sábado, 3 de fevereiro de 2018

ORTODOXIA NO MUSEU OU NO PÚLPITO?



Queermuseu foi um dos acontecimentos mais polêmicos do ano de 2017.

A exposição, apresentada no Santander Cultural, em Porto Alegre, tinha como proposta representar artisticamente a diversidade sexual (daí o uso de queer, "estranho" em inglês, um termo outrora usado pejorativamente para referir-se à sexualidade desviante e agora apropriado de forma positiva e auto-afirmativa pela comunidade LGBT). A opinião pública, porém, reagiu com indignação ao conteúdo pornográfico e blasfemo apresentado, além de repudiar a incitação à pedofilia e zoofilia contida nas obras, que foram contempladas por várias crianças.

É dever das autoridades verificar quaisquer violações à lei que tenham sido cometidas, (especialmente as que dizem respeito à inadequação de faixa etária do evento), ao mesmo tempo em que é preservado o direito à liberdade de expressão. Lamento o aspecto blasfemo da exposição como indivíduo de fé, mas não espero (nem desejo) a ação de um tribunal teocrático estatal.  
 
Há que se lembrar, no entanto, que vivemos em uma sociedade secularizada, relativista e hedonista. Isto é um sinal escatológico (Mt 24.12-13; 2Tm 3.11-5). Não causa espanto que uma exposição de arte seja influenciada por tais valores. Aliás, é de se esperar, visto que um museu não tem compromisso nenhum em representar a ortodoxia cristã.

Logo, é direito dos indivíduos sentirem-se ofendidos e expressarem seu descontentamento com a exposição (inclusive através de boicote à instituição, se assim entenderem que agiriam como mantenedores da exposição), mas não há cabimento em cobrar ortodoxia de uma instituição secular.

Os valores da fé devem ter representatividade na comunidade da fé.

Mais coerente que cobrar ortodoxia do museu é cobrar ortodoxia do púlpito. 

Mas, pelo jeito, a julgar por grande parte dos púlpitos brasileiros, muita gente exige ortodoxia do museu enquanto engole heterodoxia do púlpito...