domingo, 28 de março de 2010

SEDE POR VIVER INEBRIADO


Uma conversa ocasional em meu trabalho nesta semana me fez lembrar de meu querido amigo Rogério.





Nós nos conhecemos há cerca de doze anos, quando prestávamos serviços na rede Carrefour. Lá travamos amizade e freqüentemente discutíamos a fé cristã.





Dou muitas risadas, ao lembrar da inteligência incisiva de meu amigo e de seu sarcasmo bem-humorado, presentes mesmo nas conversas sobre temas complexos - e principalmente a maneira que ele os usava para rebater meu legalismo inconveniente de então.





Certa vez, pusemo-nos a debater sobre o consumo de bebidas alcoólicas pelo cristão. Como ele pertencia à Congregação Cristã do Brasil, tradicionalmente tolerante sobre o assunto, tinha uma postura mais flexível sobre o tema, considerando viável o beber "socialmente"; ao passo que eu, devido à minha tradição eclesiástica e por ser testemunha pessoal dos problemas causados pelo álcool, defendia total abstinência.





Foi quando ele se saiu com essa:





"Deus criou o homem de tal maneira que ele sinta naturalmente prazer quando inebriado".





Não lembro-me do que lhe disse na época – só que ficara ofendido com a maneira com que ele ligou o consumo de bebidas a Deus.





Parecia que Deus havia nos criado com defeito!





Hoje concordo parcialmente com ele.





Posso perceber que havia certo nível de verdade em suas palavras – pois agora entendo que Deus nos criou de forma tal que desejemos buscar a felicidade (e, segundo Pascal, toda nossa vida resume-se em passos para alcançar tal objetivo).





John Piper desenvolve a mesma temática em seu livro “Teologia da Alegria”.




Ou seja, realmente Deus nos criou sedentos (Eclesiastes 3.11). Temos sede por algo maior.





Segundo Agostinho, o ser humano erra por tentar utilizar (muitas vezes de forma idolátrica) meios secundários para atender a uma necessidade prioritária – diverte-se com sombras, falsos substitutos para Deus, e acaba por deixam de buscá-lo e satisfazer-se.





Então a questão não é simplesmente beber ou não beber. Mas: o que explica minha sede?




Por que essa compulsão pela busca da felicidade e prazer?





Apontar a origem de nossa sede também significa apontar o local onde ela termina: em Deus.



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PS: se alguém tiver notícias de um ex-funcionário da Reckitt-Colman e do instituto de pesquisas Nielsen chamado Rogério, que foi para Portugal tentar ganhar a vida, por favor, me avisem – para eu poder matar as saudades de meu amigo e colocarmos a conversa em dia.

domingo, 14 de março de 2010

QUEM PRECISA DE FADAS?



Os contos de fadas remetem a tradições folclóricas muito antigas, a maior parte delas,com pano de fundo medieval.

São histórias de pobres homens e mulheres (órfãos, camponeses, em resumo, “zés-ninguém”) sem espaço na vida que conseguiam reverter o destino que a lógica os reservava e encontravam seu final feliz, inspirando e consolando assim aqueles que tinham de se contentar com a dura realidade de um mundo injusto.

A estrutura básica de um conto de fadas é a seguinte: apresentação do dilema do protagonista, surgimento de uma intervenção sobrenatural que o capacita a vencer seus infortúnios, sua felicidade sem fim e a punição dos maus.

Acho interessante que a maioria dos contos de fadas menciona o sobrenatural, mas não menciona Deus – principalmente se levarmos em conta que eles são oriundos de um período em que a visão de mundo da sociedade era teológica, ou seja, com Deus ocupando o centro do pensamento e da cultura.

Por quê?

Seria Deus insuficiente para reverter os infortúnios da vida?

Não pense você que quero fazer uma crítica áspera à fantasia humana como tal: nós temos a necessidade de transcender a realidade que sabemos imperfeita, e isto nos faz sonhar com encanto e beleza, realização e felicidade pessoal, heróis que triunfam e a vitória do bem sobre o mal. Tudo isto faz parte do anseio pela eternidade que está no coração de todo ser humano, colocado nele por Deus, que criou o homem à Sua imagem e semelhança assim o reclama para Si (Eclesiastes 3.11).

Apenas estou intrigado pelo fato de Deus não aparecer nos contos de fada medievais!

Quero apresentar apenas duas proposições, que podem fucionar como possíveis explicações para o fenômeno e também como dicas para apurarmos nossa reflexão:




  1. Uma cosmovisão teológica não garante necesariamente uma vida de fé e maturidade por parte dos indivíduos que compõem esta sociedade. Ou seja, a questão não é apenas falar de Deus, mas como Deus é compreendido: será que eu vejo a Deus como Alguém interessado em mim e em minha história pessoal (incluindo meus sofrimentos), tal como a Bíblia o apresenta ou O vejo como uma entidade fria e distante ao qual devo dirigir ritos periódicos? Se assim for, Deus não me significará esperança. Devemos compreender que Deus anseia participar de nossa história de vida, e que Ele considera relevantes nossos fracassos, sucessos, atitudes e valores.



  2. Nós somos imediatistas. E não gostamos que Deus não o seja. Por isso é mais agradável conceber um mundo em que o sobrenatural aja em nosso tempo, de acordo com nossa vontade – o que torna uma fada madrinha mais atraente que o próprio Deus. As fadas são uma forma de fantasiar sobre o sobrenatural. Queremos a solução de nossos problemas já. Devemos compreender que Deus anseia trazer-nos o livramento de nossos males, mas usando seus métodos, em seu tempo. Você é capaz de confiar em Deus e no sábio uso de seus métodos? Isto se chama .

    Não quero que você jogue fora seus livros de contos de fada, queime-os ou faça coisa parecida. Não é esta a intenção deste artigo. Podemos brincar, fantasiar e sonhar. 

    Mas faremos isto de forma saudável se jamais esquecermos que Deus é quem nos proporcionará um final feliz.

sábado, 6 de março de 2010

O QUE EU PENSO SOBRE OS ILLUMINATI?


Há algum tempo que eu vinha ouvindo muitos comentários sobre um DVD, um documentário sobre a sociedade secreta dos Illuminati e seus planos para o estabelecimento de uma nova ordem mundial.



Vou ser honesto: sabendo da paranóia americana por teorias da conspiração, o tal DVD já não me soava animador. Chegou o dia, porém, em que pude assisti-lo.



O que achei?



A principal conclusão que pude tirar após assisti-lo é: nada edificante.



E, ao afirmar isso, não o faço por apenas pela discordância do caráter altamente especulativo de alguns conceitos foram apresentados, ou pela maneira temerária que nomes e pessoas foram citados, nem por duvidar que possam existir organizações secretas que estejam jogando com a humanidade (não apenas sociedades satânicas, mas conglomerados políticos e empresariais), mas principalmente porque não creio que devamos nos focalizar tanto no inimigo (principalmente, como no presente caso, potencialmente hipotético) que nossa visão de Deus seja ofuscada.



Que diz o Salmo 2?



1 Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs?

2 Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo:

3 Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas.

4 Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles.

5 Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá.

6 Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião.

7 Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei.

8 Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão.

9 Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro.

10 Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra.

11 Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor.

12 Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se refugiam.



Ora, se o próprio Deus está rindo das pretensões dos seus inimigos, eu vou me estressar por causa dos Illuminati?



Devemos entender uma coisa: nenhuma força do mal, SEJA ELA QUAL FOR, opera além dos limites que o próprio Deus estabelece.



Deus está no controle de tudo!



Portanto, prepare-se realmente para os últimos dias: Jesus está voltando!



Mas prepare-se com fé, amor e vigilância. Mas sem neuras.



Maranata!

segunda-feira, 1 de março de 2010

WILLIAM COLGATE E OS DIZIMISTAS BRASILEIROS

A história de William Colgate, fundador da empresa que leva seu nome, tem sido muito utilizada como fonte de inspiração no meio evangélico, especialmente no que diz respeito à sua fidelidade e liberalidade: Desde que a Colgate não passava de uma pequena fábrica de sabão, William já havia se comprometido a ser um dizimista fiel. Com o passar do tempo e o bom andamento dos negócios, Colgate aumentou o percentual de sua contribuição: 20%, 30%, 40%... até chegar a destinar 90% de seus lucros para a obra do Senhor, de forma que, agora como bilionário proprietário de uma das maiores empresas do mundo, ficava com apenas 10% para si.

Tal relato pode suscitar (e muitas vezes suscita) a seguinte interpretação: “Se Colgate conseguiu construir todo este império sendo um dizimista ... o mesmo pode dar certo com qualquer faça o mesmo que ele”!?

Ou seja, tenta-se fazer da fé de William Colgate uma fórmula ou receita mágica para o sucesso.

Desejo propor uma pergunta:

E quanto aos outros milhares de dizimistas fiéis que não se tornaram donos de multinacionais?

Por que não se fala deles?

Será que se considera que eles não tiveram nenhuma recompensa por sua fidelidade?

Na teoria ética existe uma discussão acerca da finalidade da virtude (por que devemos praticar o bem?) que creio que pode nos ajudar: Fazemos aquilo que é correto pelo valor que a ação possui em si mesma (ética do dever ou deontológica) ou pelos bons resultados que ela pode proporcionar (ética do objetivo ou teleológica)?

Quem é dizimista o faz por solidariedade ao Reino de Deus ou pensa em alguma vantagem posterior?

A ética deontológica ensina que o bem intrínseco das ações é sua própria recompensa - aí está a recompensa de todos os milhões de dizimistas fiéis, que recebem parcos salários, tomam ônibus todos os dias e são a coluna que sustenta a igreja evangélica brasileira: o privilégio de auxiliar na expansão do Reino de Deus com seus recursos financeiros.

Lamento por aqueles que dizimam, inspirados ou não pela história de William Colgate, tentando transformar a contribuição numa espécie de fundo de investimento celestial e fazendo de Deus o seu gerente. Teriam uma atitude de maior honestidade cristã se aplicassem seu dinheiro em um fundo de investimento ou se comprassem ações.

Podem até ser mesmo da Colgate-Palmolive.