domingo, 10 de abril de 2011

UMA HISTÓRIA COMOVENTE - E UM TESTEMUNHO DA GRAÇA DE DEUS

Nesta semana cheia de tristezas causada pela tragédia no Rio de Janeiro, caiu em minhas mãos a comovente história de Howard Weinstein - uma história que desejo compartilhar com você agora, como testemunho da graça de Deus, fazendo com que não existam somente monstros no mundo.

"O canadense Howard Weinstein tem 60 anos e a empolgação de um adolescente de 12. Falastrão, transita entre o português, o inglês e o francês na mesma conversa, numa confusão quase incompreensível. Na semana passada, sua euforia tinha um motivo profissional. Sua empresa, Solar Ear, entrou no ranking das dez brasileiras mais inovadoras, feito pela revista americana Fast Company. Estava ao lado de companhias como Azul, AmBev e Petrobras. A Solar Ear é a única organização sem fins lucrativos na lista. Com poucos recursos, tem apenas 30 funcionários. E infraestrutura mínima. A despeito do tamanho, está conseguindo um feito nobre (e inédito): dar aos surdos mais pobres do planeta a capacidade de escutar – e estudar. “Minha missão é dar oportunidade de educação para as crianças”, diz.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 300 milhões de pessoas no mundo têm surdez total ou parcial. Mais de dois terços estão em países pobres, onde sobram doenças e faltam antibióticos. O ritmo de fabricação dos aparelhos não acompanha a demanda: são feitos apenas 8 milhões deles ao ano. Apenas 12% chegam aos países menos abastados, e os que chegam custam caro. No Brasil, podem variar de R$ 2 mil a R$ 15 mil. Sem contar o preço das pilhas: R$ 4 e duram só uma semana. “Existem quatro tipos de aparelho: de usar atrás da orelha, dentro da orelha, no canal do ouvido e de colocar na gaveta”, afirma Weinstein. “Alguns pacientes até recebem o aparelho do governo, mas não têm dinheiro para comprar bateria.”

O primeiro grande feito de Weinstein foi baixar o preço dos aparelhos. Seus equipamentos custam um sétimo do preço mais barato nessa classe de aparelho, em torno de R$ 300. O segundo salto está nos carregadores. Com a ajuda de engenheiros da Universidade de São Paulo (USP) e financiamento da Fundação Lemelson, uma organização filantrópica americana, e do Instituto Cefac, uma ONG voltada a ações na área de saúde e educação, Weinstein criou um equipamento de recarga solar. A engenhoca pode ser abastecida com a luz do sol ou energia elétrica da rede. Ele estima que, por ano, o mecanismo vai evitar o descarte de 200 milhões de baterias no meio ambiente. O usuário também economiza. Se usar pilhas convencionais, vai gastar R$ 210 ao ano. O kit da Solar Ear com baterias e carregador custa R$ 95 – e dura até três anos.

Há alguns anos, a filantropia passava longe dos planos de Weinstein. Dono de uma empresa de válvulas e torneiras, transformou seu negócio em algo tão lucrativo que o vendeu para uma grande companhia americana. Permaneceu como presidente. No começo dos anos 90, era um executivo de sucesso. Morava em um imóvel grande em Montreal, no Canadá. Tinha uma casa de campo com lago e pista de esqui no quintal. Era rico, mas diz que ainda buscava um sentido para a vida. Em uma noite de 1995, perdeu o chão. A filha Sarah, então com 10 anos, sofreu um aneurisma durante o sono e não acordou mais. Na semana seguinte, Weinstein foi demitido. Os chefes acharam que ele não conseguiria trabalhar depois do trauma. Tirou um ano de folga. Fez terapia. E abriu uma empresa de assentos sanitários eletrônicos. Faliu. “Eu sentia um vazio grande dentro de mim”, afirma. “Queria fazer algo para mudar a realidade.”

Em 2002, ele ouviu falar de um emprego para ajudar pessoas pobres na África. Sua tarefa seria criar uma empresa para fornecer próteses auditivas a preços acessíveis aos africanos parcialmente surdos. O salário era o equivalente a R$ 1.000. Weinstein aceitou o convite imediatamente. Precisava reconstruir sua história. Quando chegou a Botsuana, deparou com um escritório de sala única e praticamente vazia, no vilarejo de Otse, com 5 mil habitantes. Havia um par de cadeiras e nenhum funcionário. Certo dia, uma professora bateu em sua porta segurando uma criança africana surda pela mão. Teria dito ao recém-chegado que sua primeira missão ali era arrumar um aparelho auditivo para a menina. “Sabe qual era o nome dela?”, ele diz. “Era Sarah, o nome da minha filha.” Ele diz ter tomado a coincidência como um chamado. Meses depois, ao preencher um formulário para Sarah, descobriu que ela nasceu no mesmo dia que a filha que ele perdeu.

Weinstein partiu do zero e montou uma empresa na África em 2002. De lá para cá, já vendeu 15 mil aparelhos, 30 mil carregadores e 100 mil pilhas. Deficientes auditivos de mais de 30 países usam suas invenções. Há sete anos, ele veio ao Brasil pela primeira vez para falar sobre seu trabalho. Recém-separado, conheceu uma brasileira, se apaixonou... e decidiu casar e vir para cá, replicar o modelo africano. A versão brasileira da empresa africana abriu em 2009. Nenhuma de suas invenções foi patenteada. “Quero mais é que as empresas copiem”, diz. “O poder de distribuição seria muito maior do que jamais teremos.” Os funcionários da linha de montagem são surdos. “Como praticam linguagem de sinais, eles têm mais habilidades para manipular as peças pequenas”, diz Weinstein. Ele pretende dobrar o número de funcionários nos próximos meses.

Weinstein se emociona ao lembrar de pessoas que ajudou. Victória Gabriela Reis, de 10 anos, é uma delas. A menina nasceu com problemas de audição. Os médicos diziam que ela era surda. À medida que cresceu, passou a detectar alguns sons, como o barulho de um carro freando ou de panela caindo. A família não tinha dinheiro para comprar um aparelho. Victória ganhou um do governo, mas perdeu-o na escola. Ficou surda de novo durante três anos. No mês passado, a Solar Ear doou um equipamento. “Ela gritou, bateu palminhas e saiu de lá saltitando”, diz a mãe, Maria Gorett Silva dos Reis. “Está reconhecendo novos sons agora. Ela deu mais uns três passos à frente.”

Ao final de cada ano, Weinstein envia uma carta aos amigos e à família para falar do que tem feito. Em anos passados, ele contou seu encontro com o economista bengalês Muhammad Yunus, vencedor do Prêmio Nobel da Paz por criar o “banco dos pobres”. Escreveu sobre um prêmio que recebeu ao lado de Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos. Neste ano, ele deverá mencionar o prêmio de inovação. Mas gastará mais linhas falando das histórias de gente como Victória".

Fonte: Revista Época

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