A declaração “Sigo a Jesus, e não doutrinas” tem se tornado cada vez mais popular no meio evangélico dentro e fora do Brasil. “Cristianismo é relacionamento com Cristo, e não com um conjunto de doutrinas”, reforçam seus defensores.
Não podemos negar que o cristianismo envolve uma experiência pessoal de relacionamento com Cristo: Ele mesmo se compara à videira verdadeira que traz vida a seus discípulos, que são como varas ligadas a Ele. Paulo fala de si mesmo como um homem em Cristo.
Todavia, embora o slogan “Sigo a Jesus, e não doutrinas” pareça propor o devido resgate da dinâmica místico-relacional do cristianismo, esta ideia representa um risco nocivo para a Igreja: uma proposta de espiritualidade cristã esvaziada de seu conteúdo doutrinário!
Pois que fundamento existe em opor a pessoa de Cristo ao ensino de Cristo?
Não é possível ter um relacionamento com Cristo sem levar em consideração o que Cristo ensinou!
Nosso objetivo neste é demonstrar a falta de fundamentação bíblica desta reinterpretação contemporânea e cada vez mais popular da fé cristã, alertando à Igreja quanto a seu perigo.
1. O QUE SÃO DOUTRINAS?
Doutrina (gr. didaskalia) significa ensinamento. A expressão "doutrina cristã" significa que os seguidores de Cristo possuem um conjunto de ensinamentos que lhes foi transmitido e que se comprometem a observá-los, como expressão de sua fé.
O slogan “Sigo a Jesus, e não doutrinas” parece sugerir que Jesus não transmitiu ensinamentos a seus discípulos!
Existem duas espécies de doutrinas: as que ensinam os conteúdos da fé (em quê os cristãos crêem) e as que ensinam a vivência da fé (como os cristãos devem viver). O cristianismo se preocupa tanto com a ortodoxia (crença correta) quanto com a ortopraxia (prática correta).
Veja dois exemplos:
- "Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem." (1Co 15.20 - ensino da ortodoxia)
- "Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor." (1Co 15.58 - ensino da ortopraxia)
As doutrinas também podem ser divididas entre si em mais dois grupos:
- Doutrinas fundamentais da fé cristã: pontos essenciais da mensagem cristã, claramente explicitados pelo ensino das Escrituras, cuja negação consiste em rompimento com a fé cristã ortodoxa. Exemplos:
- A inspiração e autoridade divina das Escrituras do Antigo e do Novo Testamento;
- A Trindade;
- A realidade do pecado e a necessidade de redenção do homem;
- A encarnação, morte salvadora e ressurreição de Jesus Cristo;
- A salvação pela graça mediante a fé;
- A Segunda Vinda de Cristo;
- A ressurreição;
- A vida eterna e o juízo eterno.
- Doutrinas secundárias da fé cristã: pontos da mensagem cristã que não são abordados de maneira direta no ensino das Escrituras, dando margem a interpretações variadas, sendo assim considerados não-essenciais. Negar uma determinada interpretação de uma doutrina secundária não constitui rompimento com a fé cristã ortodoxa, mas rompimento com uma determinada linha teológica. Exemplos:
- Formas diferentes de ministrar o batismo: aspersão, imersão, ablução;
- Formas diferentes de compreender a constituição do homem: corpo + alma, corpo + espírito, corpo + alma + espírito;
- Diferentes formas de compreender a ordem dos eventos finais.
Existem questões também que a Bíblia não fala de forma direta, havendo margem para debate e contextualização (questões de ordem litúrgica, por exemplo).
2. POR QUE ALGUNS SE OPÕEM A DOUTRINAS?
- Questões culturais: a mentalidade pós-moderna é avessa à ideia de definir, preferindo relativizar a verdade;
- Questões pessoais: pessoas que sofreram processo de doutrinação traumático, por parte de obreiros que não manejaram corretamente a Palavra de Deus (2Tm 2.15);
- Questões teológicas: aqueles que creem, de fato, que o aspecto doutrinário do cristianismo é inexistente ou secundário.
3. AFINAL, DOUTRINAS SÃO IMPORTANTES?
SIM!!
a. A fé está fundamentada na doutrina (1Co 15.3-11; Cl 1.23)
b. A ética depende da doutrina (Sl 119.1)
c. A igreja é chamada a preservar a doutrina (1Tm 3.15; 2Tm 2.2; Jd 3)
d. Não é possível evangelizar sem doutrina (Mt 28.18-20)
Você consegue imaginar as consequências de um "Cristianismo sem doutrina"?
Deus nos livre!
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