quinta-feira, 30 de julho de 2009

DEUS TEM ALGO A DIZER SOBRE A GRIPE A?


Eu tinha em mente escrever sobre outro assunto nesta semana. Mas fui impedido pela minha profunda convicção da contemporaneidade da mensagem bíblica: a Palavra de Deus possui respostas para todos os dilemas humanos, em todas as épocas. Sendo assim, senti-me no dever de fazer algumas breves considerações bíblicas sobre a pandemia de gripe A que tem preocupado a população. Concordo com a frase de Karl Barth, que afirmava que o pastor deve subir ao púlpito com a Bíblia em uma mão e o jornal em outra.


Em primeiro lugar, gostaria propor a superação de uma abordagem simplista que faz alarde escatológico com fatos deste tipo. Não é necessário torcer textos bíblicos para enxertar neles uma profecia sobre a gripe suína. É óbvio que a proliferação e o surgimento de novas doenças estão relacionadas com o final dos tempos e o juízo de Deus. Jesus afirmou isto (Lucas 21.11), exortando-nos a vigiar e manter-nos atentos quanto ao engano religioso e as ameaças à nossa integridade, testemunhando dEle com ousadia, sabendo discernir os sinais dos tempos (Mateus capítulo 24, Marcos 13 e Lucas 21). Não é preciso ir além do bom senso de Jesus e da Bíblia para interpretar os sinais dos tempos, desenvolvendo uma escatologia neurótica e extravagante.

O conceito dos “últimos dias” na Bíblia é abrangente, compreendendo o período entre a primeira e a segunda vida de Jesus, que correspondem às duas fases necessárias para a implantação universal do Reino de Deus: toda uma era que se encontra em contagem regressiva rumo ao fim, que chegará SEM AVISO (1João 2.18).

Sendo assim, a abordagem bíblica nos chama a olhar para os sinais dos tempos como convites à vigilância e à reafirmação de nossa esperança – ir além disso é tolice.

O que Jesus nos revelou como certo é que progressivamente a situação moral, social e espiritual da humanidade pioraria até Sua vinda.

Só Deus sabe o quão fundo a humanidade ainda chegará...

Antes de promover excentricidades escatológicas, sinais dos tempos, como a pandemia de gripe A têm a finalidade de promover reflexões, expondo verdades que o homem prefere ignorar:

1) O homem e a natureza estão em conflito. A entrada do pecado causou desordem no cosmos, tornando-o hostil ao homem e vice-versa. Findou-se a harmonia do Éden, estabelecendo-se uma relação predadora de ambos os lados. O universo precisa de redenção.

2) Momentos como estes expõem, como nunca, a fragilidade da espécie. Na verdade, mostram que a humanidade caminha rumo à extinção.

Os cientistas temem, para um futuro próximo, a ineficácia de medicamentos frente às mutações de vírus e bactérias que se adaptarão às armas que o homem usa contra eles.

Os recursos naturais da Terra em breve não serão suficientes para manter sua população.

A vida em nosso planeta depende da luz de uma estrela cuja vida útil está contada – ao contrário do que cantam os Titãs, vem o tempo em que não haverá sol.

E a humanidade é incapaz de lidar com o drama da morte.

3) Deus fala através da dor. E a mensagem que apresenta traz a promessa de se interpor na caminhada da humanidade rumo à destruição – Ele interferirá neste processo, e proverá um novo estado de redenção e bem-aventurança na consumação final de Seu Reino, através do qual é possível participar através da fé em Cristo Jesus.

Discirna os sinais dos tempos! Ouça a mensagem que Deus tem para sua vida e reafirme nEle sua esperança!

Semana que vem, ou antes, se Deus permitir, abordarei o tema que estava em minha mente para este post – também, se Deus assim o permitir.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

UM DOS MAIS IMPORTANTES DESAFIOS DA VIDA CRISTÃ


Boa parte das pessoas que rejeitam o Evangelho ou se afastam dele apresentam como motivo decepções causadas por algum cristão.

(Pessoas que estudam História e Ciências Humanas em geral apresentam a mesma resistência, chocados com os erros cometidos pela cristandade do passado e do presente).

Suas decepções com a igreja as levaram a se afastar de Deus.

Nada é tão prioritário para quem quer caminhar com Deus do que não confundi-Lo com a Igreja.

Aprender a diferenciar Deus do homem é fundamental para conhecê-Lo realmente – e não culpá-Lo indevidamente.

Deus NÃO É um inquisidor medieval.

Deus NÃO É sustentador do status quo.

Deus NÃO É promotor de alienação religiosa, política e cultural.

Deus NÃO É a favor da “guerra santa”.

Deus NÃO É o político que faz do nome de Jesus plataforma política.

Deus NÃO É o pastor pilantra que desvia dinheiro dos fiéis.

Deus NÃO É o profeta que te entregou uma profecia falsa que te iludiu (e, posteriormente, te desiludiu).

Deus NÃO É o cristão que te mostrou as costas quando deveria ter te oferecido o ombro.

Deus NÃO É o homem, em toda sua somatória de limitações.

Deus NÃO É TAMBÉM o cristão, em toda sua somatória de limitações!

Esta questão é tão séria e tão vital que posso afirmar, sem hesitação, que o homem ou a mulher que, na caminhada da fé, já superaram o teste de não confundir Deus com o homem, conseguiram dar um dos passos mais importantes rumo à MATURIDADE.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

VOCÊ QUER MUDAR O MUNDO?


Foi num dia desses, ao voltar da faculdade, que assisti na televisão, enquanto jantava, trechos da reprise do filme Escola de Rock.

Em meio às trapalhadas do professor de música que tentava fazer com que seus alunos formassem uma banda de rock, o personagem interpretado por Jack Black disse algo que me deixou pensativo por muitas semanas:

Um show de rock pode mudar o mundo! – disse ele, convicto.

Não foi o conteúdo em si da frase que me chamou a atenção, mas a paixão com que fora dita.

A paixão confere credibilidade àquilo que é feito, não havendo dúvidas acerca de sua relevância nem dos esforços e sacrifícios necessários.

Quem age com paixão realmente acredita que pode mudar o mundo.

A geração de 60, mesmo defendendo alguns ideais errôneos, acreditava no potencial transformador de suas ações, o que lhe conferiu uma postura ativista que merecia ser resgatada em nossos dias apáticos.

Antes de conhecer a Cristo, eu desejava ser ator e me dedicava em estudos e ensaios (mesmo sendo um canastrão), por crer que através do teatro eu poderia comunicar uma mensagem que realmente seria capaz de mudar o mundo.

A palavra “utopia” (do grego ‘ou, não; + topos, lugar) refere-se àquilo que ainda não tem lugar na realidade. Certamente, muitas das mudanças que desejamos ver no mundo realmente enquadram-se nesta categoria. Não quero afirmar que seremos capazes de concretizar as utopias (se assim fosse, Deus não necessitaria redimir o mundo).

Quero ressaltar a verdade que existe um não pequeno âmbito de influência sob nossa responsabilidade.
Trabalhando fervorosamente dentro dos limites do possível, descobriremos que muitas “impossibilidades” estavam apenas aguardando que alguém agisse – com sua arte, seu talento, seu dom – desde que apaixonadamente.

Sendo assim, um sermão pode mudar o mundo.

Uma canção pode mudar o mundo.

Um gesto solidário pode mudar o mundo.

Uma denúncia pode mudar o mundo.

Uma conversa pode mudar o mundo.

É possível trabalhar por uma pró-topia.

Que aqueles que receberam fazer obras semelhante e até maiores que a do Mestre não se contentem em buscar menos nesta vida.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

"INSTANTES", SEGUNDO SALOMÃO


Se eu pudesse novamente viver a minha vida,

na próxima trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito,

relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.

Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos higiênico. Correria mais riscos,

viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,

subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui,

tomaria mais sorvetes e menos lentilha,

teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata

e profundamente cada minuto de sua vida;

claro que tive momentos de alegria.

Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente de ter bons momentos.

Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos;

não percam o agora.

Eu era um daqueles que nunca ia

a parte alguma sem um termômetro,

uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e,

se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver,

começaria a andar descalço no começo da primavera

e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua,

contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,

se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo

O poema acima, atribuído a Jorge Luís Borges (tendo sido escrito, segundo alguns, pela americana Nadine Stair) apresenta uma importante lição sobre impedir que a vida seja desperdiçada.

Salomão, no livro de Eclesiastes, também apresenta o mesmo alerta, de maneira incisiva:


Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento. (Eclesiastes 12.1)

Segundo a tradição, Salomão escreveu Cântico dos Cânticos em sua juventude, Provérbios em sua meia-idade e Eclesiastes em sua velhice, desiludido com alguns rumos errados que tomara em sua vida – e aconselha as gerações mais jovens a que não cometam o mesmo erro.

Certas conseqüências acarretadas por nossas más escolhas e estilo de vida são irrecuperáveis. Ainda que o perdão de Deus nos alcance (trazendo a redenção do passado e novas perspectivas para o futuro), não é possível mais voltar o tempo.

Quando não resta muito futuro ainda a ser construído (... tenho 85 anos e estou morrendo) a situação se torna particularmente mais agustiosa, pois mesmo a bem-aventurança da vida eterna não possibilita fugir da constatação do fracasso da vida terrena.

Daí a urgência da exortação de Salomão e o caráter sagrado conferido à palavra ANTES – um apelo para a interrupção dos processos que geram a destruição da vida – antes que seja tarde demais.

Esta palavra será acolhida somente por aqueles que a apreenderem em toda sua urgência, compreendendo que Jorge Luís Borges (ou Nadine Stair) falaram verdades importantes e preciosas, que merecem ser lidas e refletidas, mas somente o sentido da vida descoberto por Salomão pode inspirar uma urgência tal que realmente impedirá que a vida seja desperdiçada.


A verdade de que viver com Deus é o único caminho que impede a vida de se tornar um desperdício.

domingo, 12 de julho de 2009

O QUE VOCÊ FARIA SE ESTE HOMEM FOSSE SEU PAI?


Já era de conhecimento do grande público mesmo antes da morte de Michael Jackson a violência física e psicológica a que fora submetido na infância pelo pai, ávido por ter em seus filhos uma fonte de lucro.

Também não é novidade nenhuma que grande parte das bizarrices cometidas pelo cantor eram uma forma de superar os traumas que carregava.

O único elemento novo que entra, nesta história, é o “luto” sorridente de Joe Jackson, exposto às câmeras do mundo inteiro, assim como seus novos planos empresariais após a morte do filho.

Como você se sentiria tendo um pai assim?

Como você viveria tendo um pai assim?

Todos nós, ao nascermos, encontramos fatores histórico-culturais pré-estabelecidos que influenciam a formação da pessoa que seremos neste mundo e a maneira que nele viveremos. Um destes fatores é a nossa família.

A questão é: todos temos diante de nós o desafio de superar as experiências ruins que recebemos em nosso processo de formação e darmos rumo próprio à nossa vida, a menos que aceitemos apenas ser um produto do meio. Somente transcendendo as circunstâncias históricas que herdamos poderemos assumir uma postura ativa diante de nossa vida, e não passiva.

Nem tudo aquilo que influencia tem o poder de determinar. A menos que lhe concedamos tal poder.

Ninguém pode aceitar (e conformar-se em) ser uma somatória de traumas.


Infelizmente, a vida de Michael Jackson foi vivida à sombra do pai.

É inevitável que passemos pela vida seqüelados. Contudo, cabe a nós determinar o espaço e a importância que estas feridas terão em nossas vidas.

Fraternalmente em Cristo, que a ter o privilégio de escolher a vida que viveria, escolheu as circunstâncias mais desfavoráveis (filho pobre de mãe solteira, em um período de totalitarismo, em uma comunidade que não o acolheria) e ainda assim, mostrou que é possível superá-las.

domingo, 5 de julho de 2009

SÚPLICA CEARENSE



Oh! Deus, perdoe este pobre coitado


Que de joelhos rezou um bocado


Pedindo pra chuva cair sem parar





Oh! Deus, será que o Senhor se zangou


E só por isso o sol se arretirou


Fazendo cair toda chuva que há





Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho


Pedi pra chover, mas chover de mansinho


Pra ver se nascia uma planta no chão





Meu Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,


Eu acho que a culpa foi


Desse pobre que nem sabe fazer oração





Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água


E ter-lhe pedido cheinho de mágoa


Pro sol inclemente se arretirar





Desculpe eu pedi a toda hora pra chegar o inverno


Desculpe eu pedir para acabar com o inferno


Que sempre queimou o meu Ceará

Esta canção, composta por “Gordurinha“ e Nelinho e interpretada por Luiz Gonzaga aborda o drama do nordestino flagelado pela seca. Mais que isso, porém, a música apresenta diversos conceitos sobre Deus (especialmente no que diz respeito á relação entre Deus e o sofrimento) que merecem nossa análise:

1. Deus é apresentado como um ser distante e que não se relaciona com os fatos desta vida, sendo para ele um incômodo ter de fazê-lo (por isso o autor diversas pede perdão por fazer-lhe uma petição) - ou, quando o faz, sempre age de maneira punitiva (Oh! Deus, será que o Senhor se zangou/E só por isso o sol se arretirou).

2. Não existe qualquer elemento de pessoalidade ou intimidade na maneira de buscar a Deus. O autor sequer manifesta a esperança de que seja atendido. A Súplica Cearense mais parece um pedido de aumento de salário a um patrão egoísta do que a apresentação de uma necessidade a um pai amoroso.

3. A causa da súplica não-atendida é sempre devido à inadequação do homem às exigências caprichosas de Deus, por não saber buscá-lo com a devida cerimônia ou por não dispor dos conhecimentos necessários para fazer da religiosidade um meio de extorsão para relacionar-se com Deus (Meu Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe/Eu acho que a culpa foi/Desse pobre que nem sabe fazer oração).

O sofrimento histórico do povo nordestino com a seca não deve ser subestimado nem minimizado.

É mais difícil, porém, superar o sofrimento quando temos um conceito errado sobre Deus. Aliás, isto de torna um sofrimento adicional – pois somente a verdade sobre Deus possui caráter libertador.

A Bíblia apresenta um Deus amoroso, misericordioso e compassivo, que se interessa pelos dramas da humanidade. Um Deus que acolhe as súplicas de quem O busca, a ponto de o autor aos Hebreus exortar: Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno (Hebreus 4.16).

Um Deus realista, que reconhece que este mundo não corresponde ao ideal de Sua mente, mas que em Cristo Jesus, já está operando a construção de um mundo novo: esta presente realidade (com todas suas mazelas, que sempre vale a pena lembrar, não fizeram parte da intenção original de Deus, mas são conseqüências da queda da espécie humana) não é a palavra final de Deus à História. E o caráter transitório desta era, dado como certo diante da promessa trazida pelo Evangelho, de novos céus e nova terra, é Sua resposta a todo aquele que “geme” diante das agruras da atual realidade (Romanos 8.19-23), constituindo-se em um convite à marcha, à peregrinação corajosa, dentro desta história, rumo ao futuro prometido por Deus.
Qualquer bênção ou livramento experimentados nesta realidade não são comparáveis à futura consumação plena da promessa de restauração de Deus, nem podem ser a base de nossa fé.
A promessa e revelação de Deus em Cristo é a resposta à Súplica Cearense.
O filósofo judeu Emmanuel Lévinas (1906-1995) perguntava-se, após os horrores da 2.ª Guerra Mundial: como falar de Deus depois do horror de Auschwitz?
O teólogo alemão Jürgen Moltmann (1926) apresenta um outro ponto de vista totalmente diferente: como não falar de Deus após Auschwitz?