Uma conversa ocasional em meu trabalho nesta semana me fez lembrar de meu querido amigo Rogério.
Nós nos conhecemos há cerca de doze anos, quando prestávamos serviços na rede Carrefour. Lá travamos amizade e freqüentemente discutíamos a fé cristã.
Dou muitas risadas, ao lembrar da inteligência incisiva de meu amigo e de seu sarcasmo bem-humorado, presentes mesmo nas conversas sobre temas complexos - e principalmente a maneira que ele os usava para rebater meu legalismo inconveniente de então.
Certa vez, pusemo-nos a debater sobre o consumo de bebidas alcoólicas pelo cristão. Como ele pertencia à Congregação Cristã do Brasil, tradicionalmente tolerante sobre o assunto, tinha uma postura mais flexível sobre o tema, considerando viável o beber "socialmente"; ao passo que eu, devido à minha tradição eclesiástica e por ser testemunha pessoal dos problemas causados pelo álcool, defendia total abstinência.
Foi quando ele se saiu com essa:
"Deus criou o homem de tal maneira que ele sinta naturalmente prazer quando inebriado".
Não lembro-me do que lhe disse na época – só que ficara ofendido com a maneira com que ele ligou o consumo de bebidas a Deus.
Parecia que Deus havia nos criado com defeito!
Hoje concordo parcialmente com ele.
Posso perceber que havia certo nível de verdade em suas palavras – pois agora entendo que Deus nos criou de forma tal que desejemos buscar a felicidade (e, segundo Pascal, toda nossa vida resume-se em passos para alcançar tal objetivo).
John Piper desenvolve a mesma temática em seu livro “Teologia da Alegria”.
Ou seja, realmente Deus nos criou sedentos (Eclesiastes 3.11). Temos sede por algo maior.
Segundo Agostinho, o ser humano erra por tentar utilizar (muitas vezes de forma idolátrica) meios secundários para atender a uma necessidade prioritária – diverte-se com sombras, falsos substitutos para Deus, e acaba por deixam de buscá-lo e satisfazer-se.
Então a questão não é simplesmente beber ou não beber. Mas: o que explica minha sede?
Por que essa compulsão pela busca da felicidade e prazer?
Apontar a origem de nossa sede também significa apontar o local onde ela termina: em Deus.
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PS: se alguém tiver notícias de um ex-funcionário da Reckitt-Colman e do instituto de pesquisas Nielsen chamado Rogério, que foi para Portugal tentar ganhar a vida, por favor, me avisem – para eu poder matar as saudades de meu amigo e colocarmos a conversa em dia.