quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A INÚTIL FÉ


Debater religião é considerado algo inadequado nos dias atuais.

Em parte, isto ocorre não apenas pelo relativismo vigente que impõe a supremacia do “cada cabeça, uma sentença” (o que acaba tornando-se, ironicamente, em uma forma de absolutismo), mas pelo fato de que para muitas pessoas, a fé é algo inquestionável.

Nesta concepção, o exercício da fé torna uma pessoa isenta de ser indagada a respeito da validade de sua crença – o ato de crer justifica-se a si mesmo e a si mesmo se basta.

Logo, tudo o que importa é crer.

É a institucionalização dos versos de Herbert Viana: “A arte de viver da fé - Só não se sabe fé em quê”.

A contrapartida desta forma de pensar é a rejeição do debate religioso e o ostracismo para aqueles que questionam crenças.

O problema com esta concepção é que não é possível conceder tal autonomia ao ato de crer.

Não é a fé que valida a si mesma.

É objeto da fé que legitima o ato de crer.

Sem direcionar minha fé ao alvo certo, eu posso crer sinceramente... e viver sinceramente enganado.

Que resultados pode tal fé obter?

O ato de crer, dissociado de um objeto de fé que lhe conceda validade, é apenas credulidade.

Então, o segredo não está no ato de crer, mas em quê ou em quem creio.

È por isto que o convite do Evangelho não é para crer, simplesmente.

Mas é sempre um convite a crer em.

Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”. (João 5.24)

Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (João 6.35).

Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna” (João 6.47).

Para Jesus Cristo, a fé não é inquestionável, nem tampouco assunto de foro íntimo. 

Pelo contrário: porque a fé não pode existir de forma autônoma, e nem ser autojustificada, Jesus convoca pessoas a tornarem-nO o objeto de sua fé. .

E quando Jesus Cristo é o objeto da fé, este se torna o Senhor do ato de crer.

E na condição de Senhor do ato de crer, ele irá determinar como crer nEle – ou seja, o estilo de vida que a fé em Seu nome implicará.

Sim, pois não ignoro que existe também a credulidade voltada a Jesus Cristo – mas que, por ser insubmissa a Ele, é igualmente fútil e desqualificada.

E assim, sob (e somente) o senhorio de Cristo, a fé é qualificada (em ato, essência e vivência), podendo ser considerada o meio de vida do justo.

E agora podendo ser considerada um exercício útil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário