sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

UMA LEITURA TEOLÓGICA DE “A NOVIÇA REBELDE”


Em casa, de férias, estou tendo a oportunidade de ver e rever a alguns filmes. Foi em uma dessas noites que decidi assistir novamente o longa A Noviça Rebelde.

Previa me deleitar tranquilamente com a bela fotografia do filme, com a música encantadora e com a história singela (a própria Julie Andrews, na introdução do DVD que adquiri, acredita que uma das razões que expliquem o sucesso do filme seja a decência dos valores que promove) quando percebi que na própria trama do filme havia um fato bastante incômodo e perturbador.

O filme, basicamente, conta a história de Maria, uma noviça que é enviada para trabalhar como governanta à casa da família Von Trapp, comandada com mão de ferro pelo pai, amargurado pela morte da esposa e incapaz de se relacionar com seus sete filhos. Entre traquinagens das crianças, muita música e a ternura de Maria, ela consegue levar o patriarca a rever suas perspectivas de vida, re-humanizando seu lar e seu relacionamento com os filhos. Daí o título original em inglês, The Sound of Music, “O Som da Música”, pois, comovido, o capitão Von Trapp agradece a Maria por ter trazido de volta a música a seu lar e se casa com ela.

(Outro tema importante do filme é a oposição da família à ascensão do nazismo na Áustria).

O que me perturbou imensamente foi o próprio fato que desencadeia toda a história do filme: Maria é mandada à casa da família Von Trapp porque não servia para o convento, por ser alegre demais!

Uma das primeiras canções do filme, que mostra as religiosas debatendo sobre o perfil de Maria, leva-as a indagar: “O que faremos com o problema que é Maria?"

Geralmente as pessoas adotam uma postura de preconceito contra o cristianismo, por considerem-no oposto à alegria. Lamentavelmente este preconceito tem precedentes históricos que o alimentam: durante muito tempo, vários segmentos da Igreja agiram desta forma, entendendo a alegria como um problema.

Eu mesmo, em meus primeiros contatos com a Igreja, fiquei surpreso ao descobrir que um crente podia dar risada!

Este conceito de religiosidade de “cara amarrada” nada tem a ver com a Palavra de Deus, que apresenta a alegria como um de seus mandamentos (Filipenses 4.4) e descreve o Evangelho como a alvissareira “Boa Notícia” de Deus aos homens.

Biblicamente falando, ser alegre é um mandamento de mesmo nível que não roubar ou assassinar.

Lamento que alguns cristãos tenham ofuscado o colorido da Palavra de Deus com a opacidade de seus conceitos e oro para que as pessoas consigam compreender o Evangelho, apesar das falhas históricas da Igreja.

Concluo esta reflexão com uma das duas observações que meu filho Rafael fez enquanto assistia ao filme comigo.

A primeira, que me deixou cheio de orgulho, foi quando ele percebeu que o título original, “The Sound of Music”, não batia com o título em português dado ao filme.

Já a segunda foi quando, em certa altura do filme, após ter observado a personagem Maria, ele perguntou:

“Pai, ela é rebelde”?

Não respondi diretamente. Ele tem apenas seis anos, não quero expor-lhe a um dilema deste tipo.

Mas gostaria de responder-lhe, se ele fosse mais velho e tivesse mais maturidade:

“Não, meu filho, ela não é rebelde.

Rebeldes são aqueles que tentam transformar o Evangelho de Jesus em uma religião sem alegria, contra a vontade dEle”!

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