quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

FELIZ ANO NOVO ELEITORAL - DE ALCKMIN A MCCAIN


Parece assunto batido, mas não é. Principalmente por estarmos em ano eleitoral.


Por isso vou falar da campanha à prefeitura municipal de 2004.


Naquela época, Geraldo Alckmin (PSDB) era o governador do estado e José Serra pleiteava a vaga de prefeito da capital paulista.


Na campanha, durante o horário eleitoral gratuito, Alckmin apareceu no programa de Serra, utilizando o seguinte argumento para angariar votos para o candidato de seu partido:


“O meu prefeito é o Serra. Eu vou trabalhar bem com ele, e não com outro”.


Ao dizer tais palavras, o senhor Geraldo Alckmin perdeu toda credibilidade para mim.


Seu discurso me enojou na época e até hoje fico indignado ao me recordar destas palavras.


Quer dizer que se perde de vista o interesse popular quando o prefeito não é do mesmo partido que o governador?


Quem governa para o povo não deve “trabalhar bem” com qualquer que seja a pessoa escolhida pelo próprio povo?


O povo não pode esperar que seus representantes eleitos cumpram seu dever e trabalhem juntos para promover o bem comum?


Devo entender como sabotagem a afirmação de que o governador só “trabalharia bem” com um candidato que também pertencesse ao PSDB?


A fala de Alckmin me indignou por refletir um dos piores traços de nossa política: o fisiologismo.


A palavra significa, literalmente, pensar sobre algo concreto, o que na política consiste em administrar tendo em vista vantagens partidárias ou pessoais. Ou seja, é a política do “toma lá, dá cá”.


Por causa do fisiologismo, projetos importantes para o desenvolvimento do país não saem do papel.


Por causa do fisiologismo, uma chapa barra o trabalho da chapa de grupos oriundos de partidos opositores.


Por causa do fisiologismo, nossos líderes não conseguem fazer a coisa certa, cassando e prendendo os políticos corruptos: com medo do desagrado de seus partidos de origem, que se oporiam gratuitamente a qualquer projeto governamental, faz-se “vista grossa” a tais casos.


Por causa do fisiologismo, a corrupção encontra mais condições de prosperar em nosso meio político: afinal se a política é movida em torno de interesses pessoais/partidários, deve-se achar meios de satisfazer estes interesses (geralmente, de forma financeira ou com a distribuição de cargos), sempre espoliando o povo.


E discursos como o de Geraldo Alckmin (“trabalho bem com quem é do meu partido”) só tendem a perpetuar este estado de coisas.


John McCain nos apresenta uma abordagem diferente:


Ao perder a eleição presidencial nos EUA para Barack Obama, o candidato republicano declarou, com elegância e senso de cidadania: “Antes, ele era meu rival. Agora ele é meu presidente”.


Que diferença em relação a nossos políticos!


A fala de McCain expressa a visão que a política e os políticos servem (aliás, só serve) para a promoção de um bem maior, e que o seu papel exige a renúncia de interesses e divergências pessoais para servir publicamente.


Não sei quando teremos políticos que se expressem e ajam com mais lucidez. Não sei quanto tempo levará para extirparmos a prática do fisiologismo na administração pública. Mas certamente as eleições de 2010 se nos apresentam como mais uma tentativa e, também, como uma abençoada oportunidade.


PS: Este post não é apolítico, mas é escrito de forma apartidária.

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