domingo, 30 de janeiro de 2011

PENSE NISTO: UMA PALAVRA DE DIANA E MARIO CORSO

"Em relação ao futuro, o horizonte do presente sempre se mostra estreito, pois o futuro é potencial irrestrito, nele cabem todos os sonhos. Viver uma vida é ir vendo reduzir-se o prazo do futuro que nos é reservado, cada década transcorrida é surrupiada de um tempo no qual não estaremos mais aqui para aproveitar e testemunhar. Já o passado, pode muito bem ir sendo re-interpretado, as memórias podem ir se alinhando de forma diferente conforme a narrativa que se faz delas, isso é uma das tarefas centrais de uma análise. A única ressalva para essa liberdade de reescrever a própria história está em que os fatos em si, como doenças, suicídios, acidentes, abandonos, separações, falências, nascimentos, não podem ser suprimidos. Podemos silenciar, tentar esquecer, ignorar, mas eles continuarão existindo e produzindo efeitos. Se bem o futuro se encolhe com o tempo, o passado cresco proporcionalmente. O tempo, portanto, é a dimensão aonde vamos nos deparar com nossos maiores medos, esperanças e, especialmente, com nossa limitação".

Diana Lichtensein Corso e Mario Corso são psicanalistas, autores de Fadas no divã e A psicanálise na Terra do Nunca.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

MAIS QUE UM JOGO DE PALAVRAS


A professora Ligia Cadermatori escreveu que nós, ao tornarmos-nos adultos, perdemos facilmente o sentido estético e lúdico das palavras,limitando-nos apenas ao seu sentido instrumental.

Poetas, literatos e crianças ainda possuem este senso em si.

É com mestas palavras em mente que confesso que sempre me impressionei com a dedicatória que C. Y. Scofield (1843-1921) escreveu no prefácio de sua famosa Bíblia de Estudo:

"... dedicada ao serviço entre os homens deste Deus  Amoroso e Santo, cuja maravilhosa graça em Cristo Jesus ela procura exaltar".

Parece tolo escrever um artigo apenas sobre o teor poético empregado na redação de uma dedicatória, mas mais do que um jogo de palavras, as palavras de Scofield sempre me comoveram pelos sentimentos que elas envolvem:

"Aos homens deste Deus Amoroso e Santo":  não existe no mundo título mais honroso do que este: homem de Deus. E certamente as pessoas que o detêm (e não apenas o ostentam por fanfarronice) são verdadeiros "ornamentos da doutrina de Deus nosso Salvador" (Tito 2.10) e dignas de nossa mais sincera admiração - sentimento que Davi já havia expressado no Salmo 16.3 ("Quanto aos santos que estão na terra, eles são os ilustres nos quais está todo meu prazer") e Scofield aqui endossa. O mundo fica melhor com pessoas deste porte;não há nada mais belo que os efeitos da obra do evangelho na vida de um ser humano.

"... cuja graça maravilhosa em Cristo Jesus ela procura exaltar" - o cristianismo só é verdadeiramente compreendido e apreciado quando entendido como uma religião erigida sobre o amor imerecido de Deus - este é o seu ponto central e nevrálgico, mais admirável e escandaloso, que tanto nos livra do engano e do fardo do autosoterismo quanto nos ensina humildade para aceitar o próximo como fomos aceitos - desta verdade brota um sentido de missão e urgência para a nossa vida: a adoração agradecida, como expressou Charles Wesley (1707-1788), que desejou "ter mil línguas para entoar louvor" à graça divina.

Enfim, as palavras de Scofield continuarão a me impressionar pela singeleza com que revestiu coisas de imenso valor com profundos sentimentos. Que assim seja o meu coração. 

domingo, 16 de janeiro de 2011

SOBRE USOS, COSTUMES E OS TEMPOS ÁUREOS DA ASSEMBLEIA DE DEUS

Em 2011, a Assembleia de Deus, a maior igreja evangélica do país, completa 100 anos de existência.

Oriunda do pentecostalismo, movimento que buscava resgatar a vitalidade espiritual da igreja, conforme o modelo da Igreja Primitiva, relatado nas páginas do livro dos Atos dos Apóstolos, a denominação sofreu a influência, em sua pregação e ensino, deste movimento, assumindo características que contribuíram para forjar alma do crente assembleiano, como: o fervor devocional, o ministério dinamizado pelos dons do Espírito Santo, a abertura diante das intervenções divinas no cotidiano (sejam curas, milagres, visões ou outras atuações do Espírito Santo), a ênfase em missões e na Segunda Vinda de Cristo.

Qualquer assembleiano que se preze fica doente quando percebe que qualquer um destes elementos encontra-se em baixa em sua comunidade!

O fervor e dedicação das primeiras gerações de assembleianos foi recompensado: não apenas com o crescimento numérico da denominação, mas principalmente pelo avivamento contínuo experimentado pela mesma, traduzido em farta distribuição de dosn espirituais, curas, milagres, evangelismo impactante, dedicação ao Senhor.

Atualmente, a denominação enfrenta sérios problemas (assunto que tratarei em outro artigo), mas neste assunto desejo tratar de um tema que tem íntima relação com a alma assembleiana, chegando a ser problemático: usos e costumes e sua relação com avivamento espiritual.

Não são poucos os irmãos que consideram que os extraordinários resultados espirituais obtidos pela denominação em décadas passadas foi resuldado direto de sua austeridade em questões como vestimentas (proibição de calças para mulheres e bermudas para homens), estética (proibição de jóias, maquiagem, e cabelos curtos para as mulheres e barba para os homens), lazer (proibição da televisão, cinema, música, esportes) e etc. Na busca por santidade, toda a “vaidade” deveria ser vencida.

E estes irmãos crêem sinceramente que a denominação não experimenta o mesmo avivamento porque “relaxou” nestas questões.

Quando alguém tenta oferecer esclarecimento bíblico acerca destes assuntos (pois hoje sabe-se que muitos destes pontos “doutrinários” defendidos com unhas e dentes no passado eram fruto de interpretações errôneas de versículos da Bíblia e da cristalização de aspectos da cultuta do início do século XX), argumentam, céticos: “Quando a denominação seguia tais regras, ela era mais abençoada”.

Aí está uma questão realmente intrigante:

Se hoje sabemos que as antigas regras impostas à denominação não possuem respaldo bíblico, porque os seus maiores picos de avivamento ocorreram quando ela as seguia?

(É sempre é tentador para a alma assembleiana, que anseia fervorosamente por avivamento, ceder a tais argumentos e recrusceder aos tempos do legalismo.)

Arrisco-me a dar uma resposta:

Os antigos usos e costumes adotados pela denominação não dão testemunho de sua correção doutrinária, mas da resolução sincera daquela geração de cristãos em seguir, buscar e agradar ao seu Senhor - submetiam-se a tais regras porque as compreendiam como parte de seu compromisso cristão.
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Porque amavam ao Senhor, submetiam-se a tais coisas, muitas vezes renunciando mesmo ao seu senso de inquirição (sim, pois esta questão nunca foi ponto pacífico para a alma assembleiana: mesmo nos áureos tempos de “santidade” estrita, tais regras eram questionadas), calando-o por amor.

E ao escrever estas linhas não deixo de pensar no ancião que testificou como, quando novo convertido, raspou seus cabelos, em arrependimento contrito, pelo pecado de haver usado gel.

Sandice? Farisaísmo? Ou amor em demasia?

Sendo assim, o segredo não estava nos usos e costumes adotados, mas na devoção que estes usos e costumes traduziam.

O problema das comunidades que não vivenciam o cristianismo de forma dinâmica não é vaidade, libertinagem ou de intelectualização da fé, mas devoção.

Sendo assim, dentre os muitos desafios que cabe à Assembleia de Deus vencer neste segundo centenário de sua existência, ela deve tornar melhor compreendida entre sua membresia a mensagem de Paulo: Aquele, pois, que vos dá o Espírito e que opera maravilhas entre vós o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” (Gálatas 3.5), a fortalecendo a alma assembleiana de qualquer tendência de ceder ao legalismo, ensinando às novas gerações que Cristo pode ser desfrutado da mesma forma que outrora - não só com zelo, mas também com entendimento.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A LONGA DISTÂNCIA QUE SEPARA PROMETEU DE SATANÁS

O mito de Prometeu nos conta acerca de um titã que, compadecido da humanidade que criara, resolve conceder a ela o fogo, furtando-o dos deuses do Olimpo, que até então o reservavam apenas para si.

O castigo imposto pelos deuses por tal sacrilégio foi terrível: Prometeu seria acorrentado ao monte Cáucaso por 30000 anos e diariamente teria seu fígado devorado por uma ave de rapina e recomposto após o suplício, para sua repetição no dia seguinte.

Esta história atravessou as gerações e fez com que Prometeu fosse considerado o perfeito exemplo de um legítimo de filantropo, devido ao seu empenho em promover o bem-estar geral da humanidade.

Algumas pessoas tentam traçar um paralelo entre Prometeu e Satanás.

Apontam para o relato da tentação em Gênesis 3 e questionam: seria o argumento utilizado  por Satã ("Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal", Gênesis 3.5) uma prova de amizade para com a humanidade? Não estaria Satanás interessado em democratizar o acesso a um poder que a divindade restringia egoisticamente para Si mesma?

A idealização de Satanás como um símbolo libertário e emancipatório para o homem constitui-se na base de boa parte daquilo que tem se chamado "satanismo" hoje.

Ou seja, o diabo se tornou "cool".

É pena que aqueles que assim pensam não percebam a grande falha de seu raciocínio: é impossível traçar um paralelo entre Prometeu e Satanás porque o Deus contra o qual Satanás se rebelou não pode ser comparado às divindades lendárias do Olimpo.

Os deuses da mitologia grega são seres imorais e caprichosos em seu trato com a humanidade. Eu odiaria os deuses do Olimpo.

O Deus contra o qual Satanás se rebelou é santo e perfeito em seu caráter. Além de ser Todo-Sapiente, Todo-Presente e Todo-poderoso, é Todo-Amoroso.

O ato da tentação demonstra justamente a má-fé de Satanás para com os homens,  ao afastá-los de seu Bem Supremo - principalmente no que diz respeito a seu argumento utilizado, que foi mentiroso.
Ou alguém aí sente-se um deus?

E colhemos até hoje todos os prejuízos causados pela ação de Satanás contra a humanidade...

Belo filantropo...

Creio que o que leva alguém a fazer uma leitura “filantrópica” da pessoa de Satanás seja o velho preconceito que considera o Evangelho sinônimo de repressão – um argumento que cairia por terra se seus proponentes conhecessem o Evangelho e sua obra de libertação e emancipação humana!

Comprovam a veracidade do que estou dizendo qualquer pessoa que já teve uma experiência de transitar do Reino e obra das trevas para o Reino de Deus. 

Elas podem, sim, afirmar, onde foi que encontraram o verdadeiro Filantropo - que as amou e lhes fez bem - pois comprovaram a diferença!