Há pouco tempo tive a oportunidade de, zapeando pela televisão, assistir a alguns trechos (cerca de 40 minutos) do polêmico filme Jesus Cristo Superstar.
Não pretendo fazer uma análise completa do filme, pois não seria justo – afinal, não o assisti inteiro, desde o começo. A impressão que tive é que a perplexidade diante do enigma de Cristo dá e da exigência de fé para compreendê-lo dá o tom da obra.
Uma das muitas polêmicas foi a escalação de um ator negro (Carl Anderson) para interpretar Judas. Isto levou automaticamente o filme a ser tachado de racista.
Preocupo-me com tais atitudes.
Principalmente porque não levam em conta um aspecto bem singelo: a fantástica interpretação de Carl Anderson no papel de Judas Iscariotes, traduzindo toda a fúria do personagem.
Será que outro ator faria melhor?
Ou seja, aqueles que acusaram o filme de racista aparentemente não conseguiram ver um grande ator encenando um papel altamente dramático, mas apenas um negro.
Polêmica semelhante aconteceu durante o lançamento do game Resident Evil 5. Como a história se passa na África, os zumbis são negros. Isto rendeu diversas acusações de racismo à produtora do game.
Não quero negar a realidade do racismo (inclusive no Brasil), nem a dura realidade daqueles que, pela cor de sua pele trazem sobre si um legado histórico de exclusão, que vergonhosamente se perpetua até hoje.
Não nego os subprodutos sociais do racismo brasileiro: as piadas, a estranheza que muitos sentem diante de um negro ocupando altos cargos hierárquicos.
(Muita gente não acredita que minha esposa seja vice-diretora escolar)
Mas temo que, ao combater o racismo, desumanizemos o povo negro a tal ponto que não vejamos mais o humano, mas apenas uma etnia, com lugares definidos de forma politicamente correta.
Um diretor de teatro não se arriscará a convidar Milton Gonçalves para viver um grande vilão épico. Poderá ser o fim de sua carreira. A arte perde, e todos nós perdemos.
O debate acerca do racismo e o desenvolvimento de ações para combatê-lo tornam-se menos eficazes pela falta de agudeza gerada por uma postura errônea diante do tema.
E assim, em nome do politicamente correto, se cumpre de forma inversa o sonho de Martin Luther King de que os homens serão julgados por seu caráter, e não pela cor de sua pele – tanto na vida, como na ficção.
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PS: Há quem diga que Matrix, o Código da Vinci e Eu, eu mesmo e Irene também apresentam preconceitos contra os albinos...
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