Quinta-feira, no centro de São Paulo, fui abordado por um homem de meia idade que distribuía folhetos avisando que o mundo acabará no próximo dia 21 de maio.
Esta previsão, recebida de forma cética pela sociedade e pela Igreja, tem sido divulgada pela Family Radio, que se autointitula um “ministério cristão de radiodifusão baseado na Bíblia e sem nenhuma afiliação com igrejas”.
O folheto, intitulado “O FIM DO MUNDO ESTÁ PRÓXIMO! 21 DE MAIO DE 2011, DEUS VAI TRAZER O DIA DO JULGAMENTO” apresenta as bases para tal “profecia”: um paralelismo entre a história de Noé e 2.ª de Pedro 3.8, que afirma que “um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia”.
O ministério Family Radio considera que, pelo fato de o dilúvio ter começado sete dias após Noé e sua família terem entrado na arca (Gênesis 7.4-10), isto indicaria que o mundo existiria por 7000 anos antes do dia do juízo (considerando que o dilúvio ocorreu em 4990 a.C.).
O cálculo que eles fazem é o seguinte: 4990 (ano do dilúvio) + 2011 –1 (o “ano zero”, inexistente no calendário) = 7000!
(Particularmente, acho que não seria necessário subtrair o tal “ano zero”, pois em termos de tempo corrido, o resultado independe de sua iteração com o calendário; para mim o resultado certo seria 2010, mesmo – matemáticos, fiquem à vontade para dar sua opinião.)
Não quero nem discutir a inútil maluquice desta profecia, patente antes à simples palavra do Mestre de que ninguém pode prever o Dia do Juízo (Mateus 24. 36, 44).
O que mais me chamou a atenção foi a atitude e postura do homem que distribuía os folhetos.
Estava alegre, assobiando e saltitando enquanto distribuía os folhetos. Feliz pela iminência de se encontrar com Jesus em pouco mais de uma semana.
Após refletir, concluí que a postura daquele homem tem importantes lições para nós.
Sim, pois o fato de considerarmos descabida a hipótese de marcar uma data para a volta de Jesus nos coloca em um estado de iminência mais urgente que aquele homem, que aguarda a volta do Senhor no próximo sábado: ela pode ocorrer a qualquer momento!
E viver em iminência é viver em alegria, segundo as palavras de Paulo:
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1.ª aos Tessalonicenses, 4.13-18).
Ou seja, a promessa do retorno de Cristo se torna para mim uma fonte de esperança e alegria independemente do fato de eu saber a data - aliás, eu afirmo que é justamente o mistério da escatologia bíblica que gera forças para o viver e para a alegria, por levar a um estado de permanente iminência, que confere sentido e propósito a todos os dias (sejam eles quanto forem) que compuserem o intervalo para o encontro glorioso com o Senhor.
Sendo assim, aquele rapaz apresentou uma preciosa lição sobre o estado de espírito de que aguarda e anseia o retorno do Senhor, que deve ser levada muito mais a sério por nós, que de forma ortodoxa, evitamos profecias extrabíblicas, mas vivemos de forma heterodoxa, por tiramos a “bendita esperança” de nossos corações e mentes, tendo um viver cada vez mais secularizado. Uma lição preciosa e, teoricamente, desnecessária, se de forma mais consistente com nossa crença, nos alegrássemos por aguardar o Senhor todos os dias.
Jesus vem! Viva feliz na iminência do cumprimento desta promessa! E para se alegrar com a escatologia bíblica, você não precisa perder seu equilíbrio doutrinário, racional e devocional.