sexta-feira, 13 de março de 2009

ILHA DAS FLORES



Rever o documentário “ilha das Flores” em uma recente aula de Sociologia foi muito bom. À primeira vista, pode parecer que parece que estarei comentando assunto antigo neste post: afinal, o curta-metragem de Jorge Furtado foi realizado em 1989. Todavia, relevância não é um atributo apenas daquilo que é recente.



Ilha das Flores narra a “saga” de um tomate (isso mesmo!) que passa por diversas etapas desde seu cultivo, venda, revenda e descarte, quando chega ao lixão conhecido como “Ilha das Flores”, onde seres humanos têm permissão para ali procurarem alimento para sua sobrevivência – depois de o dono do aterro ter selecionado a lavagem dos porcos.



A fotografia, montagem e narração do filme são brilhantes, apresentando importantes conceitos políticos, econômicos, históricos e sociais, como a questão do trabalho e produção de cultura e riqueza, a produção de capital e lucro, as relações sociais predatórias que geram desigualdade e injustiça social.



Todavia, o filme apresenta também um conceito religioso.



Durante a abertura do filme, antes de qualquer imagem, escrito com letras garrafais aparece a frase: “DEUS NÃO EXISTE”.



Vejamos:



Segundo a filosofia, existem dois tipos de juízo: a priori (antes do exame de um objeto, fato ou conceito, ou seja, um raciocínio dedutivo) e a posteriori (após o exame dos mesmos, onde a conclusão é construída de maneira indutiva).



Nunca pude conversar com Jorge Furtado, mas talvez os meses de experiência em um ambiente degradante, onde seres humanos estão abaixo de porcos na cadeia alimentar tenham inspirado-o a uma expressão tão cética e indignada.



Todavia, ao colocar a frase no início do filme, o diretor a transforma em um pressuposto para a interpretação de todos os fatos subseqüentes: ou seja, o espectador é predisposto antes da projeção do filme a realizar um juízo apriorístico, considerando Deus e Ilha das Flores como realidades excludentes entre si.



“Se Deus existe, não existiria um lugar como Ilha das Flores”.



“Ilha das Flores existe. Logo, ou Deus não existe ou, se Ele existe, Ele não é bom – portanto, indigno de minha confiança”.



Ora, já foi dito que a fé é uma fuga, uma espécie de escapismo que as pessoas utilizam para negar os problemas da realidade.



Todavia, não foi Deus quem produziu um lugar como Ilha das Flores: foram os homens! Esta é uma realidade que o documentário, ironicamente, mostra de forma bem clara!



Negar a responsabilidade humana pela construção de sua realidade perversa e lançar a culpa sobre Deus – não seria este o verdadeiro escapismo? A verdadeira alienação? Comentei sobre isto em “Jesus e os descaminhos da história”.



Ilha das Flores não nega a realidade de Deus. Antes, confirma a realidade da queda e do pecado do homem, bem como sua necessidade de redenção..

Embora tenha feito esta ressalva, convido você a assistir este documentário. Como eu disse, é um filme brilhante. Assista. E mobilize-se.

Um comentário:

  1. Realmente,nos dias atuais, há uma busca constante em achar culpados ou reponsáveis pela calamidade social em que vivemos.
    Como dificilmente nos enxergamos reponsaveis, colocamos rapidamente Deus no banco dos réus. Verdade é que Deus quando criou o mundo e tudo o que nele há, não intentou de maneira nenhuma vivermos à margem da sociedade, enfermos, discriminados, solitários... Isso foi criação nossa e não d'Ele!!!
    E creia, Ele põe no lugar muitos de nossos desarranjos através de sua infinita misericórdia!

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