Como é característico de um país que goza de liberdade religiosa, é fácil ter acesso à Bíblia no Brasil – e o mercado encontra-se saturado delas, em diferentes versões e encadernações, além da “Bíblias de Estudo”, que trazem recursos variados junto ao texto (em geral, mapas, tabelas, gráficos, e, principalmente, comentários dos textos bíblicos em rodapé, que expressam diferentes ênfases e matizes teológicas). Algumas delas são excelentes, outras aparentam ser apenas jogada de marketing.
Gostaria de falar da Bíblia que eu uso, a Bíblia Comparativa.
Por que estou recomendando esta Bíblia, que aparentemente não passa de uma "colagem" de duas versões (Almeida Revista e Corrigida e Nova Versão Internacional) lado a lado?
Porque traduzir a Bíblia não é tarefa fácil.
Engana-se aquele que pensa que basta fazer uma transposição direta palavra por palavra do idioma dos originais para a língua portuguesa – é impossível.
Para transmitir a fluência do texto bíblico original para o idioma traduzido se faz necessário que o tradutor leve em conta aspectos lingüísticos, vocabulares, históricos, gramaticais e contextuais.
Isto sem mencionar a questão textual (ou seja, o texto original adotado: as famílias de manuscritos se dividem em orientais e ocidentais), que na melhor das hipóteses, é especulativa – a expressão “tradução baseada nos melhores manuscritos originais” reflete simplesmente a opinião do tradutor sobre os manuscritos utilizados, já que não temos critérios totalmente objetivos para avaliá-los.
Para quem quiser se aprofundar um pouco mais sobre a história da Bíblia, recomendo os livros Introdução Bíblica: como Bíblia chegou até nós, de Norman Geisler e William Nix (ed. Vida) e Versões da Bíblia – porque tantas diferenças?, de Elizabeth Muriel Ekdahl (ed. Vida Nova).
Felizmente temos boas traduções no Brasil, mas todas elas têm pontos positivos e negativos.
Como já foi mencionado, a Bíblia Comparativa traz a versão Almeida Revista e Corrigida, a tradução mais utilizada (e amada) no Brasil (e, por consequencia, a mais conhecida, memorizada e utilizada publicamente na igreja) lado a lado com a nova Versão Internacional (uma tradução que se preocupa com a fluência do texto na língua contemporânea, mas evita parafraseá-lo).
Cada versão tem suas dificuldades: se, por um lado, a Almeida Revista e Corrigida é muito literalista em sua tradução (embora haja vários textos que eu discorde da escolha vocabular e gramatical), seu vocabulário e gramática arcaicos também fazem com que o leitor se confunda e não compreenda muitas de suas passagens. A maior vantagem da Nova Versão Internacional é que sua linguagem assegura melhor compreensão do texto (muitas vezes, até esclarecendo o que a Almeida quis dizer em algumas passagens), embora eu ache que algumas passagens apresentaram um certo excesso de liberdade em relação ao texto original, para tentar torná-lo mais fluente. Além disso, já vi exemplares com erros de impressão (erros de gráfica).
Mas a publicação desta Bíblia prestou um excelente serviço à comunidade falante de língua portuguesa. É justamente o contraste entre as duas versões que contribuem para uma leitura mais atenta e aprofundada do texto e a tornam uma ferramenta poderosa - por isto ela é minha Bíblia.
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PS: Não há nenhum interesse comercial por este post, nem estou recebendo nenhum subsídio financeiro da editora. Recomendo o produto apenas porque acho que se é bom para mim, será também para outros.