Este é um tema que sempre tem sido espinhoso para a Igreja.
Temos o exemplo de Marcião (c. 85-160 d.C.), bispo
de Sínope, que rejeitou o Antigo Testamento e adotou um cânon reduzido do Novo Testamento, eliminando todas suas "influências judaicas", incluindo apenas Lucas, Atos e as epístolas paulinas.
Mas temos também várias afirmações contemporâneas (e, infelizmente, muito comuns), oriundas de uma hermenêutica questionável:
- “O Deus do Antigo Testamento é um Deus de ira, o Deus do Novo Testamento é um Deus de amor”
- "A salvação ocorreu porque o Filho a obteve de um Pai rancoroso" (um pseudo pacto da graça!)
- “No Antigo Testamento a salvação é pelas obras, no Novo Testamento a salvação é pela graça”
·
Embora pareça que a dificuldade da igreja cristã ao lidar com o Antigo testamento apresente apenas elementos de negação, temos também o extremo oposto: a judaização da igreja, que descaracteriza totalmente a vida e a adoração sob a Nova Aliança.
Sem a devida compreensão da relação do Antigo Testamento com o Novo Testamento, nenhum dos dois será aproveitado da maneira certa!
Minha sugestão para compreender esta relação baseia-se em 2 pontos:
- Identifique o CONTEÚDO do Antigo Testamento (História, Leis e Promessa)
- História: O Antigo Testamento apresenta a do universo e da humanidade e a História dos atos de Deus, que leva à História do povo de Deus (HISTÓRIA DA SALVAÇÃO);
- Leis: as leis formavam a identidade civil e religiosa da comunidade da Aliança. Por esta razão, cada mandamento do Antigo Testamento é uma lei civil, ou uma lei cerimonial ou uma lei moral. Em virtude da Nova Aliança e da natureza transcultural da Igreja, a lei civil e cerimonial foram abolidas, sendo que a lei moral é mantida (Mt 22.36-40; Rm 13.9-10; Gl 5.14; Cl 2.16-17)*;
- Promessa: o Antigo Testamento não era um fim em si mesmo: o tema da mensagem dos profetas era o Messias e o vindouro Dia do Senhor ("Naquele Dia...). O Antigo Testamento dá testemunho de Cristo e nEle encontra seu cumprimento (Mt 5.17; Rm 10.4).
- Entenda que a relação entre as Duas Alianças é DIALÉTICA (possui elementos de continuidade e descontinuidade; contraste e semelhança):
- O Antigo Testamento é a promessa; o Novo Testamento é o cumprimento;
- O Antigo Testamento fala da infância da humanidade; o Novo Testamento fala do amadurecimento da humanidade;
- O Antigo Testamento está atrelado a tempos e espaços específicos; o Novo Testamento ultrapassa estes limites;
- O Antigo Testamento é o início; o Novo Testamento é a expansão;
- O Antigo Testamento é a semente; o Novo Testamento é a árvore.
P Sendo assim, o Antigo Testamento não deve ser desdenhado, pois fundamenta o Novo; mas o Novo Testamento apresenta os fatos vigentes acerca do relacionamento entre Deus e os homens, por isto ele possui predominância teológica.
* *A lei civil e cerimonial para nós hoje é como exemplo da retidão do caráter de Deus, apresenta princípios para conduta virtuosa ou possui função tipológica.
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