Considero-me um cristão fundamentalista porque creio que o cristianismo possui princípios e crenças fundamentais, ou seja, cuja negação teria como conseqüência a adulteração do próprio cristianismo.
Como fundamentos da fé cristã posso mencionar a existência triúna (Pai, Filho e Espírito Santo) do Deus Onipotente, Onipresente, Onisciente e Onibenevolente, criador do universo e de toda a vida; Sua auto-revelação proposicional e histórica de através de Sua Palavra inspirada e inerrante; a pecaminosidade do gênero humano, fruto da Queda histórica dos progenitores da humanidade; a obra salvadora de Cristo (iniciada no tempo, consumada na eternidade), efetuada através da Encarnação (nascimento virginal), morte expiatória, ressurreição, ascensão, concessão do Espírito Santo aos que crêem, Ascenção e Segunda Vinda; a salvação pela graça mediante a fé; a realidade da Igreja como comunidade de pecadores redimidos em missão; a existência de seres espirituais hostis a Deus e à humanidade.
Historicamente, a expressão “fundamentalista” se deriva do início do século XX, onde teólogos da Igreja decidiram reafirmar os fundamentos da fé cristã em oposição ao avanço da teologia liberal/secularizada nas igrejas e seminários.
Em contrapartida, não me considero um cristão fundamentalista por não me identificar com o chamado movimento fundamentalista, desenvolvido posteriormente.
O movimento fundamentalista elenca algumas ênfases doutrinárias particulares (geralmente relacionadas a temas teológicos que permitem um leque de discussão/interpretação mais amplo) e as eleva ao mesmo nível dos fundamentos citados acima, recriminando os que não crêem da mesma forma.
Neste sentido, não sou fundamentalista por vários motivos:
Não sou fundamentalista porque discordo da teologia dispensacionalista.
Não sou fundamentalista porque creio na contemporaneidade de todos os dons espirituais.
Não sou fundamentalista porque não considero que a Bíblia Almeida na versão Revista e Corrigida Fiel (ou a Bíblia King James em inglês) seja a única tradução da Bíblia legítima.
Não sou fundamentalista porque consigo contemplar alguém entoando cânticos de louvor que firam meu gosto musical em particular e ainda assim considerá-lo meu irmão.
Não sou fundamentalista porque creio que, usando discernimento, posso aprender até com aqueles de quem discordo.
Não sou fundamentalista porque não creio que Deus se materializou em alguma ideologia política específica – de direita ou de esquerda.
Não sou fundamentalista porque discordo da práxis social desenvolvida pelas igrejas fundamentalistas (quando falo isto, penso na segregação produzida pelas igrejas dos Estados Unidos).
Não sou fundamentalista porque não creio que a verborragia raivosa dos manifestos fundamentalistas seja um instrumento eficaz de evangelização.
Não sou fundamentalista porque admito que não tenho todas as respostas a todos os mistérios da fé – sabendo que Deus, em sua sabedoria, optou por não nos revelar tudo, mas somente o que é fundamental. É com base nestes fundamentos que caminho na fé e discirno os membros da família de Cristo.
E, finalmente, não sou fundamentalista porque sei que não posso limitar o Corpo de Cristo à minha concepção particular do cristianismo – pois isto implicaria em considerar como irmão apenas aquele que é igual a mim.