uma área específica do saber humano. Não existe ninguém “burro”. O motivo pelo qual algumas pessoas são excluídas e taxadas como incapazes é que elas não se sobressaem nos saberes valorizados socialmente.

Sendo assim, teríamos multiplicidades de inteligências dentro da espécie humana: lógico-matemática, corporal, musical, interpessoal, intrapessoal, etc.

Um desdobramento da teoria de Gardner trouxe o conceito de “inteligência espiritual”.

Pessoas dotadas com este tipo específico de inteligência melhor compreenderiam os aspectos ulteriores da realidade, seriam mais sensíveis ao sofrimento alheio e teriam profunda consciência ética.

Afunilando um pouco esta definição (que é extremamente eclética), dando um enfoque mais cristão a este tema (que concebe a espiritualidade como vida em dinâmica comunhão com Deus através de Jesus Cristo), gostaria de propor algumas reflexões, um “quiz”, com o intuito de aferir se, como cristãos, somos “inteligentes” na maneira como vivenciamos nossa espiritualidade.

Alguns definem inteligência como a capacidade de solucionar problemas. Sendo assim, diante de uma grande dificuldade, a fé é seu primeiro recurso?
(   ) Sim            (   ) Não     (   ) Às vezes    (   ) Quase nunca

Se inteligência (do latim intus leggere, “leitura interior”) significa capacidade de diálogo interior, para você auto-exame é uma postura de vida constante?
(   ) Sim            (   ) Não     (   ) Às vezes    (   ) Quase nunca

É sinal de inteligência a autopreservação. Logo, posso dizer que emprego os meios necessários para promover meu crescimento espiritual de forma contínua e saudável?
(   ) Sim            (   ) Não     (   ) Às vezes    (   ) Quase nunca

Uma pessoa inteligente assimila com mais facilidade as coisas. Sendo assim, fico protelando para aceitar a vontade de Deus para minha vida?
(   ) Sim            (   ) Não     (   ) Às vezes    (   ) Quase nunca

Discernimento e inteligência andam juntos. Então, como cristão, gerencio com cuidado minha bagagem de conceitos e valores, tendo todos eles elencados cuidadosamente?
(   ) Sim            (   ) Não     (   ) Às vezes    (   ) Quase nunca

Diz o adágio que “mente desocupada é oficina do diabo”. Posso dizer que não é o meu caso, pois tenho planos, aspirações e projetos de vida (que demonstram que minha mente não caminha pela ociosidade) estão fundamentados em Deus e visam Sua glória (e nem pela frivolidade)?
(   ) Sim            (   ) Não     (   ) Às vezes    (   ) Quase nunca
Concorda que é uma atitude inteligente compartilhar com outros a fé que é tão preciosa para você?
(   ) Sim            (   ) Não     (   ) Às vezes    (   ) Quase nunca

É óbvio que a perfeição está distante de nós. Mas, esquecendo-me de refinamentos teológicos, sabendo que a aprendizagem de princípios simples precede a aprendizagem de princípios complexos, posso dizer que, nos mais rudimentares princípios do Evangelho, que são o amor a Deus e ao próximo, já obtive crescimento e eles são uma constante em minha vida?
(   ) Sim            (   ) Não     (   ) Às vezes    (   ) Quase nunca

***

Pois é, se o aprimoramento em santificação significa crescimento em sabedoria, o oposto também é verdadeiro: uma das características mais marcante do pecado é a tolice.

terça-feira, 11 de maio de 2010

PENSE NISTO: UMA PALAVRA DE JOÃO CALVINO


"Quase toda a suma de nossa sabedoria, que deve ser considerada a sabedoria verdadeira e sólida, compõe-se de duas partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos. Como são unidas entre si por muitos laços, não é fácil discernir qual precede e gera a outra. Pois, em primeiro lugar, ninguém pode olhar para si sem que volte imediatamente seus sentidos para Deus, no qual vive e se move, porque não há muita dúvida acerca de que não provenham de nós as qualidades pelas quais nos sobressaímos. Pelo contrário, é certo que sejamos senão a subsistência no Deus uno. Ademais, por esses bens, que gota a gota caem do céu sobre nós, somos conduzidos como que de um regato para uma fonte. Da perspectiva de nossa miséria, mostra-se melhor aquela infinidade de bens que residem em Deus. Especialmente essa ruína miserável em que nos lançou o erro do primeiro homem obriga-nos a olhar para cima, não só para que, em jejum e famintos, busquemos o que nos falta, mas também para, despertados pelo medo, aprendermos a humildade. Pois, como se encontra no homem todo um mundo de misérias, desde que fomos despojados do ornamento divino, uma nudez vergonhosa revelou-nos uma grande quantidade de opróbrios: é necessário que a consciência de cada um seja tocada pela própria infelicidade para que chegue ao menos a algum conhecimento de Deus. Assim, do sentimento de ignorância, vaidade, indigência, enfermidade, enfim, de depravação e da própria corrupção, reconhecemos que não está em outro lugar, senão em Deus, a verdadeira luz da sabedoria, a sólida virtude, a perfeita confluência de todos os bens, a pureza da justiça, a tal ponto que somos estimulados por nossos males a considerar os bens divinos. E não podemos aspirar seriamente a isso antes que comecemos a nos degradar de nós mesmos. Com efeito, que homem descansa satisfeito em si mesmo? Quem não repousa enquanto é desconhecido para si, isto é, enquanto contente com seus dons e ignorante ou esquecido de sua miséria? Por isso, o reconhecimento de si não apenas instiga qualquer um a buscar a Deus, mas ainda como que o conduz para a mão para reencontrá-lo.

            Consta, pelo contrário, que o homem jamais chega a um conhecimento puro de si sem que, antes, contemple a face de Deus, e, dessa visão, desça para a inspeção de si mesmo. Assim é que, sendo a soberba inata a todos nós, sempre nos vemos como justos, íntegros, sábios e santos, salvo se, por argumentos evidentes, sejamos convencidos de nossa injustiça, imundície, estupidez e impureza. Contudo, não somos convencidos disso se voltarmos os olhos exclusivamente para nós mesmos e não também para Deus, que é a única regra da qual se deve exigir tal juízo. Deveras, porque somos todos propensos por natureza à hipocrisia, uma frágil aparência de justiça nos satisfaz plenamente, em vez da própria justiça. E, porque nada se mostra entre nós ou ao nosso redor que não seja manchado por alguma obscenidade, enquanto mantemos nossa mente dentro dos limites da impureza humana, o que é um pouco menos imundo agrada-nos como se fosse muito puro. Do mesmo modo, o olho para o qual nada se apresenta senão a cor negra, julga ser muito branco aquilo que, quanto à brancura, está todavia um tanto apagado ou não pouco encardido. E mais: pelos sentidos corporais, pode-se discernir, ainda mais adequadamente, o quanto nos equivocamos no julgamento das virtudes da alma. Pois, se, ao meio-dia, dirigimos a vista para a terra ou para o que está à nossa frente, parecemos providos de um olhar muito vigoroso e perspicaz; mas, quando erguemos a vista para o sol e o contemplamos com olhos atentos, aquela força, que era particularmente vigorosa na terra, logo é ofuscada e confundida por um brilho tamanho que somos obrigados a reconhecer que nossa acuidade na observação das coisas terrestres, quando voltadas para o sol, é mera estupidez. Assim também acontece na consideração dos nossos bens espirituais. Enquanto não olhamos para além da terra, estamos contentes com a nossa própria justiça, sabedoria e bela virtude, lisonjeamos a nós mesmos com doçura, e apenas não nos consideramos semideuses. Mas, se de uma vez, começarmos a elevar nosso pensamento em direção a Deus e a sopesar qual e quão exata é a perfeição de Sua justiça, sabedoria e virtude, à qual frequentemente devemos nos conformar, o que antes agradava sob o falso pretexto de justiça sujar-se-á de pronto como a mais alta injustiça, o que impunha maravilhosamente o título de sabedoria, recenderá a tolice extrema; o que levava à sua frente a face da virtude será acusado de miserabilíssima impotência, a tal ponto corresponde mal à pureza divina o que em nós é visto talvez como absolutamente perfeito".

quinta-feira, 6 de maio de 2010

JAMES CAMERON, O PREGADOR DE PANDORA



Já esperava que sites evangélicos iriam se propor a destrinchar o filme Avatar, em busca de conteúdo anticristão e/ou mensagens subliminares. Conforme o relato de alguns irmãos, minhas suspeitas se confirmaram.



Não visitei os referidos sites e, ao falar de James Cameron e Avatar, não pretendo seguir esta linha de raciocínio. Meus motivos?

1.      Não creio que o subliminar seja mais importante que o liminar;


2.       Devo esperar conteúdo cristão em obras produzidas por pessoas e instituição cristãs - sendo assim, é um contrasenso esperar que Avatar (e muitos outros filmes) seja um tratado teológico cristão. Podem haver conexões com a doutrina cristã (como de fato há), mas não tem o mesmo grau de intencionalidade que em um filme como A Virada, por exemplo.


Ainda assim, gostaria de comentar algumas coisas sobre o diretor de Avatar.


Jim Cameron tem no seu currículo alguns dos mais importantes filmes da história do cinema, assim considerados não apenas pela bilheteria ou o número de prêmios que obteve, mas principalmente pela maneia com que ajudaram a revolucionar o aspecto técnico do cinemama: foi assim com o Exterminador do Futuro (especialmente a parte 2, que apresentou efeitos especiais inéditos para a época), Titanic (quando lançado, o filme mais caro até então) e, agora, com Avatar, revolucionando a animação gráfica e o uso de 3D.


Este currículo de sucesso faz de Cameron uma das pessoas mais influentes e respeitadas no mundo do cinema.


Certamente seu prestígio pessoal é uma ferramenta capaz de promover automaticamente uma de suas produções.


Inclusive o documentário sobre uma suposta tumba de Jesus, do qual ele foi um de seus produtores.


Por que ele teria abraçado esta causa?


Creio que em Avatar esteja a resposta.


A perspectiva religiosa apresentada em Avatar nos mostra a subsistência da divindade na natureza (panenteísmo, ou seja, a idéia que a divindade subsiste em tudo - não confundir com panteísmo, a afirmação que a natureza é  a divindade), conduzindo ao reconhecimento da ligação vital entre todos os seres e o respeito a todas as formas de vida.

Tais conceitos não são novos, já encontravam-se na religião dos antigos índios norte-americanos.


Ou seja, James Cameron nos convida ao culto da divindade presente na diversidade da vida, promovendo ao mesmo tempo o humanismo, a tolerância e a vida em harmonia com o ambiente.

James Cameron está pregando e Avatar é o seu púlpito.

E, segundo o diretor, os Na´vi eram mais piedosos com sua fé que os imperialistas norte-americanos, que gritavam “Jesus” o tempo todo e ali estavam para matar.


Pena que ele não percebeu que os valores que ele defende são valores cristãos também.

(Com a vantagem de que o Deus da Bíblia, mesmo preservando e abençoando Sua criação, é transcendente a Ela).

Que o imperialismo que ele critica, muitas vezes apoiado pela igreja na História, não é uma legítima expressão da fé cristã.

Devo então deixar de assistir Avatar por causa disto?

De maneira nenhuma! Afinal de contas, o respeito à natureza, à vida e às diferentes etnias nunca será coisa do diabo.


Mas eu te convido a assistir com a alegria de saber que, antes que James Cameron pensasse e pregasse isto, a Palavra de Deus já havia apresentado os mesmos valores.

Com o imperativo de que, assim como James Cameron fez de Avatar seu púpito, devemos fazer de nossa vida o nosso, encarnando os valores do Evangelho de Cristo, mostrando que a valorização da vida não encontra sua expressão concreta apenas em homens azuis em 3D.