O programa “o Aprendiz”, originalmente apresentado por Roberto Justus, é um reality-show.
Seu desafio não se constitui em exibicionismo diante das câmaras, como no “Big Brother” ou passar penúria em algum paraíso tropical, como “No Limite”. Nem tampouco pagar micos rurais, como em “A Fazenda”. O objetivo é cumprir metas que comprovem a necessária competência para ocupar por um ano um cargo executivo dentro da empresa do apresentador.
Através de “O Aprendiz” o público brasileiro tem contato com o mundo corporativo.
E não percebe que está diante de um dos espetáculos mais cruéis da televisão brasileira.
“O Aprendiz” consegue mostrar o capitalismo contemporâneo em seu aspecto mais nefasto, onde os negócios estão acima de tudo. As cifras são o mais importante. Mesmo o requinte e o glamour do programa não conseguem disfarçar a selvageria deste sistema de coisas.
Competitividade é a palavra de ordem. Solidariedade e misericórdia, quer entre os participantes, ou entre o apresentador, futuro patrão e os futuros empregados, nem pensar. Legitima-se a deterioração das relações trabalhistas.
“Trabalho em equipe” é apenas um eufemismo para o fato de que e grupo é apenas um meio para atingir as metas. Há a equipe, mas não há o coletivismo, o humanitarismo.
Diante daqueles que podem decidir a continuidade ou não do candidato no programa, o senso crítico deve ser aposentado em total anuência. Assim, deve se aceitar ser taxado como incompetente.
A cobiça é estimulada através dos prêmios oferecidos pelo êxito nas tarefas, mostrando que é válido todo esforço e humilhação para pertencer ao mundo da elite. É claro que não se menciona, nem aos participantes, nem à massa de espectadores deslumbrados, o fato de que este estilo de vida custa caro, sendo sustentado pela peãozada que trabalha nas empresas desta mesma elite, composta por workaholics que mal podem desfrutá-lo.
Aliás, a premissa principal de “o Aprendiz” é que é muito ruim ser pobre. Ser peão. É o que justifica a audiência do programa, o que justifica o risco de ouvir um vergonhoso “é demitido” em cadeia nacional.
Quem é o vencedor? O melhor de todos. Quem é o melhor? O termo “melhor”, não é compreendido em termos éticos ou ontológicos, mas definido apenas em termos de resultados: o melhor é aquele que atinge as metas, que acerta as regras do jogo, que dança conforme a música – não importa que o jogo seja questionável e a música, desafinada: enfim, à luz do título do programa, aquele que “aprendeu” a lição.
E, assim, o melhor recebe como prêmio a oportunidade de trabalhar por um ano recebendo um bom salário.
Sem parar para pensar que um bom salário não é um prêmio, mas o direito justo de qualquer trabalhador.
É assim que funciona.
São aprendizes.
Mas, meu Deus, o que eles e os telespectadores brasileiros estão aprendendo?