Debater religião é considerado algo inadequado nos dias atuais.
Em parte, isto ocorre não apenas pelo relativismo vigente que impõe a supremacia do “cada cabeça, uma sentença” (o que acaba tornando-se, ironicamente, em uma forma de absolutismo), mas pelo fato de que para muitas pessoas, a fé é algo inquestionável.
Nesta concepção, o exercício da fé torna uma pessoa isenta de ser indagada a respeito da validade de sua crença – o ato de crer justifica-se a si mesmo e a si mesmo se basta.
Logo, tudo o que importa é crer.
É a institucionalização dos versos de Herbert Viana: “A arte de viver da fé - Só não se sabe fé em quê”.
A contrapartida desta forma de pensar é a rejeição do debate religioso e o ostracismo para aqueles que questionam crenças.
O problema com esta concepção é que não é possível conceder tal autonomia ao ato de crer.
Não é a fé que valida a si mesma.
É objeto da fé que legitima o ato de crer.
Sem direcionar minha fé ao alvo certo, eu posso crer sinceramente... e viver sinceramente enganado.
Que resultados pode tal fé obter?
O ato de crer, dissociado de um objeto de fé que lhe conceda validade, é apenas credulidade.
Então, o segredo não está no ato de crer, mas em quê ou em quem creio.
È por isto que o convite do Evangelho não é para crer, simplesmente.
Mas é sempre um convite a crer em.
“Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”. (João 5.24)
“Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (João 6.35).
“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna” (João 6.47).
Para Jesus Cristo, a fé não é inquestionável, nem tampouco assunto de foro íntimo.
Pelo contrário: porque a fé não pode existir de forma autônoma, e nem ser autojustificada, Jesus convoca pessoas a tornarem-nO o objeto de sua fé. .
E quando Jesus Cristo é o objeto da fé, este se torna o Senhor do ato de crer.
E na condição de Senhor do ato de crer, ele irá determinar como crer nEle – ou seja, o estilo de vida que a fé em Seu nome implicará.
Sim, pois não ignoro que existe também a credulidade voltada a Jesus Cristo – mas que, por ser insubmissa a Ele, é igualmente fútil e desqualificada.
E assim, sob (e somente) o senhorio de Cristo, a fé é qualificada (em ato, essência e vivência), podendo ser considerada o meio de vida do justo.
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